Com quase 30 anos de carreira, Angélica esbanja diplomacia. Sempre preocupada com a repercussão de cada palavra que diz, a apresentadora evidencia toda a maturidade que conquistou ao longo de sua vida na TV.Desde que foi eleita a criança mais bonita do Brasil no programa do Chacrinha, aos quatro anos de idade, a paulista de Santo André não parou mais. Passou a infância trabalhando como modelo e aos 12 virou apresentadora infantil na extinta Manchete. De lá migrou para o SBT até ser convidada a trabalhar na Globo há exatos dez anos.
Durante toda essa década, Angélica sempre disse que queria um programa com "sua cara", que significava ter platéia, "games" e convidados. Chegou a apresentar vários programas na emissora, desde o Angel Mix, em 1996. Mas só agora, com o Estrelas, Angélica arrecadou uma produção mais madura, distante do público infantil e sem ser um quadro, como o Video Game, do Video Show.
Mas o Estrelas, que vai ao ar no início das tardes de sábado, contraditoriamente tem poucos dos ingredientes que a apresentadora de 32 anos queria. Além de não ter "games", nem platéia, curiosamente enfoca o que as celebridades mais temem: a invasão de privacidade. "Realmente não é fácil convencer os artistas a irem ao programa. Mas mostramos que queremos tirá-lo do pedestal em que vivem", assume..
O Estrelas é um programa que entra na privacidade dos artistas, que constantemente se incomodam com essa invasão. Não é contraditório?
Nós mostramos apenas o que os artistas nos permitem exibir. Mas realmente temos uma dificuldade enorme em conseguir essas pautas. É normal as pessoas não quererem mostrar sua privacidade. Apesar de ter vários amigos no meio, é difícil convencê-los até porque não sou eu quem liga para as pessoas para marcar. Demoramos a convencer os entrevistados. A sorte é que tenho o carinho e o respeito de muita gente, de vários colegas. Mas minha maior preocupação é sempre fugir do estilo das revistas de fofocas. Não mostro quem se separou de quem. O engraçado é que as entrevistas que fizeram mais sucesso foram as que menos mostraram a intimidade das pessoas, as mais civilizadas.
Qual o critério que você utiliza ao sugerir as pautas, em selecionar quem deve ser entrevistado?
O importante é mostrar não só gente famosa, mas quem tem o que mostrar, o que falar e que seja exemplo de alguma coisa. Não consigo levar todas as pessoas que eu quero ao programa. Levamos desde pessoas que estão despontando na carreira até artistas já consagrados. Me sinto segura fazendo esse tipo de produção. Na verdade, hoje em dia, me sinto segura para apresentar qualquer tipo de programa, ainda mais nesse estilo, com artistas e celebridades. E agora minha faceta de "apresentadora-repórter" está sendo explorada de uma forma intimista com o ,Estrelas.
Há anos você reivindica um programa na Globo. O Estrelas é o programa que você tanto queria ter?
O formato dele foi mudando muito. Minha cabeça também mudou de uns tempos para cá. Te garanto que hoje estou feliz com o programa. Eu estou acostumada a apresentar "games", produções com auditório, mas o Estrelas me faz muito feliz. Se daqui a seis meses eu perceber que já deu o que tinha de dar, vou pensar em outra coisa ou em outro formato. O programa que eu quero é aquele que me faz sentir à vontade, onde eu possa estar em contato com o público. Gosto muito também de platéia, de animar um espaço, trocar idéias com convidados. Sempre programas de entretenimento e inovadores. Eu me adapto com muita facilidade.
Você não acha que o Estrelas é muito parecido com o Video Show? O conteúdo é basicamente de artistas da Globo. Onde você identifica essa inovação?
Essa linha parecida foi proposital. Há muitos anos o público está acostumado a ver o Video Show no começo das tardes de sábado. É legal não ser tão diferente por isso, apesar de serem produções opostas, já que o Video Game é um "game" com auditório e o outro não. Mas o programa precisava ser diferente do Caldeirão do Huck, que vem logo em seguida. Mas não tenho nenhuma cobrança da emissora ou do público em ser diferente. Minha preocupação é que o público se identifique.
Após a Copa do Mundo, o programa voltou com algumas reformulações, como entrevistas mais longas e sempre em externas. Que motivos levaram a essa mudança?
Na primeira etapa, até o início da Copa, foi possível avaliar bem o que o público aceitou e o que não gostaram tanto. O saldo foi muito bom e temos média de 15 pontos na audiência. Mas percebemos que o que eu mais gostei de fazer também foi com o que o público mais se identificou, que foram as matérias externas. Também vamos colocar o pé na estrada nessa nova fase e ir onde a pauta nos levar. Até no exterior, se for algo interessante. A idéia vai ser tirar o artista do pedestal em que ele vive. Se for necessário, podemos exibir uma entrevista de 40 minutos e deixar outras bem pequenas. O problema é que essas entrevistonas me exigem muito, preciso de um preparo maior. Gosto de intervir nesse processo de perceber o que rende mais.
No Video Game, você interfere da mesma forma?
Lá todos interferem. Eu sempre dou meus palpites. O programa é uma grande equipe. Desde as repórteres, a direção, a produção e o apresentador, todos colocam a colher na panela. O programa não tem uma estrela. As estrelas são só os convidados. Não existe briga de ego.
Em algum momento você se sentiu desperdiçada na Globo?
Não. Fiz muitas coisas na emissora. Acho que trabalho muito e sempre. Lá eles acreditam demais no meu trabalho. Me dão a oportunidade de aprender muito. Minha intenção é sempre fazer programas que tenham algum lado social, que contribuam na vida das pessoas.
