O coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna (Doi-Codi) do 2º Exército, em São Paulo, não compareceu a uma audiência nesta quarta-feira no Fórum João Mendes, no centro da capital. Acusado de tortura e de responsabilidade pela morte do jornalista Luiz Eduardo Merlino, em julho de 1971, ele foi representado por seu advogado, segundo o Tribunal de Justiça.

Merlino militava no Partido Operário Comunista (POC) quando foi detido. Levado ao Doi-Codi, então comandado por Ustra, foi torturado e assassinado aos 23 anos.
Ustra já foi condenado em primeira instância e declarado torturador em uma ação movida pela família do jornalista em 2007. No ano seguinte, por dois votos a um, os desembargadores acataram um recurso dos advogados do coronel e extinguiram o processo.
Esta segunda ação, que reclama danos morais, é movida pela irmã de Merlino, Regina Merlino Dias de Almeida, e pela ex-companheira do jornalista, Angela Mendes de Almeida. "É uma luta que estamos travando há muito tempo. Chegar até aqui é uma vitória", disse Angela.
Maria Amélia de Almeida Telles, que entrou com a primeira ação declaratória contra o coronel, na qual ele foi considerado torturador, também considerou a audiência importante. "Hoje é um momento histórico. Fico emocionada de saber que chegamos, com tanta dificuldade, mas que vamos colocar pela segunda vez, no banco dos réus, esse homem (o coronel Ustra)."

Para a audiência de hoje, segundo a família de Merlino, seriam ouvidos cinco ex-militantes do POC: Otacílio Cecchini, Eleonora Menicucci de Oliveira, Laurindo Junqueira Filho, Leane de Almeida e Ricardo Prata Soares. Além deles, também testemunhariam o ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos Paulo de Tarso Vannuchi e o historiador e escritor Joel Rufino dos Santos. Entre as testemunhas de defesa arroladas por Ustra estão o atual presidente do Senado, José Sarney, o ex-ministro Jarbas Passarinho, um coronel e três generais da reserva do Exército.
Centenas de pessoas participaram, em frente ao fórum, de um ato para lembrar as vítimas da ditadura militar. Com faixas e fotos de militantes desaparecidos e mortos, elas pediram justiça e cadeia para os torturadores que agiram durante o período.
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