Presidente do Movimento Nacional das Famílias dos Padres Casados, José Edson da Silva, 41 anos, diz não associar o celibato dos padres da Igreja Católica à pedofilia no País. Para ele, o que pode propiciar esse "câncer" é o clima da Igreja - que priva os padres da vida social e afetiva.
Segundo o religioso, a pedofilia existirá estando o padre casado ou solteiro. "Não associo pedofilia a celibato. Tem pessoas casadas com filhos e que são pedófilas. O clima da Igreja privado de uma vida social e afetiva possibilita isso", afirmou Silva, ordenado padre em 1995 e que largou a batina há nove anos. (Mas ainda é considerado padre, explica, porque "para a Igreja não existe ex-padre; há padre casado, sem ministério ou sem licença - por envolvimento em casos de pedofilia".)
Para o presidente do movimento, o ambiente de ociosidade em dioceses interioranas também propicia a prática da pedofilia. "A estrutura facilita isso. Muitos desses padres moram sozinhos e recebem crianças e jovens devido à credibilidade que a profissão dá. Você é cortejado por um monte de beatas e é ileso de qualquer crítica. Se o padre está solitário e tem uma mente doente - já tem tendência a gostar de criança -, esse ambiente é mais cômodo", afirmou.
Para resolver o problema, Silva disse acreditar que não basta transferir o sacerdote de uma paróquia para outra, como usualmente acontece. "Quando transferem o padre pedófilo, o problema vai junto com ele. Criança tem em todo o canto. O que precisa ser feito é um tratamento psicológico sério."
Repressão e desvios
O presidente do Movimento Nacional das Famílias dos Padres Casados afirma que os casos de pedofilia estão vindo à tona porque a mídia é mais rápida hoje e há uma quebra de privacidade com as ferramentas da internet, como a página de relacionamentos Orkut e os comunicadores de mensagens eletrônicas instantâneas.
"A Igreja sempre adotou uma instituição moralista, santa, perfeita, maculada. Não existe perfeição terrena tão grande assim, pois tratamos com seres humanos. Há pessoas que às vezes estão em seminários e conventos e nunca trabalharam a sexualidade. Reprimiram muito o biológico e hoje aparecem as patologias e os desvios", disse Silva.
O porquê do choque
Segundo o religioso, há pedofilia em todos os setores da sociedade, mas ela chama mais atenção na Igreja Católica porque a instituição trabalha com o conceito do que é sagrado e do que é proibido.
"(A Igreja) trabalha muito em cima do 'faça como eu digo e não faça como eu faço', e é incapaz de dialogar e mostrar muitos erros. Isso é como um câncer. O padre é um homem civil e deve prestar contas à sociedade e, se cometer um atentado grave contra uma criança indefesa, deve pagar por isso. A justiça tem de ser para todos."
