O relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa, sugeriu nesta quarta-feira que o revisor Ricardo Lewandowski faz "vista grossa" nos autos ao analisar as acusações contra o ex-secretário do PTB Emerson Palmieri. Após Lewandowski chamar Palmieri de "coadjuvante" e sinalizar sua absolvição, Barbosa se exaltou pela segunda vez hoje e precisou ser contido pelos colegas. "Policie sua linguagem", disse Marco Aurélio Mello.
Barbosa interrompeu o voto de Lewandowski para afirmar que Marcos Valério, apontado como operador do mensalão, e sua funcionária Simone Vasconcelos afirmaram que Emerson Palmieri recebeu dinheiro. "Vossa excelência chegou a ler os depoimentos de Marcos Valério, Simone Vasconcelos, dizem taxativamente que ele recebia o dinheiro (destinado ao PTB). Está na lista feita por Marcos Valério e confirmada por Delúbio Soares(ex-tesoureiro do PT)", disse Barbosa. "Isso é fato. Está nos autos", completou.
"Se vossa excelência não admite a controvérsia, deveria propor que abolissem a figura do revisor", rebateu Lewandowski. "Nós não podemos fazer vista grossa", disse Barbosa, exaltado.
Marco Aurélio, que senta à direita de Barbosa, interrompeu o bate boca e defendeu o revisor. "Ninguém faz vista grossa. Somos 11 ministros. Ninguém faz vista grossa neste Plenário. Não aceitar certas manifestações não compõe a ideia que temos de colegiado", disse o ministro.
Ao Barbosa sugerir que Lewandowski estava contornando fatos dos autos, Marco Aurélio continuou: "cuidado com as palavras. Vossa excelência está em um colegiado de alto nível". "É agressividade, ministro", disse.
"Eu não divirjo pelo simples prazer de divergir. Creio que convergimos muito mais gente do que divergimos", considerou Lewandowski, na tentativa de apaziguar os ânimos. Barbosa, no entanto, considerou "absolutamente heterodoxo" o revisor fazer um voto do mesmo tamanho do proferido pelo relator. "Estou estupefato", disse Lewandowski.