“Saúde, amor, eternidade”. “Agradeço à natureza”. “Temos que ter paz para nós e para o mundo todo”. “Amor dos meus netos e filhos”.”Quero a prosperidade para meus filhos, genros e para mim também”. “Continuar com saúde, lúcida, bem com a euforia pela vida”. “Peço paz e amor na minha vida e na conjugal também”. “Desejo que meu amor seja compreendido e que eu seja feliz”. Estes são algumas das centenas de tanzakus que foram pendurados em dois ramos de bambús, durante a cerimônia em homenagem aos 100 anos de imigração japonesa, na tarde de terça-feira, dia 27, realizada no Centro de Referência do Idoso (CRI), da Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania (Sedesc). A prática integra a tradição do Tanabata Matsuri – o Festival das Estrelas -, realizado no Japão no dia 7 de julho (número de abastança e sorte). No Brasil, é realizada tradicionalmente no bairro da Liberdade, na Capital, em agosto.
Os tanzakus - pequenos pedaços de papel colorido em que as pessoas colocam seus pedidos e mensagens – foram destaques da cerimônia. Homens ou mulheres, indistintamente, a maior parte dos participantes do evento fez questão de deixar seu recado. Na maior parte, as mensagens pediam amor, saúde, trabalho para os familiares, dinheiro, felicidade. Como manda a tradição japonesa, para que tenham validade, as mensagens serão incineradas a ser realizada no final de semana.
Ao longo da semana duas grandes atrações são a exposição de fotos, documentos históricos, vestuário e objetos típicos da imigração e diversas oficinas gratuitas para interessados com mais de 60 anos, com inscrições prévias, com ensino de Ikebana (básico: arranjos florais), Culinária Japonesa, Origami (dobradura em papel), Trançado em Fita – “Kinguiô” e Dobradura e Colagem em Papel - “Ohimessama”.
A cerimônia em homenagem ao centenário da Imigração Japonesa lotou o auditório do Centro de Referência do Idoso, que estava devidamente decorado com temas da cultura oriental, como um Torii (portal de madeira) na entrada, chouchins (luminárias) decoradas com desenhos de bambus e outros motivos e faixas com bandeiras estilizadas do Brasil e do Japão, ou com desejos de paz e amor, entre outros. No palco, um ramo de cerejeira, um desenho do Monte Fuji e luminárias típicas – simbolizando o Japão – e um ramo de ipê e o Cristo Redentor – simbolizando o Brasil.
Estavam presentes representantes de entidades da colônia japonesa no Município, como a Associação Cultural de Mizuho, a União Cultural Nipo-Brasileira de São Bernardo do Campo e o Grêmio Recreativo Rudge Ramos. O engenheiro Artur Nakahara representou a Comissão mista organizadora do Centenário da Imigração Japonesa para o Brasil.
Minas de Carvão - A secretária Laerte Soares de Almeida, que presidiu a cerimônia, agradeceu pelo trabalho realizado pela comissão organizadora e pelos funcionários da Secretaria na montagem do evento. O vereador Hiroiuki Minami, integrante da comissão municipal dos festejos do centenário da Imigração Japonesa, que falou em nome da colônia, lembrou da saga dos primeiros 768 imigrantes que chegaram ao Brasilem 18 de julho de 1908, a bordo do Kasato Maru – um navio de guerra russo apresado e adaptado para o transporte de passageiros.
Além dos enormes desconfortos do navio e da longa viagem, acentuou Minami, os imigrantes tiveram de se ajustar rapidamente a um país totalmente diferente tanto no idioma, como nas habitações, na alimentação e nos costumes. Atualmente, segundo ele, os descendentes dos imigrantes somam 1,4 milhão de pessoas, “integradas perfeitamente à comunidade brasileira”, como acentuou.
A colônia japonesa participou intensamente da história do Município, tanto com suas conhecidas chácaras, concentradas especialmente na região do Mizuho - onde há uma grande casa de cultura – como com indústrias.
As apresentações artísticas atraíram a atenção dos presentes, que acompanhavam batendo palmas. Na primeira apresentação, do grupo Ajisai, foi apresentada a dança Kampai, cuja música faz um brinde de agradecimento ao povo brasileiro pela acolhida dada aos imigrantes. Em seguida, o grupo Mizuho Wadaikô, com quatro integrantes - entre eles, uma garota – fez um grande show com o taikÕ. São tambores milenares cujos maiores se bate dos dois lados. O grupo apresentou-se com três tipos de taikô, mais um tambor feito de bambu.
Novos grupos de dança se apresentaram em seguida, como o Hanayagui Ryu, composto dos grupos Hanayagui e Hanayagui Ryutomo, sob a coordenação de professoras formadas no Japão. Duas imigrantes japonesas idosas destacavam-se nesses grupos pela idade e vitalidade: Sonoko Nakamaru, de 87 anos, natural de Osaka, veio ao Brasil com 6 anos, direto para uma fazenda da região de Franca, onde a família passou a cultivar algodão. Teve a sorte de poder voltar ao Japão várias vezes em visitas. E Iko Matsumoto, natural de Fukushima, que também veio criança para o Brasil e aprendeu, com a família, a cultivar café em Bilac, na região da Mogiana.
Muito ativas e animadas, ambas se disseram muito felizes por serem imigrantes, por terem vivido o processo de adaptação ao Brasil e de poderem participar da cerimônia.
No final da cerimônia, foi realizada a Vivência de Odori. Foi aberta uma grande roda na assistência e os presentes foram convidados a participar da dança intitulada “Tanko Bushi”, cujos passos e movimentos reproduzem o ambiente e atividades de uma mina de carvão, como a extração, o carregamento dos carrinhos, o empurrar dos carrinhos para fora da mina, entre outros procedimentos daquele trabalho.
Não foram muitos os idosos que se animaram a dançar os passos simples e alegres. Mas todos acompanharam com palmas e risos, e a festa acabou mesmo à brasileira, numa grande confraternização.
Próxima semana, no Vera Cruz - A programação da Prefeitura em homenagem aos 100 anos de imigração japonesa concentra-se no período de 31 de maio a 08 de junho, no Pavilhão Vera Cruz, a partir das 10 horas, com grande número de shows, exposições e oficinas de ikebana, origami, mangá shodó (escrita japonesa com pincel), entre outras. Os visitantes também poderáo participar de rituais como o da cerimônia do chá e do Motituki, assistir a apresentações de artes marciais e apreciar a culinária japonesa. Haverá restaurante no local aberto ao longo de todo o período.
|