O deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) renunciou ao mandato parlamentar em discurso realizado no plenário da Câmara na tarde desta quarta-feira, mas prometeu que voltará ao Congresso. Ao fim de seu pronunciamento, um grupo de manifestantes provocou um tumulto nas galerias da Câmara ao protestar sob gritos de "Cai fora, Severino" e "Mensalinho". O vice-presidente da Câmara, deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), ordenou a retirada do público. Pelo menos duas pessoas foram retiradas do local com o uso da força."Muitos estranharam minha demora em tomar a decisão de renunciar. É que o senso comum consolidou como verdade a idéia de que renúncia é confissão de culpa. Em meu caso, isso significaria admitir atos que definitivamente não pratiquei e pelos quais não tenho qualquer responsabilidade", diz Severino.
Segundo o discurso, que foi distribuído antes para alguns jornalistas, Severino afirma que seus acusadores não deixaram alternativa. "Optei aqui pela renúncia, porque já me sabia condenado de antemão. Minha culpabilidade foi declarada sem apelação, antes das provas e mesmo do processo e minha condenação vem antes de qualquer sentença: veio pela imprensa, pela voz de alguns poucos, veio por aqueles interessados em tornar vaga o mais rapidamente possível a cadeira do presidente da Câmara".
Severino iniciou o discurso citando o escritor Euclides da Cunha, no livro Os Sertões : "o sertanejo é antes de tudo um forte". Severino lembrou de sua infância e afirmou que como todo menino pobre do Nordeste, ele deveria ganhar seu próprio sustento e ajudar sua família. Por isso, disse ele, não conseguiu terminar o 1º grau.
Ele negou as denúncias levantadas pelo empresário Sebastião Buani, de que teria recebido propina de R$ 10 mil mensais para renovação do contrato do restaurante da Câmara, o chamado "mensalinho". "Denunciei de imediato o esquema de extorsão, pedi ao ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos que abrisse inquérito contra o denunciante e o sr. ministro acionou com presteza a Polícia Federal", disse.
Sobre a sua renúncia, Severino frisou que a luta pela sua sucessão tornou-se mais importante que as provas da sua inocência. "Repito que as acusações contra mim são inconsistentes, na verdade, são falsas e mentirosas e vou comprovar isso nos tribunais", defendeu-se.
O ex-parlamentar acusou a mídia de publicar denúncias contra ele. "Não vou me render às necessidades da mídia, que me tem ultrajado com manchetes mentirosas, que me tem alvejado com textos caluniosos, por alguns exemplares a mais", afirmou.
Severino, referindo-se à sua vida política, lembrou que "o pernambucano do Agreste" se tornou o deputado federal com mais mandatos consecutivos dos últimos 40 anos.
Ele lembrou que, durante seu mandato como presidente da Câmara, lutou pela democratização da Casa e citou relatos de deputados: "Nesses sete meses para mim, foi instaurada a democracia na Casa. O Severino ouvia todo e qualquer parlamentar, sendo cacique ou não. Acabou aquela coisa de somente meia dúzia de privilegiados mandar na pauta e nas comissões."
"Mostramos que a Câmara dos Deputados pode, sim, ser independente", disse. Ele lembrou que, quando o Governo tentou impor aumento de impostos, por meio da Medida Provisória 232, a Câmara mobilizou o país em relação à medida, que era "injusta", como definiu.
Severino finalizou o depoimento dizendo que vai provar a sua inocência. "Voltarei. (...) Vou rebater as acusações. Vou provar que estou sendo condenado pelas palavras de um empresário desastrado, mentiroso e devedor dos cofres públicos. (...) O povo me absolverá."
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