Representantes dos metalúrgicos de São Paulo decidiram ontem que iniciarão uma greve geral na próxima quarta-feira caso os industriais se recusem a dar uma antecipação salarial de, no mínimo, 10%. A decisão foi tomada por 3.000 delegados do sindicato, que participaram de um congresso no ginásio do Ibirapuera.
”Os empresários têm dois dias para apresentar uma proposta. Caso contrário, os trabalhadores de 40 empresas da capital cruzarão os braços já na quarta-feira”, afirmou o sindicalista Eleno Bezerra. Ele foi homologado ontem presidente do sindicato, no lugar de Paulo Pereira da Silva, que passa a presidir apenas a Força Sindical.
A data-base dos metalúrgicos de São Paulo é em novembro, mas Bezerra afirmou que a inflação acumulada de novembro do ano passado a fevereiro deste ano já corroeu todo o reajuste de 10,26% que a categoria conseguiu em 2002. “O acumulado da inflação nos últimos quatro meses foi de 10,39%”, disse Bezerra, citando o INPC do IBGE. A decisão dos metalúrgicos promete criar um embate entre eles e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que já disse ser contra a antecipação do reajuste. Clarice Messer, diretora da entidade, chegou a afirmar que os trabalhadores terão de escolher entre a manutenção do emprego ou o reajuste salarial.
”Os metalúrgicos poderiam até esperar um pouco mais além da quarta-feira para entrar em greve. Mas como aquela diretora [Messer] disse que é contra o reajuste, decidimos antecipar o prazo”, disse Bezerra.
A mobilização pode resultar na primeira grande greve realizada no governo Lula. Os metalúrgicos querem paralisar as empresas de surpresa e por tempo indeterminado. São Paulo tem 280 mil metalúrgicos e 1.500 grandes e médias metalúrgicas, que devem ser notificadas ontem do movimento grevista. ”Deixaremos os empresários malucos, pois eles não saberão quais empresas vão parar a partir de quarta-feira”, disse Bezerra.
Os metalúrgicos iniciaram as negociações por antecipação de reajuste salarial no último dia 10. Reuniram-se com os chamados grupo três e nove da Fiesp, que representam, respectivamente, as indústrias de autopeças e de eletrodomésticos.
”No último dia 20, alguns representantes dos empresários pediram prazo para estudar o assunto. Nós não somos instituições de crédito”, afirmou Bezerra.
Para a Fiesp, as empresas só não estão demitindo atualmente porque a folha de salários tem pesado menos no custo devido à inflação.
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