O relatório preliminar da CPI dos Correios referente à área de movimentação financeira, redigido pelo sub-relator Gustavo Fruet (PSDB-PR), concluirá que é falsa a tese de empréstimos apresentada pelo empresário Marcos Valério para justificar a origem do dinheiro de caixa dois que abasteceu o PT e partidos aliados. O parecer, que será entregue na próxima segunda-feira, baseará as conclusões em uma detalhada auditoria nas contas do empresário. De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, os cerca de R$ 55 milhões que o empresário diz ter tomado emprestados em instituições financeiras como o Banco Rural, supostamente a pedido do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, vieram de outras fontes.
"Os empréstimos são uma fantasia", afirma Fruet. "Vamos apresentar planilhas com toda a movimentação bancária do Marcos Valério, comparar com dados contábeis e com os empréstimos bancários. Isso mostra o desencontro das informações e que não tem empréstimo entre ele e o PT", disse ao jornal Folha de S.Paulo.
Partindo do pressuposto de que os empréstimos não existiram, o relatório de Fruet apontará como uma das prováveis fontes de recursos os contratos das empresas de publicidade do empresário com o governo. Ele acredita que os mesmos tenham servido de "fachada" para desviar recursos da União em valores superfaturados. Por isso, vai solicitar uma auditoria nos referidos contratos. A tarefa da CPI, agora, será comprovar qual seria a origem verdadeira dos recursos.
Para chegar à origem do dinheiro do caixa dois, nas duas próximas semanas será ouvida a ex-presidente da Brasil Telecom Carla Cicco, entre outros depoentes. No caso de Carla, os parlamentares pretendem saber detalhes de contratos firmados entre a tele e as agências de Valério, no valor de R$ 50 milhões.
Segundo afirma o sub-relator, os técnicos contratados pela comissão parlamentar de inquérito descobriram que o dinheiro dos supostos empréstimos desapareceu das contas de Valério logo após serem creditados. Uma das operações mencionadas por Marcos Valério, no valor de R$ 12 milhões, pode representar a maior parcela do montante depositado em dólares para o publicitário Duda Mendonça no exterior - aproximadamente R$ 10 milhões repassados à offshore Dusseldorf, titular de conta nos Estados Unidos - e, na verdade, pertencente a Mendonça.
Na intenção de desvendar as operações envolvendo o publicitário, reponsável pela campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, a CPI també, vai inquirir Marcelo Viana, funcionário da casa de câmbio Barcelona Tour, do doleiro Antonio Claramunt, o Toninho da Barcelona. Sem apresentar provas, Barcelona acusa o PT de esquema de envio de recursos ilegais para o exterior.
O sub-relator pretende entregar, até o final do ano, uma série de outros relatórios sobre outros temas analisados pela comissão. Um dos principais versa a respeito das corretoras Bônus-Banval e Guaranhuns, suspeitas de terem servido para lavagem de dinheiro. A documentação já está sendo enviada para a Polícia Federal e Ministério Público. A respeito das contas de Duda Mendonça, a CPI deve enviar na próxima semana uma missão aos EUA atrás de documentação que possa esclarecer de onde vieram os R$ 10 milhões.
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