Por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, José Graziano, foi afastado da linha de frente de divulgação do programa Fome Zero. Graziano cuidará da parte burocrática do projeto e da adoção, em mais 200 municípios, do cartão-alimentação, cujo piloto está em execução desde fevereiro, em Acauã e Guaribas (PI), no Semi-Árido nordestino. A ordem de Lula foi dada em reunião com ele e assessores, anteontem à noite, no Palácio do Planalto.
Com o afastamento de Graziano, sobretudo da mídia, o presidente procura evitar novos desgastes para o amigo, que o assessorou nas campanhas presidenciais de 1994, 1998 e 2002, e que idealizou o Fome Zero (ele é especialista em segurança alimentar e professor da Universidade Estadual de Campinas, no interior de São Paulo), evitando, assim, a demissão. Para o lugar do ministro na tarefa de fazer a exposição e divulgação do Fome Zero daqui para a frente, entram os assessores especiais da Presidência Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, e Oded Grajew. Frei Betto e Grajew darão publicidade às novas ações da proposta.
Lula considera que Graziano se desgastou demais desde que, há cerca de um mês, disse, durante uma palestra, em São Paulo, que era preciso segurar os nordestinos nos Estados, caso contrário, os sulistas teriam de continuar a fazer blindagem nos carros. O ministro pediu desculpas públicas, fez carta ao Senado, disse que a comparação havia sido infeliz e que sempre fora um grande amigo dos nordestinos, mas não adiantou.
O Governo foi atingido pelo desgaste de Graziano porque manifestações políticas contrárias a ele surgiram País afora. No Recife, por exemplo, foi criado um movimento denominado Xô, Graziano. O Senado cogitou a possibilidade de aprovar um voto de censura ao ministro, mas decidiu apenas convocá-lo para falar sobre o Fome Zero.
Durante esta semana, as iniciativas de Graziano atingiram de novo a administração federal. Sem comunicar nem mesmo para o presidente ou frei Betto, ele abriu duas contas bancárias secretas para o Fome Zero, uma no Banco do Brasil (BB) outra na Caixa Econômica Federal (CEF). Cobrado por interessados em fazer doações para o programa, Frei Betto comunicou-lhes o que sabia: as contas somente seriam abertas em abril. No dia seguinte, porém, o ministro disse que as contas estavam abertas, mas que o número não poderia ser divulgado.
Tanta desordem fez Lula tomar providências para não ver naufragar a principal e mais ousada idéia na área social.
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