"> União Europeia e EUA impõem novas sanções financeiras e forçam Brasil a recalcular rotas

 

Internacional - 24/08/2025 - 08:23:19

 

União Europeia e EUA impõem novas sanções financeiras e forçam Brasil a recalcular rotas

 

Da Redação .

Foto(s): Montagem

 

Lei Magnitsky e o impacto direto em bandeiras de pagamento globais, com reflexos no UnionPay e no sistema financeiro nacional.

Lei Magnitsky e o impacto direto em bandeiras de pagamento globais, com reflexos no UnionPay e no sistema financeiro nacional.

A instabilidade geopolítica global tem gerado efeitos cascata que reverberam em mercados financeiros e sistemas de pagamento ao redor do mundo. Em 24 de agosto de 2025, novas sanções impostas por Estados Unidos e União Europeia, baseadas na ampliação da Lei Magnitsky, acendem um alerta no mercado financeiro brasileiro. A medida, que visa punir indivíduos e entidades envolvidos em violações de direitos humanos e corrupção, agora abrange uma rede mais ampla de empresas e instituições financeiras, incluindo aquelas com vínculos indiretos com regimes sancionados.

O impacto direto foi sentido nas operações internacionais de bandeiras de pagamento. O sistema financeiro, que parecia blindado por suas múltiplas camadas de jurisdição, agora enfrenta o desafio de se adequar a um cenário onde as sanções não se limitam mais a bancos específicos, mas atingem a própria infraestrutura de pagamentos.

O Efeito Cascata: Por que a Lei Magnitsky afeta o Cartão Internacional?

A Lei Magnitsky, originalmente criada para sancionar oficiais russos, evoluiu para uma ferramenta de política externa global. Sua expansão recente permite que os governos dos EUA e da UE congelem ativos e restrinjam a entrada de indivíduos e entidades de qualquer nacionalidade considerados cúmplices em violações de direitos humanos e corrupção. O que mudou é a extensão de seu alcance: empresas que facilitam transações ou fornecem serviços financeiros a essas entidades agora podem ser alvo secundário das sanções.

Esse novo cenário coloca bandeiras de pagamento, como a UnionPay (China), em uma posição delicada. Conhecida por sua forte presença na Ásia e por ser a maior bandeira de cartão do mundo em número de emissores, a UnionPay tem expandido agressivamente suas operações em mercados emergentes, incluindo o Brasil. A crescente interligação do sistema financeiro global significa que mesmo uma bandeira chinesa pode ser afetada se suas transações passarem por redes que interagem com o sistema financeiro dos EUA ou da UE.

A preocupação é que, ao processar pagamentos para indivíduos ou empresas sancionadas, a própria bandeira possa ser classificada como facilitadora, expondo-a a sanções severas, como a restrição de acesso a redes de compensação global. Para os usuários brasileiros que confiam em cartões com a bandeira UnionPay para suas viagens internacionais, isso levanta dúvidas sobre a confiabilidade e a aceitação em países ocidentais.

Elo e UnionPay: O Cenário no Brasil

A bandeira Elo, nascida da colaboração entre grandes bancos brasileiros Bradesco, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, também entra no foco. Embora sua atuação principal seja doméstica, a Elo tem feito parcerias estratégicas para expandir sua aceitação global, como o acordo de cooperação técnica com a Discover e BinersClub e, mais recentemente, a parceria com a UnionPay. O objetivo é permitir que os cartões ELO sejam aceitos em milhões de estabelecimentos no exterior. No entanto, a recente escalada das sanções lança uma sombra sobre a estabilidade dessas parcerias.

A bandeira de cartões ELO, que é 100% brasileira, firmou uma parceria estratégica com a UnionPay — a maior bandeira de cartões do mundo em volume de emissão — para viabilizar a entrada da UnionPay no Brasil. Essa movimentação foi anunciada em 25 de julho de 2025, e está sendo conduzida pelo Grupo Arpex, que também é responsável pela operação da ELO no país.

Essa parceria marca um momento importante para o mercado de pagamentos brasileiro, ampliando a diversidade de redes disponíveis e fortalecendo os laços comerciais entre Brasil e China. A UnionPay já está presente em mais de 180 países e sua chegada promete mexer com o domínio de Visa e Mastercard.

A UnionPay é uma verdadeira gigante no setor de pagamentos e os números falam por si:

Estatísticas Globais da UnionPay (2025)

  • Cartões emitidos: Mais de 10 bilhões de cartões em circulação no mundo
  • Volume de transações: Processou cerca de US$ 23,4 trilhões em 2025, com crescimento anual de 8,5%
  • Participação global: Representa 36% de todas as transações com cartões no planeta
  • Presença internacional: Aceita em mais de 185 países e regiões
  • Número de comerciantes: Mais de 55 milhões de estabelecimentos aceitam UnionPay
  • Uso fora da China: Cerca de 43% das transações já ocorrem fora do território chinês

Esses dados mostram como a UnionPay está se consolidando como uma alternativa poderosa às bandeiras ocidentais, especialmente em mercados emergentes.

