Por enquanto qualquer crítica ao governo Lula, pelo seu pouco tempo de instalação, é injusta e descabida. Salvo, é claro, as críticas pontuais sobre algumas trapalhadas, próprias de um governo que se inicia e de um agrupamento político sem nenhuma experiência de administração de âmbito nacional. Mas logo o tempo não poderá ser mais um excludente de culpas e nem poderá ser um tegumento protetor que funcione como salvaguarda de avaliações críticas ao governo.
O que já está claro é que, dentro e fora do governo, e principalmente dentro do PT doutrinário, aumenta a frustração com ausência de políticas alternativas. Até o dia da posse, as propostas e a pregação do PT apontavam para outro cenário econômico e para uma nova e mais saudável dinâmica política. E surgem duas hipóteses para a imobilidade do governo: 1) os quadros do PT na verdade nunca tiveram um modelo alternativo viável e consistente e tudo não passava de uma algaravia pseudo-ideológica eleitoreira ou 2) a globalização gerou um modelo único e inarredável que não permite nenhuma outra alternativa que não seja o formato econômico vigente. Ruim com ele, mas fora dele seria o caos. O resto são apenas sonhos de verão.
O fato é que o governo Lula ainda não apresentou um projeto objetivo e claro de longo prazo para a nação. O que se vê é a prática dos mesmos vícios políticos que emasculam o Brasil há tantas décadas e contra os quais o PT verberou com raivosa acidez por tanto tempo.
O Congresso Nacional continua sendo um balcão de barganhas e de transações viabilizadas pelo velho e conhecido esquema do facilitário do toma lá dá cá. A impressão que fica é que não houve transição de governo e que dificilmente ele ocorrerá. Pior: a política de arrocho fiscal e monetário pela qual o governo FHC foi tão duramente vergastado continua a mesma, com a agravante, porém, de que a atual não está nem sequer tendo o mesmo êxito que teve o tucanato na contenção da crise inflacionária.
Já o jogo da sedução que o governo ensaia com o PMDB tem sido uma edição revista e piorada das clássicas artimanhas clientelísticas das quais se imaginava o País já pudesse estar livre. Ledo e vergonhoso engano. Com a recessão podendo ser vista logo ali na esquina, o governo tenta se sustentar no programa Fome Zero e do qual não consegue expungir os laivos populistas e demagógicos. Tornou-se mais uma peça publicitária dos marqueteiros planaltinos que sabem como ninguém que toda peça publicitária, sobretudo as oficiais, tem tempo certo de duração.
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