Existem histórias, que se contadas hoje – em pleno terceiro milênio –, dariam a impressão de que saíram do fundo de um baú, daqueles bem antigos. Pois é, boa parte da humanidade acredita piamente que o mundo e as relações entre os seres mudaram. Mas no fundo, principalmente do peito, muitas coisas continuaram quase iguais. Quer um exemplo? O amor. Bom, alguns devem estar pensando que não é bem assim, que os sentimentos também acompanharam a evolução dos costumes... Essas coisas que a Sociologia entende melhor do que nós. No entanto, para quem ainda não criou coragem de se declarar ou que, por motivos de força maior, ama calado, o objeto do desejo continua inatingível. Exatamente como nas histórias antigas.
Na ficção, os estereótipos mais usados para quem ama secretamente são os tímidos e fisicamente desprivilegiados. Mas atire a primeira pedra quem nunca amou calado ou passou a tarde com cara de boba desenhando corações com o nome da figura dentro. A professora universitária Tânia Pereira confessa já ter tido vários amores secretos e se lembra bem da paixão por um professor. “Na minha época, a maioria era professora. Um belo dia, entrou na sala um professor. Me apaixonei no ato. Depois, nas minhas pesquisas, descobri que ele fazia aniversário no mesmo dia que eu e pensei que fosse minha alma gêmea. Mas nunca me declarei”, diz ela.
Algumas paixões secretas viram, praticamente, fantasias. Um bom exemplo para um amor, digamos assim, fora dos padrões recíprocos, é o devotado às celebridades. “Amei o Brad Pitt profundamente, pena que ele nunca soube disso. Com certeza, eu o faria feliz”, acredita a advogada Luciana Braga. Bom, nesse caso, a distância e a vida atribulada do rapaz dificultou que Luciana declarasse seu amor. No entanto, a intimidade e uma agenda mais afinada podem também não ajudar muita coisa. A arquiteta Mariana Vilela, por exemplo, se apaixonou pelo seu ginecologista. “Passei a fazer preventivos de três em três meses. Mas ele era muito respeitador, senti logo que daquele mato não sairia coelho. Então mudei de ginecologista, para uma mulher, claro. Não quero correr esse risco nunca mais”, comenta.
A psicóloga Tereza Cristina Bandeira chama o amor calado de platônico e revela que esse sentimento, quando estimulado, faz com que o objeto do desejo seja cada vez mais idealizado, se tornando impossível. “Em alguns casos, isso acontece devido à autodepreciação”. Em outras palavras, quanto mais enrustido for o amor, mais difícil ele é de ser alcançado. Pois a pessoa, baseada em algum conceito, acha que não merece o amado.
A gerente de marketing Camile Ribeiro afirma ser perdidamente apaixonada pelo melhor amigo do seu ex-marido. E não revela essa paixão, por acreditar que vai gerar uma grande confusão. “Quando o vejo fico muito nervosa, tremo inteira e tenho vontade de pular no pescoço dele e me declarar. Mas já me conscientizei de que o melhor é me conter e esquecer. Poderia estragar uma amizade muito antiga”, explica Camile. E essas histórias, de amigo que ama amiga ou vice-versa, são as mais fáceis de encontrar. A estudante de comunicação Natália Leo conta que foi louca por um melhor amigo, só que preferiu mudar o alvo a colocar fim na cumplicidade de uma amizade. “Achei que valia muito mais ter um amigo perto, do que um ex-caso ou ex-ficante longe”, diz ela.
Amar e se calar não é apenas um segredo. Muitas pessoas não deixam o coração ter a palavra por pura insegurança, puro medo da falta de correspondência. Com isso, podem estar deixando a felicidade escapar. Afinal de contas, quem não arrisca não belisca, (ops!) quer dizer, petisca.
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