Em dezembro do ano passado, o Google anunciou seu plano de criar uma grande biblioteca virtual onde seriam apresentados volumes das principais universidades dos EUA, entre elas Harvard e Stanford, da Biblioteca Pública de Nova York e da universidade de Oxford, no Reino Unido. O acordo, que colocaria 15 milhões de livros à disposição do internauta, é o projeto mais ambicioso da história da empresa. Desde então, vem causando polêmica, angariando opositores e gerando iniciativas semelhantes. O caso vem sendo tratado como uma nova frente de batalha na Internet. O projeto faz parte do Print Program do Google, que tem duas partes, uma para editoras e outra para bibliotecas. No tocante às editoras, a companhia trabalha com diversas delas para tornar os títulos disponíveis, fáceis de encontrar e de comprar. Os resultados da busca incluem anúncios, se a editora quiser, e a maior parte do lucro vai para os editores. A parte controversa e que vem gerando muita polêmica, é a Print Library Project, justamente a "grande biblioteca virtual".
"Não compreendemos como a compilação desse material por parte de uma empresa com fins lucrativos pode ser considerada um uso justo", disse Allan Adler, diretor da Associação de Editoras dos EUA, o principal grupo da indústria do setor e forte oponente ao projeto. Em setembro deste ano, a associação e os escritores Herbert Mitgang, Betty Miles e Daniel Hoffman abriram processo contra o Google. Há pouco dias, cinco grandes editoras também ajuizaram ações contra o projeto em um tribunal federal de Manhattan, pedindo o bloqueio dos planos da empresa.
O Google também encontrou oposição fora dos Estados Unidos. Já em março o presidente da França, Jacques Chirac, instruiu a Biblioteca Nacional francesa a preparar um plano para colocar os trabalhos literários europeus na Internet. A aprovação de Chirac veio depois que Jean-Noel Jeanneney, o diretor da Biblioteca, expressou preocupação com a possibilidade de que o plano do Google fosse favorecer o idioma inglês.
Esta semana, a associação alemã de editoras anunciou, na Feira de Frankkfurt, que planeja criar uma rede, a partir de 2006, que vai permitir a busca online em textos de livros por meio de serviços de busca da Web. Mas não vai entregar a esses serviços o texto integral dos livros. "Não queremos que o Google tenha os textos em seus servidores; queremos que as editoras fiquem com eles", disse Matthias Ulmer, o encarregado do projeto.
Os opositores temem que o Google faça "uso comercial" do projeto que, para alguns, está disfarçado como sendo "de uso educacional". Vêem perigo no fato de o Google ter o controle, e não, por exemplo, as editoras. O Google se defende dizendo que, das obras protegidas por direito autoral, será possível ver apenas pequenos trechos, algumas poucas frases, e que os autores que não quiserem participar não terão suas obras indexadas. À acusação de que quer "lucrar com o projeto", o Google afirma que não haverá anúncios no Google Library Project.
O debate segue acalorado. Mas mesmo entre os juristas, não há consenso sobre o caso. E a questão pode ser condensada numa pergunta: o Google está no caminho de se tornar um violador de direitos autorais em proporções épicas ou é um batalhador da educação tentando tornar até o mais obscuro dos livros acessível numa busca pela Web?
No início deste mês, o Yahoo anunciou a criação de um consórcio, a Aliança de Conteúdo Aberto (OCA, na sigla em inglês) com objetivos semelhantes aos do projeto do Google. Entre os fundadores do consórcio, estão o grupo sem fins lucrativos Internet Archive, as bibliotecas das universidades da Califórnia e de Toronto e as empresas de tecnologia HP e Adobe. A OCA é diferente do projeto de digitalização do Google porque somente inclui obras cujos autores aceitaram participar da coleção, dizem os organizadores.
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