As 10 mil pessoas que se refugiaram do furacão Katrina no estádio Superdome - entre elas duas turistas brasileiras, de acordo com cônsul do Brasil em Houston, Carlos Pimentel -, em Nova Orleans, correm risco de vida, porque a água das inundações continua subindo, afirmou nesta terça-feira a governadora de Louisiana, Kathleen Blanco. Enquanto isso, a estimativa de mortes em conseqüência da chuva e ventos fortíssimos chega a pelo menos 70 pessoas (a maioria no Estado do Mississippi), porém o número de vítimas fatais pode chegar a centenas. Por conta da evacuação, que deixou cidades inteiras praticamente desertas, a Guarda Nacional dos Estados Unidos foi acionada para evitar saques. "Há água na altura dos pés do Superdome agora", disse a governadora à imprensa, acrescentando que "acho que vi pessoas caminhando com água até o joelho".
As inundações em Nova Orleans tendem a se agravar em algumas áreas, com o fracasso nesta terça-feira nos trabalhos de reparo de um dique e a falha nos sistemas de bombeamento, anunciou o prefeito da cidade.
"Nas próximas 12 a 15 horas, as águas se elevarão na baía leste de Nova Orleans a níveis que algumas seções da cidade, que hoje estão secas, podem ter nove ou dez pés (mais de três metros) de água", disse o prefeito Ray Nagin à rede CNN.
"Temos uma ruptura de dique com uma significativa quantidade de água fluindo para a cidade", acrescentou.
Saques
Saqueadores atacaram a cidade devastada, empurrando carrinhos de mão cheios de mercadorias e carregando pacotes tirados de lojas do centro de Nova Orleans. O prejuízo econômico da passagem do furacão pode ser o maior da história do país, segundo estimativas sobre os danos.
Governadores dos Estados atingidos convocaram 7,5 mil membros da Guarda Nacional para ajudar a conter os saques, remover os escombros e entregar ajuda.
De acordo com a ABC News, os saqueadores em Nova Orleans podiam ser contados na casa dos milhares e pegavam tudo o que estivesse desprotegido enquanto policiais observavam sem poder fazer nada.
Numa outra área, membros de uma equipe de armas especiais ostentavam armamentos pesados numa demonstração de força.
Helicópteros resgatavam sobreviventes em pânico do telhado de casas inundadas nos Estados Unidos, na terça-feira.
Autoridades faziam planos para remover milhares de refugiados do Katrina do estádio Superdome e de outros abrigos em Nova Orleans. Elas também pretendiam atirar sacos de areia para preencher as brechas no sistema de barragens da cidade que permitiram que as águas do lago Pontchartrain invadissem as ruas.
"A devastação é maior do que em nossos piores temores", afirmou a governadora do Estado da Louisiana, Kathleen Blanco, em uma entrevista coletiva.
Em Biloxi, na região costeira do Mississippi, centenas de pessoas podem ter morrido depois de terem ficado presas em suas casas quando uma onda de 9 metros atingiu a área, afirmou um porta-voz da cidade.
"Os números (de mortos) devem chegar à casa das centenas", disse à Reuters o porta-voz Vincent Creel. "O (furacão) Camilla deixou 200 vítimas e estamos calculando algo bastante maior que isso", afirmou, referindo-se ao furacão que atingiu a área em 1969 e destruiu grande parte do Mississipi e da Louisiana, matando no total 256 pessoas.
O prefeito de Nova Orleans, Ray Nagin, afirmou que corpos apareceram boiando nas águas que cobriram a cidade. Equipes de resgate tentavam vencer a água e montanhas de destroços para chegar a pontos atingidos pelo Katrina ao passar pela região, na segunda-feira, vindo do golfo do México.
A tempestade provocou danos catastróficos em toda a costa ao atingir a Louisiana com ventos de 224 quilômetros por hora. Depois o Katrina passou pelo Mississippi, pelo Alabama e pelo Tennessee.
O furacão destruiu prédios, danificou barcos, esmagou carros, derrubou árvores e inundou cidades. Empresas de análise de risco estimam que o Katrina pode levar as seguradoras a pagar até 26 bilhões de dólares em indenizações, o que o transfomaria no desastre natural mais dispendioso da história dos EUA.
A maior parte das mortes parece ter sido provocada pelas águas trazidas pela tempestade, que invadiram até 1,5 quilômetro do território do Mississippi em alguns pontos.
Centenas de pessoas subiram nos telhados de suas casas para escapar das enchentes e esperaram ali para serem resgatadas. Outros moradores da área podem ter ficado presos em cômodos de suas habitações.
Sob as águas
"Quase 80% de nossa cidade (Nova Orleans) ficou debaixo d'água. Em alguns lugares a água chegou a subir 6 metros", afirmou Nagin ao canal de TV WWL.
A cidade fica em sua maior parte debaixo do nível do mar e é protegida por um sistema de barragens. As barreiras cederam durante a noite em alguns lugares. Em um ponto, houve um rompimento de 60 metros, permitindo que as águas de um lago próximo inundassem o centro da cidade.
As bombas não conseguiram evitar o problema e as enchentes ameaçam o centro e o French Quarter (bairro francês), uma área de valor histórico.
"Sempre tivemos medo de que a depressão na qual está Nova Orleans ficasse cheia rapidamente", afirmou Walter Maestri, coordenador dos serviços de emergência para a Jefferson Parish.
O Exército dos EUA planeja usar helicópteros para jogar grandes sacos de areia e pedregulhos nos locais onde houve rompimento da barragem. Autoridades também consideram a colocação de conteinêres cheios de areia nesses locais.
A governadora Blanco disse que um plano para tirar os desabrigados do estádio Superdome, que está sem energia elétrica, e de outros abrigos já está em desenvolvimento.
A vice-presidente do Centro Médico da Universidade Tulane, Karen Troyer-Caraway, disse à CNN que o hospital do centro da cidade estava cercado por 6 metros de água e que as autoridades estudavam a possibilidade de retirar mil pacientes do local. "A água está subindo tão rapidamente que não consigo nem começar a descrever isso", disse.
História de terror
Os moradores da região usaram machados e, em ao menos um caso, uma espingarda para abrir buracos no teto de suas casas a fim de escaparem das inundações. Muitos que ainda não puderam ser resgatados podiam ser ouvidos gritando por socorro, disse a polícia.
"É uma história de terror. Preferia estar lendo a esse respeito em algum outro lugar do que estar vivendo isso", afirmou Aaron Broussard, presidente da Jefferson Parish de Nova Orleans.
No Mississippi, as águas inundaram o centro de operações de emergência, instalado no prédio da Justiça no condado de Hancock, e a parte detrás da construção desabou.
"Um grupo de 35 pessoas saiu às pressas do centro de operações de emergência com coletes salva-vidas", afirmou Christopher Cirillo, diretor dos serviços médicos do condado vizinho de Harrison.
Antes de atingir a costa do golfo do México, o Katrina passou pelo sul da Flórida, na semana passada, matando sete pessoas.
O furacão cortou o fornecimento de energia elétrica para cerca de 2,3 milhões de clientes, ou quase 5 milhões de pessoas, na Louisiana, no Mississippi, no Alabama e na Flórida.
A tempestade também passou pelos campos de extração de gás natural e petróleo do golfo do México, onde é produzido 20 por cento dos combustíveis do país. Na terça-feira, o preço do barril de petróleo subiu para US$ 70,85.
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