Qual o limite do apoio total, nos problemas, em um relacionamento amoroso

 

Mulher - 12/06/2004 - 12:00:07

 

Qual o limite do apoio total, nos problemas, em um relacionamento amoroso

 

Da Redação com agências

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Da Redação com Agências É muito comum ouvir gente mais velha se referindo ao cônjuge como companheiro. Não é à toa: depois de tantos anos juntos e inevitáveis dias nublados, a palavra cai como luva – pessoa leal com quem se pode contar em qualquer circunstância. O companhei-rismo é, sem sombra de dúvida, sinal de amor. Quando o namorado está com problema de grana, de saúde, problemas de família ou no trabalho, o coração fica apertado e a vontade de ajudar é natural e incontrolável. Mas apoio, como tudo na vida, tem limite. Difícil é saber onde fica. Às vezes, o que o outro mais precisa é compreensão. A advogada Eliana Maia foi companheirona do namorado, enquanto ele estudava para concurso público. “Por falta de dinheiro, o Mauro pensava em desistir do concurso, chutar o balde e arranjar um emprego qualquer”, diz. Os programas de sábado à noite eram escolhidos pelo critério da conta mais barata. “Às vezes, nem saíamos de casa, porque ele ficava esgotado de tanto estudar”, lembra. Eliana não fazia cara feia. Pelo contrário, incentivou o namorado a investir em si e ainda deu boas dicas. “Ele tinha dificuldade de se concentrar e eu sugeri que estudasse na biblioteca da minha faculdade”, conta. Com todo apoio, compreensão e, claro, horas de estudo, Mauro enfim passou num concurso – só que em Belém! Eliana mora no Rio. “Passamos por vários perrengues juntos e na hora de aproveitar o resultado, ele foi pra longe”, conta. A distância pesou e eles terminaram o namoro. Mesmo sem final feliz, ela afirma que não se arrepende de ter ajudado o ex: “Meu papel foi importante, porque ele sabia que estava com uma pessoa que gostava dele e em quem podia confiar. Ao mesmo tempo, aprendi um monte de coisas e amadureci muito”, conta. Se há troca, a relação é sempre saudável. O Professor da USP Ailton Amélio da Silva, autor do livro “Mapa do Amor”, explica que o investimento a longo prazo faz parte de relacionamentos duradouros. “Na vida a dois, há momentos em que um está em melhor situação e pode ajudar o que estiver passando por má fase”, explica. Segundo o psicólogo, quando a questão é financeira, fica um pouco mais difícil para o homem. “Na nossa sociedade ainda é esperado que ele seja o provedor. A falta de dinheiro atenta mais fortemente quanto ao papel do homem no relacionamento do que quando a condição é inversa”, ressalta. Pior é quando os problemas do namorado pesam toneladas nas nossas costas. A estudante Isabela Bastos, 25 anos, segurou uma barra pesadíssima com o ex, que era dependente químico. “Eu pensava que o meu amor era capaz de consertar tudo, até libertá-lo das drogas, mas não foi bem assim”, lembra. Durante quatro anos de relacionamento, ele perdeu o emprego, foi internado e Isabela procurou estar do seu lado o tempo todo. Até que não deu mais: “Eu percebi que a minha vida tinha ficado em segundo plano, não tinha cabeça para estudar, sempre nervosa”, conta. Isabela começou a se prejudicar no estágio e acabava deixando os próprios compromissos de lado, sempre preocupada com o namorado. Mesmo gostando dele, a estudante terminou o namoro. “Sei que fiz a minha parte, ajudei bastante, mas queria resgatar a minha vida, voltar a ser o que eu era”, conta. Ela garante que tirou lições do que aconteceu: “temos que ficar atentas, porque às vezes as pessoas abusam da sua boa fé. Por mais que eu volte a amar outro homem, a minha própria vida tem que vir em primeiro lugar” diz. O professor Ailton esclarece que não é legal se violentar por outra pessoa, por maior que seja a vontade de ajudar. “Deve-se respeitar os próprios limites”, afirma. Ele destaca também a importância de perceber que o outro está se esforçando para dar a volta por cima. “Senão, perde o sentido”, conclui. Mesmo quando a intenção é a melhor possível, há situações em que o tiro sai pela culatra. A bancária Miriam de Andrade, de 27 anos, conta que cortou um dobrado no último relacionamento. “A saúde do meu ex era frágil e ele vivia doente. Tinha muita febre e ainda ficava triste por não melhorar”, conta. Mesmo sem diploma, Miriam bancava a enfermeira e ainda enchia o namorado de carinho. “Eu não podia pegar a febre dele pra mim, mas fazia questão de ficar ao lado dele, segurando a mão ou fazendo cafuné para ele se sentir querido”, conta . Além disso, ele estava sempre desanimado e não queria encontrar os amigos. A solução era fazer do ambiente de casa o melhor possível: “Aprendi a jogar videogame, alugava comédias para assistirmos juntos, experimentava receitas novas para o jantar”, diz. Mesmo assim, por iniciativa dele, o namoro acabou. “Ele nunca disse isso, mas acho que os sentimentos foram se misturando e ele passou a me ver somente como amiga”, desabafa. Ela desconfia que o seu ombro virou apenas de amiga e não mais de namorada. A psicóloga Eliane Cotrim explica que, muitas vezes, as mulheres ultrapassam os limites do companheirismo e passam a ter função materna no relacionamento amoroso. “Quando a namorada começa a fazer tudo pelo parceiro é como se tirasse a responsabilidade dele, como fazem as mães”, explica. Essa confusão de funções pode atingir inclusive a vida sexual. “Ele não vai querer transar com a mamãe, né?”, questiona. A psicóloga ressalta que é importante dar a mão apenas como auxílio, mas acreditando e deixando clara a confiança de que o namorado vai conseguir superar os problemas por conta própria.

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