Daqui a um ano e meio você completa 30 anos de carreira desde que foi lançada no programa do Chacrinha, aos quatro anos de idade. Que avaliação você faz da sua trajetória na tevê?
Meu Deus, me assusta você falar em 30 anos de carreira! Mas é gratificante. Sempre tive altos e baixos. Outro dia estava conversando sobre a minha carreira com a Marieta Severo e cheguei à conclusão que sempre usei a intuição para tudo. Estreei como apresentadora de TV aos 12 anos de idade e, de uma hora para outra, percebi que não fazia mais programas infantis. Tive muitas dúvidas de que caminho seguir na adolescência e passei por sofrimentos como todo profissional. Mas sempre soube que queria fazer tevê e vou fazer uma festa de comemoração nessa data de 30 anos (risos). Me sinto recomeçando todos os dias com a energia de uma menina.
Tanta energia se deve à maternidade?
Completamente! (risos). Foi uma injeção de hormônios absurda que me deu uma energia que eu nem esperava nesse último ano. Começou uma nova fase na minha vida. Estou com 32, mas com energia de 20. Não sei se foi a maternidade mesmo, com nascimento do Joaquim, mas passei por uma virada na minha vida. Esse momento balzaquiano me deu uma energia forte, mas com toda a maturidade da idade. Me sinto muito melhor agora do que com 20 anos. Estou me sentindo! (risos). Estou mais calma, menos ansiosa. Nem cheguei a ter a crise dos 30. Acho que nem tive tempo! São dois programas no ar!
Várias vezes você conciliou dois programas ao mesmo tempo. A última foi com o Video Game e o Fama. Quais as dificuldades de acumular duas produções simultâneas?
Já trabalhei muito na vida e consigo dar conta do recado. Logo que eu vim para a Globo e em outras emissoras, eu também apresentava dois programas ao mesmo tempo e gravava todos os dias, sem problemas. Mas mesmo assim meu ritmo de trabalho diminuiu. Isso é ótimo até porque tenho outras coisas para cuidar, tenho a minha vida pessoal. Só não dá para conciliar três ao mesmo tempo porque tenho o Joaquim. Fora isso, quero ter tempo para namorar meu marido, curtir a vida de casada e pensar num próximo bebê a partir do ano que vem.
Estrelas - Globo - 13h45 - Sábado
Video Game - Globo - 13h45 - De segunda a sexta
Fascinada pela estética
Por ter crescido na tevê, Angélica aprendeu desde muito cedo a não se descuidar da aparência. Apesar de ter aparecido diversas vezes rechonchuda na telinha, hoje em dia a apresentadora exibe uma silhueta milimetricamente bem cuidada, com 53 kg distribuídos em 1,64 m de altura. Para isso, a malhação é obrigatória na rotina da loura, que pratica musculação e corre na esteira cinco vezes por semana, além de diariamente fazer drenagem linfática para ajudar a diminuir a retenção de líquidos e a liberar as toxinas do organismo. "Cada um tem o seu pulo do gato. O meu é fazer exercício físico. Isso me deixa bem por dentro e por fora. Estou há cinco anos nesse processo", explica.
Fora os cuidados com os exercícios e a balança, Angélica tem uma "coleção" de hábitos estéticos, como diversos tratamentos faciais, com consultas periódicas à dermatologista e especialistas em estética corporal. "Isso já faz parte da minha rotina mesmo. É automático", admite. Para acelerar seu dia-a-dia "antioxidante" a atriz também costuma dormir no mínimo oito horas por dia, a não ser nas noites em que dá folga para a babá de Joaquim, seu filho com o apresentador Luciano Huck, que está com um ano e três meses. " Essa vida de mãe acordada de madrugada não tem nenhum glamour. Às vezes chego para gravar com olheiras enormes e faço as maquiadoras sofrerem", assume, com seu habitual bom humor.
Boas lembranças
Os momentos da carreira que Angélica mais tem saudades foram vividos na extinta Manchete. Na emissora, a apresentadora estreou no programa Nave da Fantasia, em 1985. Mas foi com o Clube da Criança, que foi ao ar no ano seguinte, que Angélica começou a fazer sucesso e se tornou um dos principais nomes da emissora como apresentadora infantil. "Tenho saudades demais dessa época. Lá que eu descobri minha carreira e onde fiz grandes amigos. Tenho saudades até da revista Manchete", emociona-se.
A mesma saudade, a apresentadora também tem de atuar, o que ela considera "estar de férias da tevê". Angélica, que fez vários longas desde 1988 e participou da novela Um Anjo Caiu do Céu, da Globo, como o anjo Angelina, garante que dificilmente diz não aos convites para trabalhar como atriz. "Adoro brincar de atuar. Para mim o cinema é uma válvula de escape", derrete-se a apresentadora, que conheceu o marido Luciano justamente num longa, quando ambos atuavam em Um Show de Verão, em 2004.
Trajetória Televisiva
# Nave da Fantasia - (Manchete, 1985).
# Clube da Criança - (Manchete, 1986).
# Casa da Angélica - (SBT - 1993).
# Angel Mix - (Globo, 1996).
# Caça Talentos (Globo, 1996).
# Flora Encantada (Globo, 1999).
# Bambuluá (Globo, 2000).
# Video Game - (Globo, 2001).
# Um Anjo Caiu do Céu (Globo, 2001) - Angelina.
# Fama (Globo, 2002).
# Fama Bis (Globo, 2002).
# Fama 3 (Globo, 2004).
# Fama 4 (Globo, 2005).
# Estrelas (Globo, 2006).
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