O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou a onda recente de extremismo na política com o período de ascensão do Partido Nazista na Alemanha, na década de 1930 do século passado. Fotp Ricardo Stuckert/P
Em 21 de julho de 2025, em Santiago do Chile, na cúpula “Democracia Sempre”, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um alerta contundente sobre o crescimento do extremismo global. Ele comparou a recente onda de radicalização ao período da ascensão do Partido Nazista na Alemanha, nos anos 1930, destacando que a democracia está sob risco caso não haja respostas democráticas e inclusivas.
Segundo Lula, é fundamental respeitar diversidade ideológica, cultural e religiosa. A mensagem dele à imprensa foi clara: a legitimidade de um regime democrático não depende de sua orientação política — esquerda, centro ou direita —, mas da existência de diálogo, tolerância e instituições fortes.
O encontro contou com a presença de outros líderes progressistas, como Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Pedro Sánchez (Espanha) e Yamandú Orsi (Uruguai), que também defenderam valores democráticos frente ao avanço autoritário e à desinformação digital. Eles se comprometeram a intensificar a cooperação internacional em defesa dos direitos humanos e do multilateralismo, e a reduzir desigualdades sociais — vistas como terreno fértil para discursos de ódio e fragmentação social.
Democracia em cheque
Durante o evento no Palácio de La Moneda, Lula ressaltou que enfrentar o extremismo não se limita a eleições formais. Em muitos países, instituições vêm sendo corroídas por atitudes que lembram regimes totalitários. Ele reforçou a urgência de regulamentar as plataformas digitais e combater narrativas conspiratórias com transparência pública e educação política.
Petro e Sánchez também participaram intensamente. Petro destacou o uso sofisticado de algoritmos para manipular a opinião pública, enquanto Sánchez chamou para a construção de uma “internacional da verdade”, que combata proposições ultradireitistas com propostas concretas.
Compromissos firmados
Ao fim da cúpula, os participantes assinaram uma declaração conjunta que inclui:
- reforço de uma diplomacia democrática ativa e multilateral
- promoção de governança global mais inclusiva
- luta contra a desigualdade e o discurso de intolerância
- apoio a estruturas de participação social e reflexão acadêmica
O documento será levado à Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro e simboliza o esforço por soluções políticas, não autoritárias, para o grave cenário internacional atual.
Por que o tema é relevante agora?
- O avanço de políticas autoritárias e nacionalistas em diversas regiões impõe risco às instituições democráticas
- Plataformas digitais têm sido utilizadas para espalhar desinformação e discursos de ódio, ameaçando confiança pública
- O cenário econômico e social polarizado favorece o surgimento de narrativas intolerantes
- A democracia global exige respostas coordenadas, não isoladas
O que podemos aprender?
A mensagem é clara: a democracia é frágil e precisa de proteção constante. Se não for aperfeiçoada, pode se tornar uma fachada vazia, incapaz de representar efetivamente a pluralidade social. Resolver os desafios atuais exige mais democracia — participação ativa, diálogo aberto e instituições fortalecidas — não retrocessos autoritários.
A comparação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre o extremismo contemporâneo e a ascensão do nazismo nos anos 1930 é forte, simbólica e, sob certos aspectos, válida, mas exige cuidados históricos e conceituais para não ser mal interpretada.
O que torna a comparação válida:
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Processos de corrosão democrática semelhantes:
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Nos anos 1930, o Partido Nazista chegou ao poder por vias legais na Alemanha, explorando o descontentamento social, a crise econômica e a desinformação, elementos que também estão presentes hoje em muitos países democráticos.
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Hoje, líderes autoritários também utilizam instrumentos democráticos para minar a própria democracia, como ataques a instituições, censura indireta e deslegitimação de opositores.
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Discurso de ódio e exclusão:
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O nazismo foi marcado por um discurso de ódio contra minorias (judeus, comunistas, homossexuais etc.), algo que ressurge em setores extremistas contemporâneos, especialmente na forma de racismo, xenofobia, misoginia e homofobia.
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Uso de propaganda e desinformação:
O que exige cautela:
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O nazismo foi um regime genocida e militarizado:
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A Alemanha nazista promoveu o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial, com extermínio sistemático de milhões. Comparar qualquer movimento atual diretamente ao nazismo pode relativizar esses horrores.
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Nem todos os movimentos extremistas contemporâneos chegam a esse nível de violência institucional.
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Perigo da banalização:
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Diferença de contexto:
Conclusão:
A comparação não é incorreta, especialmente no que diz respeito à forma como o extremismo pode ascender dentro da democracia e corroer suas bases. Mas deve ser usada com rigor histórico e responsabilidade, para não banalizar o nazismo nem reduzir o debate político atual a analogias simplistas.
O alerta de Lula é pertinente: a democracia não é imune ao autoritarismo, e o passado oferece lições valiosas. No entanto, é essencial que lideranças políticas usem esse tipo de comparação para educar e conscientizar, e não apenas polarizar.
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Esquerda x Direita em 2025: o mundo dividido entre modelos políticos e regimes autoritários
Entenda como o mapa político global se desenha em 2025 entre democracias, autoritarismos, ditaduras e o avanço de agendas à esquerda e à direita.
