A Embraer, terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, está considerando transferir a linha de montagem do cargueiro militar KC-390 de Gavião Peixoto (SP) para os Estados Unidos. A informação, ainda não oficializada pela empresa, circula nos bastidores da indústria aeronáutica e já acende alertas sobre os possíveis impactos econômicos, diplomáticos e industriais de uma decisão dessa magnitude.
Especialistas apontam que a medida pode estar associada à tentativa de fortalecer a posição da Embraer em contratos internacionais, especialmente junto às Forças Armadas dos Estados Unidos e da OTAN. O KC-390 já foi adquirido por países como Portugal, Hungria e Países Baixos, mas a presença de produção em solo americano pode ser decisiva para ampliar a penetração em mercados estratégicos, onde questões geopolíticas e exigências de conteúdo local frequentemente pesam mais do que o desempenho técnico.
Na Bolsa de Valores brasileira, a notícia não passou despercebida. As ações da Embraer (EMBR3) operaram em alta nos últimos pregões, impulsionadas por expectativas de expansão comercial. Investidores enxergam na possível mudança um passo rumo à internacionalização mais robusta da companhia, o que pode aumentar receitas em dólar e mitigar riscos cambiais. Por outro lado, analistas mais cautelosos alertam que o movimento pode prejudicar a imagem da empresa no Brasil e afetar a confiança de setores que contam com o desenvolvimento tecnológico nacional.
A possível saída da produção do KC-390 do país também levanta preocupações trabalhistas. A unidade de Gavião Peixoto emprega milhares de profissionais altamente qualificados, em um polo que concentra tecnologia de ponta e formação técnica avançada. Sindicatos já sinalizaram mobilização para evitar o esvaziamento da planta. Segundo fontes ligadas à indústria, caso a mudança seja concretizada, parte da operação poderia ser mantida no Brasil, mas com funções menos estratégicas.
No campo diplomático, a transferência pode gerar ruídos. O governo brasileiro, que historicamente participa do desenvolvimento de projetos militares da Embraer, ainda não se manifestou oficialmente. No entanto, há expectativa de que o tema entre na pauta do Ministério da Defesa e do Itamaraty, especialmente por envolver soberania industrial e transferência de capacidades sensíveis para um país estrangeiro.
Internacionalmente, a mudança pode ser lida como um realinhamento estratégico da Embraer, aproximando-se ainda mais dos Estados Unidos após o fracassado acordo com a Boeing em 2020. Além de reforçar a presença no maior mercado mundial de defesa, a empresa poderia se beneficiar de incentivos fiscais, contratos federais e cadeias produtivas mais integradas com o complexo militar norte-americano.
Para o Brasil, resta a equação entre ganhos de escala global e perdas locais. A possível mudança será mais do que uma decisão empresarial: poderá se tornar um símbolo das escolhas nacionais entre globalização e desenvolvimento industrial interno.
Aqui está a evolução da ação EMBR3 (Embraer ON) nos últimos cinco pregões na B3:
Data |
Fechamento (R$) |
Variação Diária |
4 de agosto de 2025 |
79,05 |
−2,00 % |
31 de julho de 2025 |
80,66 |
+5,78 % |
30 de julho de 2025 |
76,25 |
+10,93 % |
29 de julho de 2025 |
68,74 |
+3,76 % |
28 de julho de 2025 |
66,25 |
+0,06 % |
Esses dados foram obtidos do histórico diário de cotações da Embraer na Investing.com e confirmados pelo InfoMoney e outros provedores.
* Com informações das fontes: Valor Econômico, Reuters, Embraer, Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, B3, Ministério da Defesa, Investing.com e InfoMoney, Instituto Brasileiro de Defesa e Estudos Estratégicos (IBDEE).