Continua se desdobrando mais um escândalo na órbita do Governo Federal, enquanto vão pipocando outros onde menos se esperava. O escândalo em processo de apuração de responsabilidades escondia-se no Ministério da Saúde. Trata-se de um esquema de corrupção que prosperava desde o início dos anos 90 e cuja montagem se atribui ao famoso tesoureiro da campanha de Fernando Collor, PC Farias. Veio à luz graças a uma investigação encomendada pelo ministro da pasta, Humberto Costa, sobre suspeitas de irregularidades em gestões anteriores. Vários envolvidos já estão presos e servidores com cargo de chefia no setor de hemoderivados estão afastados pelo ministro enquanto durarem as investigações. É incrível como um esquema desses pode durar quase 15 anos para só então começar a despertar suspeitas. E não dá para entender como, alegadamente, não há verbas para saúde, educação, infra-estrutura, mas não falta dinheiro para engordar essas arapucas.
Claro que a corrupção no serviço público não é peculiaridade do Brasil (o que não é um consolo). Até nos países desenvolvidos, ela faz estragos. A diferença em relação ao que se passa aqui é que, em países com os da União Européia, nos Estados Unidos, há agilidade e rigor na apuração de responsabilidades, e os envolvidos em crimes de colarinho branco dificilmente escapam de um processo, uma condenação. Há casos de mudança nas regras para proteger graúdos, como já aconteceu, na França e na Itália, para livrar o presidente Jacques Chirac e o premiê Silvio Berlusconi de embaraços. Nos EUA, a Halliburton, que já teve em sua direção o vice-presidente Dick Cheney, continua sendo beneficiada por contratos com o Governo, apesar de suspeitas e acusações de fraudes.
Aqui, no entanto, a impunidade é a norma geral. As leis têm brechas que são exploradas por grandes escritórios de advocacia. Recursos dão liberdade a pessoas comprovadamente corruptas, liberdade que aproveitam, em muitos casos, para fugir do País. Leis mais transparentes e tecnicamente melhores se fazem necessárias para que consigamos tornar a corrupção mais administrável e passível de punição. Esperava-se que, no Governo, o PT, partido que sempre se apresentou como defensor da ética e da moralidade pública, fizesse algo para melhorar essa situação. Não é o que vem acontecendo. Infelizmente, o Governo liderado pelo PT já foi surpreendido, muitas vezes, envolvido em suspeitas, algumas comprovadas, de corrupção, nepotismo, partidarização da administração, obstrução de apurações: caso do impedimento de CPIs, de investigações sobre o assassinato do prefeito Celso Daniel.
São muito estranhos os critérios para a escolha de auxiliares de confiança dos ministros do PT e de partidos aliados, e mesmo para a nomeação de gente do 1º escalão. Lembremos só um caso: o cientista Luiz Pinguelli Rosa foi afastado da presidência da Eletrobrás para ceder o cargo a um político do PMDB que não entende nada de energia elétrica, cujo partido exige mais e mais cargos no Governo. Um homem de confiança do ministro Humberto Costa (esse reconhecidamente uma pessoa honesta), Luiz Cláudio Gomes da Silva, é apontado como chefe da quadrilha das licitações de hemoderivados.
O ministro tem agido corretamente, como dissemos acima, dando todo o apoio às apurações que ele mesmo solicitou e afastando, enquanto durarem as investigações, funcionários graduados ligados ao setor de hemoderivados do MS. Mas, convenhamos, o PT não é aquele ‘colégio de freiras’ que apregoava ser. Há muita gente séria, honesta, honrada, no partido, mas está ficando claro que à sua sombra, sobretudo agora que está no poder, se abrigam mais “Waldomiros” e outros “tipo Luiz Cláudio” do que seria compreensível.
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