O Hospital Municipal Universitário (HMU), parceria da Prefeitura de São Bernardo com a Fundação ABC, realizou a primeira transfusão de sangue intra-uterina da região do ABC. Isso foi possível com a implementação do Programa de Pré-Natal de Alto Risco e da Medicina Fetal, que faz o acompanhamento do feto em todo o seu desenvolvimento, possibilitando o diagnóstico de possíveis doenças que podem ser tratadas ainda no útero da mãe.
Tudo começa quando a futura mamãe tem o fator sanguíneo Rh negativo e não tomou a vacina apropriada, até 72 horas depois do seu primeiro parto, quando o seu bebê tem o sangue RH positivo. Seu segundo filho, ainda em formação, corre um risco sério de vida. Ele pode sofrer um tipo perigoso de anemia que poderá acabar por matá-lo. Para salvar sua vida recorre-se à transfusão intra-uterina, uma técnica delicadíssima.
Foi o caso da mãe Sidnéia Benedita Pereira, que possui sangue RH negativo e Vitor Gabriel, o segundo filho, RH positivo. Quem vê Vitor totalmente saudável e mamando no peito, não imagina que passou por uma gestação de risco. Ele nasceu de 8 meses e meio e com mais de 2,4 quilos, no dia 28 de abril. Neste caso, o feto passou glóbulos vermelhos (hemácias) durante a gravidez para a mãe, que já conhecendo este “corpo estranho” produziu muitos anticorpos que passaram para a placenta.
Estes anticorpos destruíram grande quantidade de glóbulos vermelhos do feto, causando-lhe uma anemia profunda. A suspeita do possível problema começou na Unidade Básica de Saúde, onde Sidnéia fazia os exames pré-natais. A paciente foi encaminhada para o Programa de Pré-Natal de Alto Risco, e lá recebeu acompanhamento com médicos especializados em consultas feitas com intervalos menores e exames mais específicos. Com a realização do teste de sangue chamado Coombs Indireto, que mensura a sensibilização do sangue materno por antígenos fetais, foi confirmado o diagnóstico.
A paciente foi conduzida para o Centro de Medicina Fetal da Faculdade de Medicina no HMU. Lá outros dois exames foram realizados: Teste Coombs Direto comprovou que o sangue do bebê entrou em contato com o da mãe e o ultra-som Doppler mostrou sinais de anemia profunda no feto e a necessidade da transfusão intra-uterina.
Foram feitas duas transfusões, nas quais o feto recebeu sangue tipo O negativo com cuidados especiais. A transfusão intra-uterina é feita do 5º ao 7º mês de gestação, após esse período o parto é realizado e a criança recebe tratamento fora do útero. “O procedimento é delicado e de risco. Mas, era a única chance de vida para esse bebê”, disse o chefe do Centro de Medicina Fetal do HMU e professor responsável da mesma área na Faculdade de Medicina ABC, Guilherme Loureiro Fernandes.
Através da barriga da mãe, o médico introduz uma agulha para atingir o cordão umbilical do feto por onde acontecerá a transfusão sangüínea. Todo o procedimento é monitorado por meio de ultra-sonografia. “As transfusões foram um sucesso e o bebê nasceu forte e sadio com baixa taxa de anemia”, contou Fernandes.
Sidnéia não cabe em si de tanta felicidade porque duas vidas foram salvas: a dela e do filho. “Fui muito bem atendida em todos os setores em que passei, desde as UBSs ao Hospital Municipal Universitário. Sou muito grata a toda a equipe do Centro de Medicina Fetal; sem a transfusão e a competência dos profissionais, meu filho não estaria aqui”, disse.
Segundo Fernandes, esse tipo de procedimento era realizado somente em grandes centros como os da capital paulista. “Hoje, a Faculdade de Medicina ABC é um grande centro de referência em medicina fetal na nossa região. As futuras pacientes não precisam mais sair do ABC para serem tratadas, porque na região já existe um serviço universitário de excelência”, afirmou.
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