Os Estados Unidos admitiram hoje que analisam seriamente a possibilidade de cancelar sua ajuda aos territórios palestinos se o Hamas formar Governo, após a vitória nas eleições da quarta-feira. O Governo dos EUA concedeu para este ano uma ajuda de US$ 150 milhões para projetos de desenvolvimento nos territórios palestinos. O presidente dos EUA, George W. Bush, analisou hoje com o influente parlamentar libanês Saad Hariri a situação no Oriente Médio, especialmente após a tempestade com a vitória do Hamas nas eleições palestinas.
Os Estados Unidos tentam decidir qual a atitude a tomar depois da inesperada vitória do movimento islâmico, que Washington e a União Européia (UE) incluem em seu elenco de organizações terroristas.
Por enquanto, os EUA já afirmaram que não negociará com o Hamas, a menos que este grupo renuncie às armas e a seu objetivo declarado de destruir Israel.
Nesta sexta-feira, Washington afirmou que, se o Hamas formar Governo nos territórios palestinos, revisará "todos os aspectos" de seus programas de ajuda a Gaza e Cisjordânia.
Segundo o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, "para ser claros, nós não damos dinheiro para organizações terroristas". "Basearemos nossas ações em nossas normas e em nossa política", disse McCormack.
O porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, expressou a mesma opinião, afirmando que se o Hamas estiver no Governo, os EUA revisarão aspectos do "programa de ajuda, sob o âmbito político e judicial que já existe". O Senado americano aprovou na quinta-feira uma moção não vinculativa que condena o Hamas e apóia o cancelamento da ajuda à Autoridade Nacional Palestina (ANP).
A secretária de Estado, Condoleezza Rice, tem previsão de se reunir na próxima segunda-feira em Londres com o resto dos representantes do Quarteto de Madri, o grupo que faz a mediação no processo de paz, em representação da comunidade internacional, para determinar quais serão os próximos passos.
Além dos EUA, o Quarteto de Madri é formado pela Rússia, União Européia (UE) e Nações Unidas. Em comunicado, após a divulgação dos resultados destas eleições, o Quarteto declarou que a criação de um Estado palestino requer que "todos os participantes do processo democrático renunciem à violência e ao terror, aceitem o direito de Israel existir e se desarmem".
Em declarações prévias a sua reunião na Casa Branca com Bush, Hariri, filho do ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, assassinado há quase um ano em um atentado do qual os EUA acusam a Síria, afirmou que a decisão de fazer a paz com Israel é do Hamas.
Segundo Hariri, que especificou que não sabia "o que o povo palestino quer", o Hamas poderia seguir o exemplo do Fatah, o movimento nacionalista palestino derrotado nas eleições e que começou como uma organização de resistência contra Israel para acabar negociando com esse Estado.
Em qualquer caso, essa evolução "levará tempo", afirmou o político, líder da maioria no Parlamento libanês. Em breve declaração ao final de sua reunião, Bush não falou sobre a situação nos territórios palestinos.
Por outro lado, se concentrou nas circunstâncias no Líbano, para pedir uma investigação "completa e firme" sobre o assassinato de Rafik Hariri, que em seus últimos meses de vida tinha se caracterizado por uma crescente oposição à presença síria em seu país.
Segundo o presidente americano, durante sua reunião os dois falaram do "mútuo desejo de que Líbano seja livre; livre de influência estrangeira, livre da intimidação síria, livre para traçar sua própria rota".
Bush anunciou também planos para realizar uma conferência internacional de doadores para o Líbano, que o líder parlamentar libanês ficará encarregado de organizar.
Uma investigação ordenada pela ONU envolveu uma série de funcionários sírios e seus aliados libaneses na morte de Hariri, mas, até o momento, ninguém foi à Justiça pelo assassinato. Damasco nega que tenha tido algum papel no atentado com carro-bomba cometido no centro de Beirute em 14 de fevereiro de 2005.
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