A oferta de compra da Portugal Telecom feita pelo grupo Sonae e que colocou em suspenso o destino da Vivo não afeta os planos da maior operadora de telefonia móvel do Brasil, segundo o presidente da empresa, Roberto Lima.
O presidente da Sonaecom, Paulo Azevedo, considera a Vivo um obstáculo à estratégia do grupo português e admitiu em entrevista à Reuters na quinta-feira que "seria muito fácil à Telefónica pagar um bom valor pela empresa". A Vivo é controlada meio a meio pela Portugal Telecom e pela Telefónica Móviles .
"Isso não muda nenhuma de nossas prioridades", comentou Lima esta manhã a jornalistas, após reunião da Apimec para apresentar os resultados da Telesp Celular Participações de 2005. As prioridades listadas por ele são prestar bom serviço, respeitar os acionistas minoritários e seguir as orientações dos atuais controladores, segundo ele.
No encontro com analistas, o executivo reconheceu que a empresa continua a registrar prejuízos. O desempenho negativo da companhia foi um dos pontos atacados por representantes do grupo Sonae quando admitiram pela primeira vez desfazer-se da Vivo. Mas Lima vê um futuro diferente para a empresa.
"Os balanços mostram perdas, mas temos um bom desempenho operacional. Talvez a estrutura de capital possa ser melhorada e a reestruturação vai trazer ganhos que não podem ser mensurados ainda", disse. "Nosso objetivo é sermos lucrativos e isso é uma questão de tempo. A Vivo é muito grande, veio de uma fusão de várias companhias, é uma empresa em construção", comentou.
A geração de caixa medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) é considerada um bom termômetro do sucesso operacional de uma empresa do setor de telecomunicações.
No ano passado, a Telesp Celular Participações, maior empresa do grupo Vivo, registrou queda de 21 por cento em relação a 2004 em decorrência de provisões e custos mais altos. Mesmo expurgando as provisões extraordinárias, haveria queda de 12 por cento no Ebitda.
Os executivos evitaram dar orientações sobre o desempenho da empresa este ano. Lima limitou-se a afirmar que a relação entre 80 por cento de usuários pré-pagos e 20 por cento de pós-pagos deve se manter em 2006.
O crescimento da base de clientes pré-pagos no ano passado em ritmo maior que a do pós-pago levou a queda de 15,5 por cento da receita média por usuário (arpu). O presidente da Telesp Celular reconheceu que o arpu do pós-pago é maior, mas fez a ressalva de que "começa a perceber clientes de pré-pago com arpu importante".
A estratégia para o ano será incrementar a venda de serviços de dados, o chamado valor agregado à voz. Em 2005, esse segmento cresceu 43 por cento, chegando a 6,6 por cento da receita líquida de serviços. A Vivo considera referência internacional para essa área 10 a 13 por cento. O executivo evitou fazer prognóstico de prazo para chegar a essa meta, mas indicou que o ritmo de crescimento terá continuidade.
Lima relatou ainda que os primeiros meses do ano estão revelando uma ofensiva das concorrentes para desovar estoques de celulares do Natal, o que justificaria o crescimento acentuado de 1,26 milhão de usuários no Brasil em janeiro, quando a base alcançou 87,47 milhões. A Vivo não tem esses estoques, segundo o executivo.
"Em janeiro, fevereiro e acho que até março a gente vai ver pressão na barreira de entrada por causa de estoques", comentou.
Apesar do resultado negativo divulgado na noite de quinta-feira, as ações preferenciais da Telesp Celular Participações subiam 6,15 por cento esta tarde, depois de terem caído 4,21 por cento na véspera. A Bovespa tinha variação positiva de 0,29 por cento.
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