Ao começar a análise da última "fatia" do julgamento do mensalão, o ministro Joaquim Barbosa afirmou nesta quarta-feira que a cúpula do PT na época do escândalo tinha um vínculo de hierarquia e subordinação a José Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil. O ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares também são julgados neste item, que trata da acusação de formação de quadrilha.
"O que esses diálogos deixam bastante evidente é o vinculo de hierarquia e subordinação entre o Dirceu e os demais membros do núcleo político", disse Barbosa.
O capítulo da formação de quadrilha aparece no início da denúncia do mensalão, mas Barbosa decidiu deixar para o fim, para encerrar o julgamento. Após ler 30 páginas de seu voto, o ministro deve encerrar a leitura apenas na primeira parte da sessão desta quinta-feira. O ministro fez uma espécie de resumo de decisões tomadas desde o mês de agosto pelo colegiado para indicar que havia uma quadrilha chefiada por José Dirceu para compra de apoio político.
No início do voto, Barbosa citou o caso conhecido como "mensalão mineiro", outro escândalo envolvendo Marcos Valério que ainda será julgado no Supremo, também sob relatoria do ministro. Nesse caso, o empresário teria ajudado a lavar dinheiro para financiar a campanha de Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas Gerais em 1998.
"Marcos Valério é um profissional do crime, ja tendo prestado serviços delituosos ao PSDB em Minas Gerais, na eleição do hoje senador Eduardo Azeredo", disse o ministro, que terá de deixar a relatoria da ação penal em 22 de novembro, quando assumirá a presidência do STF.
Barbosa também afirmou que Valério servia como uma espécie de secretário do chefe da Casa Civil, marcando reuniões do ministro com o Banco Rural e com empresários.
"Marcos Valério, que não era detentor de qualquer posição oficial, era quem tinha a incumbência de informar Kátia Rabello (presidente do Rural à época) sobre disponibilidade da agenda de José Dirceu. Era o intermediário entre o núcleo financeiro e esse importantíssimo agente do Estado", disse.
O item 2 da denúncia tem como réus José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, o empresário Marcos Valério, seus sócios Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, as funcionárias Simone Vasconcelos e Geiza Dias, e a antiga cúpula do Banco Rural - Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Vinicius Samarane e Aynna Tenório.