Dia 27 entrou para a história da radiodifusão brasileira. O governo federal oficializou a TV 3.0 como novo padrão nacional, estabelecendo regras, prazos e diretrizes para a implementação da tecnologia. O ato consolida anos de estudos conduzidos pelo Fórum SBTVD e coloca o Brasil entre os países pioneiros na adoção de transmissões avançadas baseadas no modelo DTV+, que combina recursos do ATSC 3.0 com especificações próprias para o ecossistema local.
Do ponto de vista técnico, a TV 3.0 representa uma ruptura em relação ao sistema digital vigente. A nova geração incorpora transmissão em 4K com HDR, áudio imersivo, maior robustez de sinal e, sobretudo, integração nativa com internet. Isso significa que a televisão aberta passa a operar também como plataforma híbrida, com serviços interativos, publicidade segmentada e até distribuição de dados em larga escala, conhecida como datacasting.
Para o mercado, o decreto funciona como gatilho de investimentos. Emissoras terão de modernizar suas estações, fabricantes deverão lançar televisores e conversores compatíveis e operadoras de telecom já observam possibilidade de parcerias para distribuição de conteúdo e serviços híbridos. O setor publicitário, por sua vez, começa a enxergar um novo campo de atuação, com inventário endereçável e medição mais precisa de audiência.
A previsão do governo é que as transmissões comerciais em escala comecem em junho de 2026, mas já existem pilotos em São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais. Até lá, o desafio será coordenar o cronograma de adaptação da indústria e evitar que a atualização tecnológica aprofunde desigualdades de acesso, especialmente em famílias que dependem exclusivamente da TV aberta.
Tabela 1 — Cronologia e etapas da TV 3.0 no Brasil
Data |
Marco |
Detalhe |
2023 |
Conclusão dos estudos técnicos |
Fórum SBTVD define tecnologias candidatas |
2024 |
Testes de campo em grandes centros |
Avaliação de vídeo 4K, HDR e interatividade |
Início de 2025 |
Transmissões experimentais |
Emissoras realizam pilotos em capitais |
27/08/2025 |
Decreto presidencial |
TV 3.0 instituída como padrão oficial |
Junho/2026 (previsto) |
Início comercial |
Serviços em escala nacional |
Tabela 2 — Impactos no mercado e nos principais atores
Setor |
Oportunidades |
Desafios |
Emissoras de TV |
Publicidade segmentada, novos serviços |
Investimento pesado em infraestrutura |
Fabricantes de TV |
Demanda por aparelhos compatíveis |
Estoque antigo pode perder valor |
Operadoras de telecom |
Parcerias em serviços híbridos |
Coordenação técnica com emissoras |
Mercado publicitário |
Segmentação avançada de audiência |
Ajuste de métricas e privacidade |
Consumidores |
Melhor imagem, som e interatividade |
Custo de atualização de equipamentos |
Análise para o mercado
Para investidores e analistas, o impacto imediato será concentrado em capex das emissoras e fornecedores de infraestrutura, com reflexos em fabricantes de televisores e set-top boxes. O médio prazo abre espaço para novas fontes de receita, especialmente publicidade endereçável e serviços adicionais entregues pela plataforma. A equação, porém, não é isenta de riscos: a adesão do público pode ser mais lenta do que o esperado e a regulação sobre privacidade em publicidade segmentada será fator-chave.
O mercado financeiro brasileiro observa, portanto, uma oportunidade dupla: de um lado, acompanhar empresas que investirão pesadamente na transição; de outro, avaliar novos modelos de negócio que podem gerar diferenciais competitivos em um setor historicamente estável, mas que agora passa por uma transformação profunda.
* Com informações das fontes: Governo Federal, Fórum SBTVD, Agência Brasil, especialistas do setor audiovisual e relatórios técnicos de implementação da TV 3.0.