Encerrada a segunda guerra mundial, iniciou-se uma outra: a Guerra Fria. A vitória dos aliados embora representasse a paz, dividiu o mundo em dois grandes blocos: o capitalista sob a liderança dos Estados Unidos e o comunista comandado pela União Soviética. Sucedeu-se um período de inúmeros conflitos, de corrida armamentista sem precedentes na história e de subjugação de povos. Afinal, cada bloco ansiava pela hegemonia do mundo.
A dominação em ambos os blocos se deu pelo uso das armas, da pressão política, da chantagem diplomática e até por "programas de assistência" aos países periféricos, instrumento que se apresentava como de solidariedade aos povos.
Na América Latina, região vulnerável pela pobreza, o programa de assistência chamado Aliança para o Progresso, do presidente J. F. Kennedy foi um deles. Mesmo assim, em vários países latino-americanos essa política não logrou êxito, tanto que governos socialistas foram eleitos, razão que levaram os Estados Unidos a patrocinarem a chamada Operação Condor, com golpes e ditaduras sanguinárias a exemplo da que se instalou no Uruguai, na Argentina, no Chile e no Brasil, além de manter outras como as da República Dominicana (Trujillo), do Haiti (Duvalier), da Nicarágua (Somoza) e do Paraguai (Stroessner).
Foi nesse contexto que os americanos manipularam os militares brasileiros e impuseram, através do golpe, a ditadura militar e a sua política de dominação, afastando o Brasil de um mundo multilateral e aberto, o que lhe teria sido mais vantajoso.
É fato que a ditadura no Brasil chegou ao seu final como, de resto, em todos os países da América Latina. Presidentes da República foram eleitos e as nossas instituições democráticas se consolidam. Da mesma forma, em todo o Brasil, governadores de Estado estão sendo eleitos diretamente pelo povo, numa permanente alternância do poder, o que bem caracteriza a democracia.
Sergipe, no entanto, é a única exceção entre os vinte e sete estados brasileiros - incluído o Distrito Federal - que ainda não conheceu um governo que não fosse originado da ditadura militar. Aqui não houve, ainda, a alternância de poder como se verificou em todos os Estados do país, a exemplo da Bahia com Waldir Pires e de Alagoas com Ronaldo Lessa, Estados de tradição "coronelesca".
Cassado Seixas Dória em 1964, de lá para cá, até hoje, mais de 40 anos depois, todos os governadores que se sucederam em Sergipe foram "afilhados" da ditadura militar.
Não saímos, ainda, daquele período obscurantista. Os governos de Sergipe ainda são a resultante da herança da ditadura - da ARENA e do PDS - aquela que era a vontade do governo americano, a vontade de um dos pólos da Guerra Fria, a vontade de um mundo bipolarizado que não existe mais desde o final da década de oitenta quando da queda do muro de Berlim.
Após o ciclo das ditaduras patrocinadas pelos Estados Unidos - aquelas que derrubaram os governos progressistas lá do início da década de sessenta - a América Latina já vive, novamente, um novo ciclo de governos progressistas, a exemplo do Uruguai, da Argentina, do Chile, da Venezuela e agora da Bolívia com a eleição do índio Evo Morales. Portanto, o mundo vive em ebulição, se transforma, progride, evolui.
Mas em Sergipe é diferente! Sergipe, dentro do Brasil, não evoluiu politicamente. Sergipe continua o mesmo de quarenta anos atrás. Sergipe não vivenciou, ainda, a queda da ditadura militar, nem a queda do muro de Berlim ocorrida há dezesseis anos e que pôs fim à era da Guerra Fria.
Mas este ano que se inicia é ano de eleições, e a esperança é que o VENTO DAS MUDANÇAS que sopra na América Latina e em todo o mundo sopre, também, em terras de Sergipe para que o povo possa conhecer um governo diferente, para que haja a alternância de poder depois de quarenta anos. Mas esse desiderato depende da unidade das forças progressistas - as que ainda restam. Essas pessoas, depois de tantas lutas, não podem "morrer na praia" e, caindo no canto da sereia, rasgar a própria biografia como muitos já fizeram e que por isso mesmo ficaram para trás, no limbo da história. Coragem é a palavra de ordem. Mas aí já é assunto para a próxima semana.
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