Internet: tráfego cresce e amplia debate sobre custos

 

Informática - 15/06/2008 - 09:52:14

 

Internet: tráfego cresce e amplia debate sobre custos

Herald Tribune

 

Da Redação com agências

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

No Natal do ano passado, a rede de TV britânica BBC lançou um serviço online chamado iPlayer, que oferece programas de televisão ao vivo e seu catálogo de programação antiga em forma de stream às audiências da web. Até abril, os britânicos haviam assistido a 75 milhões de episódios de seriados como Doctor Who e The Apprentice.

Embora o serviço tenha atraído muita audiência para a empresa, causou problemas de tráfego a muitos dos provedores de banda larga britânicos, que disseram que suas redes tiveram de enfrentar uma alta considerável no tráfego de vídeo da BBC. Alguns poucos dentre eles até mesmo apelaram à BBC para que esta cobrisse parte dos custos de transmissão dos vídeos.

"Não estamos pedindo nada de absurdo", disse Jody Haskayne, porta-voz da Tiscali UK, uma operadora de banda larga com 1,9 milhão de assinantes no Reino Unido. Apontando que a BBC paga para ter seus programas transmitidos na TV aberta e a cabo, ela disse que "existem precedentes para o pagamento que desejamos".

A BBC refutou os pedidos de pagamento das operadoras de banda larga. Mas o debate sobre o serviço iPlayer reflete uma mudança mais ampla no relacionamento entre os provedores de acesso à Internet e os fornecedores de conteúdo, um elo que vem alimentando o crescimento da rede já há 20 anos.

Diante da elevação do tráfego, muitos provedores europeus de acesso à Internet estão criando redes mais rápidas. Mas a ascensão no tráfego causada por serviços de web cujo produto principal são vídeos, como o iPlayer e o YouTube, bem como a dos sites de jogos na Internet e redes sociais, ameaçam superar a capacidade até mesmo dessas redes mais rápidas, dizem especialistas setoriais. Como será o futuro da Internet?

"Existe uma tensão econômica crescendo", disse Pat Dolan, gerente geral da Tellabs, uma fabricante norte-americana de equipamentos para redes, na Europa. "Se você estuda as demandas dos operadores de redes, a questão passa a ser: como é que eles poderão continuar ganhando dinheiro quando surgiu do nada esse imenso volume de vídeo que antes não existia?"

Em meio ao crescimento, alguns dos operadores de redes começaram a restringir o acesso dos usuários que consomem mais banda nos horários de pico, uma questão que se tornou sensível porque alguns defensores do acesso irrestrito à Internet a definem como uma forma de censura.

Os críticos das limitações, que incluem defensores da liberdade de expressão, usuários de redes de trocas de arquivos e grandes fornecedores de conteúdo que dependem da Internet para a distribuição de seus produtos, argumentam em defesa da "neutralidade da rede" - a idéia de que cada porção de dados deve receber igual prioridade, quer se trate de uma simples mensagem de e-mail, quer de um volumoso arquivo de vídeo. Acesso igual para todos, dizem os proponentes, promove a inovação e permite que empresas iniciantes floresçam na Internet.

Mas os operadores de redes argumentam que, à medida que os usuários de grande volume de banda continuam a elevar a receita obtida na web, não deveriam continuar viajando de carona. De outra forma, afirmam, as empresas de telecomunicações se tornarão incapazes de construir as redes novas, e mais rápidas, necessárias a facilitar o surgimento das empresas iniciantes do futuro.

O princípio pode enfrentar seu primeiro teste judicial este mês, nos Estados Unidos, caso a Comissão Federal de Comunicações (FCC) decida que deve repreender a Comcast, operadora de TV a cabo e banda larga, por limitar em alguma medida as trocas de arquivos entre usuários nos horários de pico. A Comcast argumenta que tem o direito de administrar como preferir a demanda em sua rede.

O debate na Europa se concentra menos em questões de liberdade de expressão e mais em determinar se as operadoras de telecomunicações deveriam ter o direito de acesso às novas redes de banda larga de seus concorrentes, um direito de que não dispõem no momento.

Sob um projeto de lei proposto por Erika Mann, social democrata alemã que integra o Parlamento Europeu, as operadoras receberiam os chamados direitos de interconexão, em troca de arcarem com parte do custo de investimento em uma nova rede ou do pagamento de uma taxa baseada em seu volume de tráfego.

O comitê de indústria, pesquisa e energia do Parlamento Europeu deve debater o projeto de lei em julho. "Estamos tentando encontrar um ponto de equilíbrio", disse Mann. "Desejamos garantir que a Internet continue interconectada e que as operadoras tenham incentivo para investir e construir essas novas redes".

