A sucessão de Severino Cavalcanti na presidência da Câmara tende a se transformar num confronto direto entre governo e oposição, com chances reduzidas de uma alternativa "de consenso", disse o presidente do PMDB, Michel Temer, nesta sexta-feira. O adversário do ex-ministro Aldo Rebello (PCdoB-AL), candidato do governo, pode ser o próprio Temer ou o deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL). "Acho que teremos um candidato do governo contra um adversário forte", disse Temer à Reuters nesta sexta-feira. "Mantenho minha candidatura e me reservo o direito de analisar os desdobramentos", acrescentou.
Surpreendido pelo apoio do ex-candidato do PT, Arlindo Chinaglia, e do Palácio do Planalto a Aldo Rebello (PCdoB-SP), Temer inciou entendimentos com Nonô (AL), com vistas ao apoio mútuo.
"Das candidaturas postas, as mais naturais são a minha, porque já fui presidente da Casa, e a do deputado Nonô, porque é o atual vice-presidente", acrescentou.
Nonô foi lançado com o apoio formal do PSDB e do PFL, que têm cerca de 100 dos 513 deputados. Se vencer, Nonô abre a vaga de primeiro vice-presidente, que ocupa atualmente, para uma composição com outro partido.
Temer esperava contar com o apoio do Planalto e com a unidade do PMDB (87 deputados), o que poderia garantir sua eleição em primeiro turno. O projeto foi frustrado porque, além de não ter o apoio de Lula, Temer perderá para Aldo Rebello os votos de parte da bancada do PMDB.
Chinaglia anunciou sua desistência em favor de Aldo no final da tarde de quinta-feira, num movimento combinado com o Planalto, segundo dois ministros políticos ouvidos pela Reuters.
O Planalto, de acordo com essas fontes, não se iludiu com a remota hipótese de eleição de um deputado petista, mas assim mesmo estimulou o PT a apresentar um candidato. Do contrário, analisam essas fontes, o partido estaria aceitando publicamente um veto da oposição ao seu direito de disputar a presidência da Casa. A manobra foi consumada mas gerou insatisfações no próprio PT e afastou a possibilidade do apoio do grupo do PMDB ligado a Michel Temer.
A cristalização de uma disputa política, pautada pelas eleições de 2006, além de afastar uma saída "de consenso", reduz as chances de uma candidatura do chamado "baixo clero", responsável pela vitória de Severino em fevereiro.
Na linha do "consenso", a candidatura mais visível é a do deputado Francisco Dornelles (PP-RJ). Ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso, Dornelles não fez oposição a Lula é um dos mais experientes deputados da Câmara, no quinto mandato. Dornelles ainda é visto no Planalto como reserva importante, se o nome de Aldo não deslanchar até a vépera da eleição.
Os votos do baixo clero serão disputados pelos dois pólos, mas a forma como Aldo Rebello foi lançado provocou uma reação inicial desfavorável ao governo. Apenas o PC do B e o PSB, dentre os aliados, participaram do movimento pró-Aldo. "O nome do Aldo, imposto dessa maneira, foi um erro", disse o deputado João Caldas (PL-AL), que também é candidato. "Ainda não há consenso na base e o governo tomou sua decisão sem nos consultar."
Temer e Nonô vão avaliar suas próprias perspectivas em conversas com Caldas e outros candidatos de partidos médios, como Luiz Antônio Fleury (PTB-SP) e Ciro Nogueira (PP-PI). O PSDB pode reavaliar o apoio a Nonô, dependendo da maior viabilidade de Temer ou mesmo de outro nome que não seja aliado ao governo, disse um vice-líder tucano.
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