A Prefeitura de São Bernardo do Campo promove neste domingo (5 de junho) missa campal como parte da programação do Dia Internacional do Meio Ambiente. E tem motivos para comemorar a ajuda que tem dado para a preservação ambiental. Afinal, o Programa de Coleta Seletiva adotado a partir de setembro de 2000 chega aos cinco anos contabilizando até maio último nada menos do que 18 mil toneladas de lixo reciclável recolhidas, quantidade suficiente para encher 3,6 mil caminhões basculantes.
Esses números poderiam ser bem maiores, até porque a cidade produz diariamente 600 toneladas de lixo, das quais cerca de 120 toneladas de resíduos potencialmente recicláveis. No entanto, a coleta seletiva só consegue evitar que uma média de 16 toneladas/dia seja enviada para o aterro sanitário. O problema, segundo o chefe do setor de limpeza pública da Prefeitura de São Bernardo, Luiz Adriano Prezia Carneiro, é que esse processo é relativamente novo em termos de Brasil e ainda é preciso realizar intenso trabalho de conscientização da população sobre a importância de se fazer a reciclagem. “O caminho a ser percorrido ainda é longo, mas os resultados obtidos até agora indicam que é possível atingir um ponto mais próximo do ideal na coleta do lixo reciclável”, comenta, otimista, Prezia Carneiro.
E o chefe do setor de limpeza pública da Prefeitura tem mesmo motivos para acreditar que a coleta seletiva livrará o meio ambiente de quase todo o lixo que pode ser reciclado num futuro não muito distante. Os números levantados pelo departamento desde que o programa foi adotado em São Bernardo conspiram a favor de sua tese: em 2000 (três meses e meio de trabalho), foram coletadas 312 toneladas, número que subiu para 2.496 em 2001, 3.740 em 2002 e 2003 e 4.992 em 2004. Nos cinco primeiros meses deste ano o departamento contabilizou 2.080 toneladas de lixo reciclável recolhidas, sobretudo plástico, vidro, papel e plástico.
Mas o trabalho de evitar que 18 toneladas diárias de lixo reciclável acabem no aterro sanitário envolve outros agentes além da Prefeitura. Prezia Carneiro calcula que o serviço de coleta municipal retire, aproximadamente, quatro toneladas depositadas nos 203 ecopontos (local aonde a população coloca materiais recicláveis) espalhados pela cidade. As outras 16 toneladas estimadas são coletadas por aproximadamente 2 mil catadores que perambulam pelas ruas de São Bernardo, muitos de fora do município, atrás de materiais que vendem em ferros-velhos. “Do ponto de vista ambiental, o trabalho dos catadores tem importância. Mas em termos de inclusão social não tem o menor significado”, avalia Prezia Carneiro.
Lixo e Cidadania -- A inclusão social, a partir da coleta de lixo reciclável a que se refere o chefe do setor de limpeza pública de São Bernardo, é desenvolvida desde 1998 na cidade por meio do Programa Lixo e Cidadania, inicialmente com o objetivo de retirar as crianças que trabalhavam no “garimpo” de lixo no extinto Lixão do Alvarenga e colocá-las em escolas e creches. O levantamento feito na época pela Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania (Sedesc) da Prefeitura detectou a presença de 92 famílias na área, com 105 crianças de zero a 14 anos.
Com o problema das crianças resolvido, a Prefeitura passou a buscar meios para promover a inclusão social dos pais com geração de trabalho e renda. Isso aconteceu em fevereiro de 2001, quando foram inaugurados dois Centros de Ecologia e Cidadania: um no Bairro Assunção, destinado aos ex-catadores do Lixão do Alvarenga (40 atuam no centro), e o outro na Vila Vivaldi, onde hoje trabalham 27 ex-catadores de rua. E é para esses dois centros que vai a maior parte das quatro toneladas de lixo reciclável coletada pelo serviço público. Em média, cada uma dessas pessoas retira entre R$ 400 e R$ 500 por mês.
“O objetivo é fazer a inclusão social destas pessoas, ajudar a resgatarem sua cidadania. E nesse sentido o programa tem mostrado excelentes resultados, até porque estas pessoas já não correm riscos nas ruas, não têm mais de passar frio, ficar sob a chuva, porque estão abrigadas nos centros, onde podem trabalhar com dignidade. Sem contar que aquelas que têm filhos, hoje podem vê-los na escola, longe das ruas e do lixo. Sei que temos de fazer mais, e vamos fazer, tanto para o meio ambiente quanto para as pessoas que querem deixar o trabalho de percorrer as ruas em busca do sustento”, afirma o prefeito William Dib, que persegue a retomada do desenvolvimento econômico: “Só assim é que poderemos fazer justiça social.”
A vontade do prefeito de cada vez mais promover a inclusão social dos catadores de rua não é mera retórica. E isso fica claro no anúncio da chefe da seção de Geração de Renda da Sedesc, Aparecida de Souza Sobral, que programa para agosto a convocação de 526 pessoas que trabalham nas ruas para a Frente de Trabalho da Prefeitura. Elas passarão a integrar o Programa de Requalificação e Apoio ao Catador de Rua, que já abriga outras 230 pessoas. Além de cursos de qualificação e alfabetização (para quem não é alfabetizado), o programa paga bolsa-auxílio de R$ 260 por mês e fornece vale-transporte.
Essas 726 pessoas estavam entre os 2.071 catadores de rua atuando em São Bernardo, segundo cadastramento feito pela Sedesc. Desse total, 1,9 mil são moradores de São Bernardo e, destes, 1.364 foram chamados para participar do Programa de Requalificação e Apoio ao Catador de Rua. “Muitos, porém, preferem continuar nas ruas porque não querem se submeter a regras. E nossos programas têm regras a ser seguidas, como manter os filhos na escola. De qualquer forma, atingimos um bom número de catadores, que viram na nossa proposta de trabalho uma chance de ter uma vida mais digna no futuro”, disse Aparecida de Souza.
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