Uma voz para a consciência negra

 

ABCD - 25/04/2003 - 15:38:36

 

Uma voz para a consciência negra

 

Da Redação com agências

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

A consciência negra não tem descanso em São Bernardo. A cidade, que já foi palco de alguns dos mais importantes movimentos sociais da história do Brasil, assiste à gestação de mais um núcleo de resistência. Sérgio Wilson, de 41 anos, mais conhecido como Serginho, é uma das causas do crescimento desse movimento. Administrador de empresas e encarregado de serviços de transporte da Secretaria de Educação, Serginho é o representante do Movimento Negro de São Bernardo na Executiva Municipal do PSB. Ligado às manifestações mais tradicionais da comunidade, Serginho espera um pouco mais do governo Lula e defende o regime de cotas para negros nas universidades públicas. Leia mais. @HORA - São Bernardo sempre foi considerada uma cidade de vanguarda, sobretudo no que se refere aos movimentos sociais. O senhor acredita que o Movimento Negro tem essa acolhida na cidade? Serginho - O fato que ainda estamos iniciando um trabalho. Nós temos algumas lideranças na cidade, que desenvolvem um trabalho importante, mas que ainda estão meio ocultas, ou seja, não são de pleno conhecimento da população. As ações, por enquanto, restringem-se às manifestações culturais, como o Carnaval, a Capoeira, etc. A Prefeitura vem dando um grande apoio a essas atividades, mas ainda é pouco pelo potencial de crescimento que esse movimento ainda tem na cidade. @HORA - Essa questão é tratada também em âmbito partidário dentro do PSB? Serginho - Sim. Eu acredito que o PSB seja um dos partidos que mais acolhe a preocupação com a questão do negro. Até porque essa é uma questão histórica. Nenhum partido brasileiro pode relegar essa discussão a segundo plano, seja pela sua carga histórica, seja pelos reflexos que ela faz projetar no cotidiano na sociedade brasileira. Eu, por exemplo, sou representante de São Bernardo na Comissão do Negro da Executiva Nacional do PSB. Grandes questões vêm sendo colocadas em debate, outras foram incorporadas nos programas de governo dos candidatos do partido e, sem dúvida, essa preocupação já faz parte da cultura do PSB. @HORA - O regime de cotas para os negros nas universidades públicas tem sido criticado por alguns setores que entendem a reserva como uma discriminação às avessas. O senhor concorda com essa tese? Serginho - Não, necessariamente. Eu encaro o regime de cotas como um instrumento de justiça social. Esse regime é uma tentativa de compensar a histórica dificuldade que o negro sempre teve de acessar a universidade pública no Brasil. O acesso ao ensino superior sempre refletiu a perversidade do modelo educacional que, por décadas, vigorou no Brasil. Ou seja, o negro, que sempre teve menos acesso à Educação primária e secundária, acaba tendo que se sujeitar a disputar uma vaga na universidade com alunos egressos de boas escolas particulares. Então, o regime de contas, num certo sentido, vem suprir essa desigualdade. @HORA - Como o senhor avalia os cem primeiros dias de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva? Serginho - Os cem primeiros dias do governo Lula podem ser traduzidos por aquilo que se costuma chamar de “choque de realidade”. O PT que governa o país hoje guarda mais semelhanças do que diferenças do governo anterior que ele próprio tanto criticou. Por mais que possa parecer, isso não é uma crítica, e sim uma constatação. Acho que nem poderia ser muito diferente. Um exemplo contundente é a reforma da Previdência. O mesmo PT que, durante o governo FHC, criticou a proposta de instituir a contribuição dos inativos, é agora que mais trabalha por ela. O mesmo se observa na política econômica: na oposição, o partido combatia a destinação do superávit fiscal para o pagamento do serviço da dívida externa. No governo, o PT não só mantém a política de saldar os credores externos, como amplia o percentual destinado. A fixação do  salário mínimo em R$ 240,00 (algo em torno de U$70) também foi outro bom exemplo do divórcio entre a teoria e a prática. Dá até para entender que o discurso de campanha venha contaminado por um conteúdo político eleitoral que ofusca a realidade, mas é sempre bom buscar um equilíbrio entre o palanque e o governo. @HORA - Como representante de um movimento social, como o senhor vê o desenvolvimento do programa “Fome Zero”? Serginho - A intenção é boa, mas penso que ainda falta definir o formato. @HORA - Como o senhor vê o envolvimento do prefeito Dr. Dib com a causa da consciência negra em São Bernardo? Serginho - De forma muito positiva. O Dr. Dib é um prefeito de grande sensibilidade social e essa sua característica se faz sentir de uma maneira peculiar na nossa causa. Ele está contribuindo conosco através das iniciativas culturais e esportivas que envolvem a comunidade negra. Há muito tempo, o negro não era tão valorizado em São Bernardo. O mais importante é que isso ocorre em situações concretas.

Links

...Continue Lendo...

...Continue Lendo...

Vídeo