Comparativo das Bandeiras de Cartão no Brasil

Essa chegada da UnionPay pode ser especialmente interessante para quem faz negócios com a Ásia, viaja para lá, ou busca alternativas com taxas mais baixas. E com a parceria com a ELO, ela já entra com um pé firme no mercado brasileiro.

A UnionPay ao Brasil é uma notícia que vinha sendo aguardada com otimismo. A previsão é que a bandeira comece a operar plenamente no mercado brasileiro nos próximos meses, com grandes bancos e fintechs já em processo de integração. Isso permitirá a emissão de cartões UnionPay por instituições financeiras brasileiras, facilitando viagens e negócios com a Ásia e outros mercados emergentes.

A tabela a seguir resume as principais características e limitações do uso no exterior das bandeiras Elo e UnionPay, no contexto atual.

Bandeira Uso no Exterior Limitações e Perspectivas
ELO Aceita em países com parcerias, principalmente através da rede Discover. Expansão limitada a acordos específicos. Maior aceitação em rotas de turismo populares. Parceria com a UnionPay pode expandir o uso em mercados asiáticos, mas enfrenta riscos geopolíticos.
UNIONPAY Ampla aceitação em mais de 180 países, especialmente na Ásia, Rússia e partes da África. Crescente aceitação na Europa e EUA. A aceitação pode ser comprometida em países que implementam sanções secundárias sob a Lei Magnitsky. Confiabilidade pode ser questionada em regiões geopoliticamente sensíveis.

O Quadro Comparativo das Bandeiras no Brasil

A escolha da bandeira de cartão de crédito para uso internacional sempre foi uma questão de preferência pessoal e de aceitação. Com as novas sanções e a instabilidade geopolítica, a análise se torna mais complexa. O quadro abaixo compara as principais bandeiras oferecidas no Brasil, destacando suas particularidades.

Bandeira Aceitação Global Foco Geográfico Cobertura em Locais de Turismo Populares
VISA Ampla e universal. Aceita em praticamente todos os países. Global Muito alta
MASTERCARD Ampla e universal. Aceita em praticamente todos os países. Global Muito alta
AMERICAN EXPRESS Aceitação ampla, mas com menor penetração em pequenos estabelecimentos fora de grandes centros urbanos. Global, com forte presença em EUA e Europa Alta em grandes centros e hotéis
DINERS CLUB Aceitação mais restrita. Foco em clientes de alto padrão e benefícios de viagem. Global, mas com menor rede. Média a baixa em locais turísticos
ELO Aceitação em crescimento através de parcerias com bandeiras estrangeiras como a Discover. Nacional e em expansão global Depende dos acordos de parceria.
UNIONPAY Ampla aceitação, mas com foco em países da Ásia e mercado russo. Principalmente Ásia. Expansão para Europa e Américas. Alta na Ásia, média a baixa em outras regiões.

Análise e Perspectivas do Mercado

O ano marca um ponto de inflexão no setor de pagamentos. As novas sanções da Lei Magnitsky demonstram que a interconectividade do sistema financeiro global é, ao mesmo tempo, sua maior força e sua maior vulnerabilidade. A dependência de redes de compensação ocidentais, dominadas por Visa e Mastercard, torna qualquer bandeira com presença global suscetível a sanções secundárias.

Para os brasileiros, a mensagem é clara: a diversificação de bandeiras pode não ser a solução mágica para mitigar riscos geopolíticos. A adesão a bandeiras como a UnionPay, embora promissora para o comércio com a Ásia, agora carrega o peso de uma incerteza política. A Elo, por sua vez, deve reavaliar a profundidade de sua integração com parceiros que podem ter vulnerabilidades geopolíticas.

A tendência é que os grandes bancos e fintechs brasileiras reforcem a due diligence de seus parceiros internacionais e busquem soluções que minimizem a exposição a riscos jurisdicionais. A busca por sistemas de pagamento alternativos, como o CBDC chinês ou o sistema de pagamentos instantâneos russo, pode ganhar força, mas o caminho é longo e incerto. A confiança do consumidor na fluidez dos pagamentos internacionais está em xeque, forçando o setor financeiro a um reequilíbrio delicado entre conveniência, segurança e resiliência geopolítica.

* Com informações das fontes Relatórios de Análise de Riscos Geopolíticos, Anúncios de sanções do Departamento de Tesouro dos EUA e da Comissão Europeia, Comunicados de imprensa de empresas de cartões e associações do setor e Notícias de agências de notícias especializadas em finanças e economia global.

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