As autoridades regulatórias européias até o momento não intervieram. No Reino Unido, a Ofcom, que regulamente a mídia do país, estudou os efeitos do serviço iPlayer sobre as operadoras de banda larga mas não anunciou qualquer plano de regulamentação.

Em Bruxelas, a comissária da União Européia encarregada das questões de Internet, Viviane Reding, declarou em abril que a priorização de tráfego pelas operadoras de banda larga era uma prática legítima, mas que desejava conferir às autoridades regulatórias da União a opção de instituir padrões mínimos de qualidade para o serviço aos consumidores, a fim de garantir que a velocidade de conexão de que eles dispõem não seja reduzida em excesso.

Os consumidores ocasionalmente sentem os limites impostos aos usuários de alto volume de banda larga, quando estão assistindo a streams de vídeo cuja velocidade se reduz, transformando a experiência em uma série de fotos que avança aos solavancos.

Na Tiscali, diz Haskayne, os usuários que não utilizam largo volume de banda continuam capazes de navegar pela Internet ou de receber seus e-mails sem atraso, nos horários de pico, porque os usuários que utilizam maior volume de banda recebem prioridade mais baixa. A prática, diz Dan Cole, diretor de marketing de produtos na Thus, uma empresa que opera a rede de banda larga Demon, em Glasgow, é conhecida como "formatação de tráfego".

"Todo mundo administra seu tráfego, em certo grau", disse Cole. "Todo provedor de acesso à Internet pratica a formatação de tráfego. Mas até que ponto essa prática deve ser levada? E até que ponto se deve informar os consumidores a respeito? Até que ponto ela se torna perceptível? São essas as grandes questões. Algumas coisas vão causar desaceleração, ocasionalmente. Mas o usuário final continua a desfrutar de uma experiência decente".

As operadoras em geral não gostam de discutir suas práticas de gestão de tráfego, temendo que isso possa afastar alguns usuários, disse Phil Robinson, presidente-executivo da Velocix, uma das chamadas "operadoras de distribuição de conteúdo", uma espécie de via expressa da Internet que ajuda fornecedores de conteúdo como a BBC a distribui-lo pela rede. Ele diz que isso "acredito que isso seja o grande elefante na sala".

Marvin Ammori, diretor jurídico da Free Press, uma das duas organizações sem fins lucrativos que apresentaram queixas à FCC sobre as práticas de gestão de rede da Comcast, disse que a agência precisava definir com clareza até que ponto a gestão de tráfego deve ir. Suranga Chandratillake, presidente-executivo da Blinkx, uma empresa de buscas de vídeos em San Francisco, afirma que não considera que a FCC deva intervir.

"As deliberações deles vêm sendo abertas", disse Chandratillake. "Até agora, os comissários da FCC demonstraram saudável respeito por permitir que as forças de mercado resolvam essa situação". Projetos de lei que estão em deliberação na Câmara dos Deputados e no Senado dos Estados Unidos instruiriam a agência a estudar as práticas de gestão de tráfego das operadoras de banda larga e determinar se novas regras são necessárias a fim de garantir que a Internet se mantenha aberta. A lei proposta no Senado deseja proibir que as operadoras administrem o tráfego por meio da seleção arbitrária de determinados aplicativos, usuários ou serviços de conteúdo.

Para tentar acomodar mais vídeos e conteúdo que requer uso mais pesado da banda larga, as companhias de telecomunicações estão investindo bilhões de dólares na atualização de suas redes. A Deutsche Telekom e a France Telecom, bem como algumas de suas concorrentes locais, já oferecem velocidades de até 16 megabits por segundo, oito vezes superior à de muitos serviços residenciais.

A BT, antigamente conhecida como British Telecom, começou a vender acesso à sua nova rede para as demais operadoras de banda larga, em abril. A nova rede opera a até 24 megabits por segundo. Operadoras de cabos como a Virgin Media, no Reino Unido, também estão acelerando suas redes. Mas o tráfego da Internet deve disparar, disse Robinson, e o mesmo provavelmente se aplicará ao download de conteúdo pesado.

"Assistir a um DVD por meio de uma conexão de banda larga é como baixar mil arquivos de MP3 ou visitar 100 mil páginas da web", disse Robinson, cuja empresa está sediada em Cambridge, na Inglaterra.

Suraj Shetty, vice-presidente da Cisco, diz que o provável resultado é que o consumidor terá de pagar mais para obter acesso a velocidades maiores. "O debate sobre neutralidade da rede não está decidido", disse Shetty. "Nos próximos anos, será resolvido se o consumidor ou o provedor de conteúdo pagará pela alta no tráfego. E eu acho que o consumidor pagará".

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