A guerra que quase o mundo inteiro tanto procurou evitar está aí já em curso. A Organização das Nações Unidas (com seu Conselho de Segurança), que, bem ou mal, representa, ou deveria representar, todos os países que a formam, fica ainda mais enfraquecida com a decisão unilateral, dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, de invadir o Iraque para derrubar Saddam Hussein e estabelecer nesse país um Governo disposto a atender aos interesses dos vencedores. Os países (inclusive o Brasil) que se opuseram a uma solução (solução?) bélica para esse conflito não defendem, claro, a ditadura, o despotismo, a imensa e antiga coleção de barbaridades que caracterizam o atual Governo de Bagdá. Mas sabem que essa nova “cruzada contra os infiéis”, comandada pelo presidente George W. Bush, embute interesse em conseguir mais influência e vantagens numa região estratégica. Além do mais, fazer guerra em nome de Deus ou de religiões é costume medieval que já se considerava superado, e não dignifica a nossa civilização, da qual o presidente dos EUA se investiu como defensor.
A derrota da ONU, com a decisão anglo-americana de fazer a guerra por conta própria, marca, desejamos que não definitivamente, o fracasso de todo um longo, difícil e generoso processo com vista à paz mundial e ao bem-estar de toda a humanidade, iniciado após a 1ª Guerra Mundial (1914-1918) e retomado no fim da 2ª (1939-1945). Processo conduzido pela Liga das Nações e, depois, pela Organização das Nações Unidas, a ONU. A Liga das Nações fracassou sobretudo porque os vencedores de 1918 não atenderam às ponderações do então pacifista Governo americano e, sobretudo, devido à sede de vingança e hegemonia do Governo francês: a maioria impôs à derrotada Alemanha sanções e indenizações de guerra pesadíssimas e humilhantes (semelhantes às atuais sanções internacionais contra o Iraque), o que abriu caminho para a castastrófica aventura nazista.
Já a dificuldade da ONU em construir a paz se origina na Guerra Fria e prossegue atualmente com a auto-atribuição a si, pela superpotência americana, como bem disse o nosso presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do direito de sozinha “decidir o que é bom ou ruim para o mundo”. Outra má conseqüência dessa “diplomacia de porrete” pode ser uma grave crise na construção da União Européia (UE), devido a posicionamentos profundamente divergentes dos governos da França e da Alemanha, de um lado, e da Grã-Bretanha, Espanha e Itália, do outro. A UE é o mais acabado e bem-sucedido exemplo de abertura econômica e política, de prosperidade e de paz entre povos que se guerrearam durante séculos, desde o Império Romano, atravessando a Idade Média e o Renascimento, até o século passado. Dela esperam relações comerciais menos injustas o Brasil e todo o nosso bloco econômico (Mercosul), para poderem diversificar seu comércio internacional e terem mais poder de barganha diante dos EUA e da Alca.
Para o nosso País, a guerra só trará mais dificuldades, com recessão mundial, na arrumação da casa que está sendo procedida pelo atual Governo, com vista a nos possibilitar maior independência e autonomia na condução dos nossos interesses políticos, econômicos, comerciais, com poupança e mercado internos de peso, poder de exportação, criação de empregos, produção, enfim, desenvolvimento. Há, contudo, previsões otimistas. O Brasil tem condições de aumentar suas exportações para a UE (com a qual está em adiantadas negociações), a China, o Oriente Médio, inclusive o próprio Iraque em reconstrução, se esse não voltar a ser colônia.
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