"> Sanae Takaichi rompe barreiras e leva o Japão à direita: conservadorismo sob nova liderança desafia relação com os EUA e China

 

Internacional - 21/10/2025 - 07:15:30

 

Sanae Takaichi rompe barreiras e leva o Japão à direita: conservadorismo sob nova liderança desafia relação com os EUA e China

 

Da Redação .

Foto(s): Divulgação / Heute

 

Primeira mulher a governar o Japão, Sanae Takaichi chega ao poder com um discurso de firmeza nacionalista, prometendo reposicionar Tóquio no cenário internacional, enquanto enfrenta pressões econômicas e diplomáticas.

Primeira mulher a governar o Japão, Sanae Takaichi chega ao poder com um discurso de firmeza nacionalista, prometendo reposicionar Tóquio no cenário internacional, enquanto enfrenta pressões econômicas e diplomáticas.

Sanae Takaichi, de 64 anos, tornou-se a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra do Japão após vencer a disputa no Parlamento e formar uma aliança de última hora com o Partido da Inovação. A nomeação, confirmada em encontro com o imperador Naruhito, encerrou mais de meio século de liderança exclusivamente masculina no comando do governo japonês. Takaichi assume uma nação em transformação, que busca conciliar tradição e segurança em meio a tensões crescentes com a China e incertezas econômicas.

Natural da província de Nara e formada pela Universidade de Kobe, Takaichi iniciou a carreira como radialista antes de ingressar na política, em 1993. Foi ministra dos Assuntos Internos e Comunicações durante o governo de Shinzo Abe, de quem herdou o ideário econômico conservador e o discurso nacionalista. Admiradora declarada de Margaret Thatcher, defende uma política baseada na autossuficiência e na disciplina fiscal, sem renunciar ao protagonismo militar que o Japão vem retomando de forma gradual.

Considerada uma das figuras mais ideologicamente rígidas do Partido Liberal Democrático (PLD), Takaichi se apresenta como defensora da “restauração moral do Japão”. Sua ascensão ocorreu após a saída do Komeito, antigo aliado da coalizão governista, em meio a escândalos de financiamento e divergências sobre políticas conservadoras. A nova premiê articulou rapidamente apoio junto a legendas menores e consolidou uma base majoritária no Parlamento, embora com fragilidade política declarada.

No campo social, sua postura é marcada por posições firmes e controversas. É contrária à modificação da lei que obriga casais a compartilhar o mesmo sobrenome e defende que a sucessão da família imperial continue restrita à linha masculina. Apesar de prometer um gabinete com mais mulheres, mantém uma visão tradicionalista sobre o papel feminino, ao mesmo tempo em que afirma querer “abrir caminhos para futuras gerações japonesas de líderes”.

Em política externa, Takaichi representa uma inflexão importante. É conhecida por seu discurso duro contra a China, país que, segundo ela, “menospreza completamente o Japão e ignora seus direitos soberanos”. Nos últimos dias, entretanto, tem adotado tom mais cauteloso. Uma de suas primeiras decisões foi não comparecer à cerimônia no santuário de Yasukuni, gesto interpretado como tentativa de reduzir tensões com Pequim e Seul.

As relações com os Estados Unidos também entrarão em novo momento. Takaichi é próxima da ala pró-aliança do PLD e reafirmou o compromisso com a parceria estratégica com Washington. Contudo, indicou que “não hesitará em dizer não” ao governo norte-americano quando considerar que decisões comerciais ou militares prejudiquem os interesses japoneses. Essa expectativa deve ser testada ainda nesta semana, durante a visita do presidente Donald Trump a Tóquio para renegociar tarifas e acordos de defesa.

Entre os desafios internos que a nova primeira-ministra enfrenta estão a desaceleração econômica, o envelhecimento populacional e a necessidade de revitalização da indústria. Economistas japoneses avaliam que Takaichi procurará equilibrar investimentos públicos com medidas de incentivo ao setor privado, evitando repetir erros fiscais que marcaram períodos anteriores de recessão prolongada.

Suas posições conservadoras despertam críticas contundentes de setores liberais e movimentos progressistas. Ativistas acusam Takaichi de promover uma agenda de retrocesso social, enquanto a oposição alega que suas ideias revisionistas sobre o passado histórico japonês podem comprometer o processo de reconciliação regional. Em contrapartida, seus defensores destacam a coerência e a firmeza como virtudes políticas.

Toru Takahashi, aposentado de Nara, expressou-se de maneira emblemática: “Ela tem a coragem de dizer o que acredita e de agir por convicção. O Japão precisa disso agora”.

A chegada de Sanae Takaichi ao poder redefine o tabuleiro diplomático da Ásia e inaugura uma nova fase da política japonesa. Entre o pragmatismo econômico exigido por um mundo em transição e o nacionalismo que move sua base eleitoral, a líder conservadora terá de equilibrar firmeza e sensibilidade para manter o Japão em posição de destaque sem se isolar no cenário internacional.

(*) Com informações das fontes: Deutsche Welle, G1, AFP, CNN Brasil, Euronews, DW, La Vanguardia, Infobae, RTP, e Exame.

Links
Vídeo