Com a chegada do inverno no próximo dia 21, a Prefeitura de São Bernardo, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania (Sedesc), intensifica a ronda noturna para abordagem de pessoas em situação de rua e encaminhamento para albergue do município. No entanto, desde o dia 1º de maio, as vagas foram ampliadas de 64 para 85, sendo 70 para homens e 15 para mulheres. Sem obrigar, atendentes sociais tentam convencer e sensibilizar esse público. Os que aceitam dormir no local ganham banho quente, alimentação e hospedagem.
O albergue funciona na Associação Projeto Samaritano, instituição que administra o serviço municipal e recebe subvenção do Fundo Municipal de Assistência Social. Para chegar ao local são duas as alternativas. A própria pessoa procura o albergue, entre 17h e 18h45, ou é levada por meio da ronda que funciona diariamente das 19h até as 23h. A estada varia de uma até 14 noites. Porém, há casos em que o prazo máximo é estendido. O espaço funciona com sua capacidade total nas noites frias do inverno.
No mesmo terreno do albergue funciona o Centro de Convivência. É um espaço diurno de referência para a população adulta de rua, que oferece apoio para a sua organização pessoal (encaminhamento para a rede de atendimento e de serviços da Prefeitura) e necessidades básicas, como higiene. Ali, os atendidos podem lavar suas próprias roupas e tomar banho, além de receber três refeições (café da manhã, almoço e lanche da tarde). As atividades de ressocialização são variadas: desde uma horta comunitária para consumo próprio até aulas no curso do Promac (Programa Municipal de Alfabetização e Cidadania). O período de permanência é das 8h às 16h, durante o ano todo.
A Prefeitura de São Bernardo é a única do Grande ABC a oferecer em um mesmo espaço físico um albergue e um centro de convivência – o último equipamento tem capacidade para atender até 100 pessoas. A abordagem de rua também é feita durante o dia, se necessária. "Tanto o albergue quanto o centro de convivência funcionam como um meio e não um fim", afirma o assistente social Fábio Rodrigues, que coordena o Serviço de Atenção à Pessoa em Situação de Rua, da Sedesc.
A mesma opinião tem Célia Hernandes, assistente social da Associação Samaritano. "É um processo lento de regras e de mudança", diz. Os atendentes sociais fazem uma abordagem de rua pedagógica com esse público. "A pessoa tem de ser convencida que a rua não é o melhor local para ficar", diz a profissional, que tem especialização em dependência química.
Perfil – Fatores como drogas, álcool e demência são responsáveis por levarem algumas pessoas a viverem nas ruas. O perfil da pessoa em situação de rua sofreu uma mudança nos últimos dez anos, de acordo com os técnicos. A população é mais jovem, entre 25 e 45 anos, homem em sua maioria, dependente de álcool ou outras drogas. Normalmente está afastado da família e desempregado. Há também mulheres, porém em menor número e oriundas da exclusão social e econômica. A maioria reúne-se em praças e pontos centrais do município. "Houve um aumento do número de jovens na rua, principalmente pelo consumo de drogas, como o crack", afirma a assistente social Célia.
Como a pessoa em situação de rua não tem endereço fixo e muitas vezes cidade, a Prefeitura estima uma população média entre 250 e 300 moradores que circulam principalmente pelos bairros Centro, Paulicéia, Rudge Ramos, Taboão e Riacho Grande. "Nosso serviço de acolhimento não se trata de uma ação de caridade, mas sim de direito de cidadania à pessoa em situação de rua", afirma Rodrigues.
Em busca da dignidade está o pernambucano J.T.S., 41 anos, nascido na cidade de Paulista, e que atende pelo nome artístico de Harry. Freqüentador assíduo do albergue e do centro de convivência, Harry, que perdeu a memória, é atendido pela rede de serviços do município. Já a cearense C.S., 23 anos, passou alguns dias no Centro de Convivência, antes de voltar para sua casa em Natal, no Rio Grande do Norte.
Além do albergue e do centro de convivência, a Prefeitura possui a Casa de Integração Social, localizada no Riacho Grande. O local, que passa por reforma física e estrutural, tem capacidade para atender até 26 homens, todos em situação de risco e vulnerabilidade social em decorrência da situação de rua e/ou dependência química. Muitos deles são encaminhados pelo Caps (Centro de Atenção Psicossocial), serviço municipal que atende pessoas com problemas de saúde mental. Lá, alguns trabalham em uma horta. Outros aprendem a fazer pães, salgados e doces no curso de padaria artesanal, oferecido pela Sedesc, que são comercializados e funcionam como fonte de renda para os moradores da casa.
Serviço de Atenção à Pessoa em Situação de Rua
Local: Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania (Sedesc)
Endereço: Avenida Redenção, 271. Centro. Sala 21.
Telefone: 4126-3916
Horário: de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
Local: Associação Projeto Samaritano
Endereço: Rua dos Vianas, 194. Centro
Telefone: 4332-8524
Horário de funcionamento: de segunda-feira a domingo, das 8h às 18h.