A adoção pode ser a solução para casais que não podem ter filhos

 

Mulher - 22/09/2004 - 09:56:51

 

A adoção pode ser a solução para casais que não podem ter filhos

 

Da Redação com agências

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Desde o início deste ano, a vida da professora Lourdes Gondim está bem mais movimentada. Em sua casa na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, onde vive com o marido e três filhos adolescentes, há quatro novos integrantes: Joana, Bruna, Bárbara e Bruno, com idades entre 5 e 11 anos. Eles fazem parte de um sonho antigo da família: a adoção. Quando Lourdes os conheceu, eles já estavam em processo de adoção internacional. Cada um iria para uma família diferente. Disposta a mantê-los unidos, entrou com um pedido para ficar com eles. “Eu queria adotar uma criança já crescida, porque nenê dá trabalho. Tive a sorte de encontrar essas crianças. Além de terem se adaptado superbem à família, se fazem companhia, se distraem, se divertem juntos”, diz ela, que conta com a ajuda dos filhos para dar conta do pique dos pequeninos. Abrir a casa e o coração para uma criança abandonada é um gesto nobre, mas ainda muito raro no Brasil. De acordo com pesquisas realizadas pelo IBGE, existem 200 mil crianças sem família no país. Esse número elevado não mostra somente a situação de carência em que se encontra a garotada, mas também outro ponto curioso: tem gente que fica na fila para adotar durante anos e anos, só porque não encontra crianças dentro do padrão que é preferência nacional: louras e de olhos claros. Crianças negras, mulatas, asiáticas, deficientes físicas ou portadoras de doenças acabam ficando para trás, muitas vezes perdendo a chance de possuir uma família. “É interessante notar como o Brasil, país mais mestiço do mundo, ainda é cheio de preconceito. Há pessoas que preferem fazer cadastro de adotantes em estados do Sul do país, porque sabem que lá terão maiores chances de encontrar pessoas de pele clara”, observa a psicóloga Lidia Weber, autora de diversos livros sobre adoção e uma das mais importantes pesquisadoras do assunto. Não bastasse essa dificuldade, as crianças à espera de uma chance vêem seu sonho ir por água abaixo à medida que vão crescendo. Casais brasileiros, ao contrário do que acontece na adoção internacional, têm preferência por crianças pequenas. Isso acontece, segundo a psicóloga, porque as pessoas têm medo de que as crianças mais velhas tragam algumas conseqüências psicológicas do abandono. No entanto, tudo isso pode ser contornável. “O ser humano é totalmente adaptável, capaz de refazer sua vida, reescrever sua história, especialmente quando há amor em volta dele. Existem dificuldades, sim, mas elas ocorrem somente na fase inicial”, argumenta Lidia Weber. Há outras crenças que dificultam muito o processo de adoção, como o medo de a criança enveredar pela prostituição e marginalidade, ou então de vir a desenvolver doenças hereditárias. Porém, somente o temor de doenças hereditárias tem fundamento, apesar de ser um risco que se corre até mesmo com filhos biológicos. Família legal A adoção, até o início da década de 90, era um processo pra lá de complicado. Além de toda a burocracia, havia a exigência de que o interessado fosse casado e maior de 30 anos. Hoje, com o novo Código Civil, qualquer pessoa acima de 18 anos, de qualquer classe social, estado civil ou preferência sexual, pode se candidatar – desde que seja 16 anos mais velho do que a criança e não possua antecedentes criminais. O procedimento para realizar uma adoção também é simples: é só comparecer a uma Vara da Infância de Juventude, levando o RG e um comprovante de residência. Mais tarde serão exigidos outros documentos, como fotocópia de certidão de nascimento, comprovante de renda e atestados de saúde física e mental. Uma entrevista, feita por psicólogos e assistentes sociais, vai investigar se a pessoa está apta à adoção – psicológica e financeiramente. Logo depois, chega a hora de definir qual o perfil esperado para o filho. Na cidade do Rio de Janeiro, por determinação da Vara de Infância e da Juventude, não se pode mais escolher a cor, a idade e o sexo de crianças até quatro anos de idade. No resto do estado do Rio e do país, isso ainda é possível. Antes de dar o sinal verde para a adoção, o serviço social do juizado ainda faz uma visita à residência do interessado. “É importante haver condições mínimas para uma boa vida, uma casa bem-cuidada e estabilidade”, observa a promotora Luciana Caiado Ferreira, da Vara de Infância e Juventude de Belford Roxo (RJ). Localizada a criança com o perfil desejado, é dado início ao chamado período de convivência, com duração aproximada de um mês, que permite à criança conhecer a família e sua nova casa. “No início, meus filhos vinham apenas na tarde de sábado. Na semana seguinte, passavam o dia todo. Mais tarde, começaram a ficar conosco durante todo o final de semana”, relembra Lourdes Gondim. Mãe é mãe Mulheres que adotam são vistas pela Justiça como mães de verdade, tanto que é possível até mesmo dar um tempo no trabalho para organizar a nova vida. Apesar de não terem de passar pelas dores do parto ou amamentar, o direito à licença-maternidade está garantido, da mesma forma que às mães biológicas. O período varia de acordo com a idade do pimpolho. São 120 dias para crianças de até um ano, 60 para crianças entre 1 e 4 anos e 30 para crianças entre 4 e 8 anos. Da mesma forma que os direitos são iguais aos de uma mãe biológica, os deveres com a criança também são. É proibido à família adotiva devolvê-la, qualquer que seja o motivo – ou seja, a responsabilidade é a mesma que eles teriam diante de problemas com os filhos biológicos.

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