Atualização: países-chave e seus regimes em 2025
País |
Regime Político |
Ideologia Predominante |
Observações |
Estados Unidos |
Democracia liberal |
Direita conservadora |
Governo de Donald Trump (Republicano), agenda conservadora e econômica pró-mercado |
Canadá |
Democracia parlamentarista |
Centro-esquerda moderada |
Governo de Justin Trudeau (Partido Liberal), foco em diversidade e meio ambiente |
Alemanha |
Democracia parlamentarista |
Centro-esquerda |
Coligação liderada pelo SPD com os Verdes, políticas sociais e ambientais |
França |
Democracia presidencialista |
Centro-direita (governo) |
Governo de Emmanuel Macron (Renascimento), terceira via com foco reformista |
Austrália |
Democracia parlamentarista |
Centro-esquerda |
Governo de Anthony Albanese (Trabalhista), com foco em clima e justiça social |
Rússia |
Autocracia Eleitoral / Autoritarismo |
Direita Nacionalista |
Governo de Vladimir Putin, repressão a opositores e imprensa controlada |
China |
Ditadura de Partido Único |
Esquerda autoritária |
Regime comunista sob Xi Jinping, com censura, vigilância e repressão política |
Coreia do Norte |
Ditadura Totalitária |
Extrema esquerda militarista |
Dinastia Kim, culto à personalidade, isolamento e opressão |
Irã |
Teocracia islâmica autoritária |
Direita religiosa |
Líder Supremo controla Judiciário e militares, repressão a mulheres e opositores |
Arábia Saudita |
Monarquia absolutista |
Direita conservadora |
Sem eleições livres, reformas econômicas limitadas e rígido controle moral |
Turquia |
Democracia autoritária (semihíbrida) |
Direita islâmica nacionalista |
Erdoğan concentra poderes e restringe liberdades civis |
Cuba |
Ditadura de partido único |
Esquerda comunista |
Ausência de liberdade partidária, economia centralizada, repressão política |
Venezuela |
Autoritarismo populista |
Esquerda bolivariana |
Crise institucional, controle eleitoral e perseguição a opositores |
Hungria |
Democracia iliberal |
Direita nacional-conservadora |
Viktor Orbán controla imprensa e Judiciário, nacionalismo e retórica anti-Europa |
Esquerda democrática ou populista em 2025
Presente em regimes democráticos e em governos autoritários, a esquerda busca agendas sociais, ambientais e redistributivas. Em 2025, permanece forte na América Latina e Europa.
Exemplos de países com governos de esquerda:
- Brasil (Lula – PT)
- México (Claudia Sheinbaum – Morena)
- Chile (Gabriel Boric – Frente Ampla)
- Colômbia (Gustavo Petro – Pacto Histórico)
- Alemanha (coalizão SPD-Verdes)
- Canadá (Trudeau – Partido Liberal)
- Austrália (Trabalhistas)
Direita conservadora, liberal ou populista
A direita governa parte importante do mundo, com modelos que vão da democracia liberal ao populismo autoritário. Em 2025, cresce o foco em nacionalismo, segurança e economia de mercado.
Exemplos de países com governos de direita:
- Estados Unidos (Donald Trump – Republicanos)
- Itália (Giorgia Meloni – Fratelli d’Italia)
- Israel (Benjamin Netanyahu – Likud)
- Hungria (Viktor Orbán – Fidesz)
- Reino Unido (Oposição conservadora ativa)
- França (Macron – centro-direita reformista)
Regimes autoritários e ditatoriais em 2025
A democracia está sob ameaça em várias regiões. Enquanto alguns regimes são híbridos, outros operam como ditaduras completas:
Tipo de regime |
Países principais |
Democracias plenas |
Canadá, Alemanha, França, Austrália, Japão, Noruega |
Democracias frágeis |
Brasil, México, África do Sul, Índia, EUA (em disputa) |
Regimes autoritários |
Rússia, Irã, Turquia, Arábia Saudita, Venezuela |
Ditaduras absolutas |
China, Coreia do Norte, Cuba |
Comparação geral por temas
Tema |
Esquerda Democrática/Populista |
Direita Democrática/Populista |
Economia |
Intervenção estatal, redistribuição |
Livre mercado, desregulamentação |
Direitos civis |
Ampliação de direitos, minorias |
Ênfase em valores tradicionais |
Meio ambiente |
Políticas ambientais rigorosas |
Crescimento com menos regulação |
Imigração |
Abertura, integração |
Controle, restrições |
Política externa |
Cooperação multilateral |
Soberania nacional |
Comunicação |
Mídia pluralista |
Pressão ou controle sobre imprensa |
Conclusão
O mundo de 2025 está polarizado entre democracias fortes, governos populistas e regimes autoritários. A luta não é apenas entre esquerda e direita — mas entre liberdade e controle, pluralismo e repressão. Países como EUA, China e Rússia moldam essa divisão, com impactos que vão além das fronteiras nacionais.
* Com informações das fontes:
- Freedom House Report 2025
- Economist Intelligence Unit – Democracy Index 2024
- Human Rights Watch, Anistia Internacional
- Reuters, BBC, DW, Le Monde, El País
- The Washington Post, New York Times, The Guardian
- Dados oficiais de partidos e governos nacionais
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* Com informações das fontes: O TEMPO (AFP), Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), El País, Poder360, O Globo e CNN Brasil.
* Vicente Barone é analista político, editor chefe do Grupo @HORA de Comunicação, esteve à frente de diversas campanhas eleitorais como consultor político e de marketing, foi executivo de marketing em empresas nacionais e multinacionais, palestrante nacional e internacional para temas de marketing social, cultural, esportivo e de trasnporte coletivo, além de ministrar aulas como professor na área para 3º e 4º graus - www.barone.adm.br
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