Famosa por suas usinas hidrelétricas e por ter sido refúgio do cangaceiro Lampião e de seu bando, a cidade, que já foi cenário do filme “Baile Perfumado”, atrai aventureiros em busca de emoção, adeptos do ecoturismo e turistas que ficam seduzidos pelas belezas do sertão nordestino.
Embora esteja distante 460 km de Salvador, Paulo Afonso tem posição privilegiada -faz divisa com Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Depois da construção das usinas de energia hidrelétrica, que modificaram drasticamente as características do local, a cidade se transformou numa ilha artificial.
Nem fotos nem vídeos, por melhores que sejam, são capazes de revelar a verdadeira beleza das paisagens de Paulo Afonso. O cenário formado pelas águas do rio São Francisco, pelos cânions e pelo céu da cidade merece muitos minutos de admiração.
É justamente diante deste visual que uma série de esportes radicais, ou de aventura, como alguns preferem chamar, são praticados.
Uma ponte metálica com mais de 80 metros de altura sobre o “Velho Chico” serve de base para saltos de bungee jump, base jump e rope swing.
O bondinho de Paulo Afonso, que já foi usado para transportar os funcionários da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), hoje serve de “trampolim” para os praticantes de rapel.
A tirolesa, técnica de escalagem, é montada no Angiquinho. Com um pouco de disposição para “escalar” as rochas da região, o turista pode descer por uma corda e nadar nas águas verdes do rio São Francisco.
Pára-quedismo, trike, rally, motocross, mountain bike e trekking são outras aventuras praticadas na cidade.
Infra-estrutura
Mas para se equiparar a Queenstown, na Nova Zelândia, onde são praticados bungee jump, rafting e base jump, Paulo Afonso ainda tem de se desenvolver e melhorar sua infra-estrutura.
A rede hoteleira da cidade é reduzida, e as opções de alimentação, restritas. Outra coisa que salta aos olhos de quem visita Paulo Afonso é a grande quantidade de lixo espalhada em lugares que deveriam ser preservados, já que a beleza da paisagem local é inquestio-nável. Segundo o prefeito de Paulo Afonso, Paulo Barbosa de Deus, a cidade tem dificuldades quanto à questão da infra-estrutura. “Não recebemos ajuda da Embratur. Sinto que não existe empenho. Precisamos de pessoas de fora [estrangeiros] para investir.”
Quanto ao lixo, que deteriora a bonita imagem da vegetação de caatinga que domina a cidade, o prefeito atribuiu a culpa à Chesf. “O lixo é responsabilidade da Chesf. Se essa área fosse da alçada da prefeitura, não estaria assim”, afirmou.
Bungee Jump
Ligar Paulo Afonso, na Bahia, a Delmiro Gouveia, em Alagoas, não é a única função da ponte metálica Dom Pedro 2º. Sua pista é usada também como “base de lançamento” pelos praticantes do bungee jump, do base jump e do rope swing.
As cordas elásticas usadas no bungee jump são amarradas à ponte. Um guincho, posicionado sobre a ponte metálica, que tem mais de 80 metros de altura, ajuda no resgate dos praticantes. Após montar todo o equipamento e checar as condições de segurança, as equipes que praticam os esportes de ação dão verdadeiros shows.
De uma plataforma de metal posicionada sobre a ponte, os esportistas vestidos com uma “cadeirinha” e presos também pelos pés, saltam em direção ao “Velho Chico”.
Engana-se quem pensa que a única aventura proporcionada pelo bungee jump é pular, abrir os braços e sentir a pressão do vento contra o corpo. Se isso já é mais do que suficiente para os “amadores”, é praticamente uma frustração para os profissionais.
“Quando você salta e não molha o corpo, parece que a missão não está completa”, diz Fabiana Bruno, 27, recordista brasileira de bungee jump e integrante da Equipe Adrena, empresa de consultoria esportiva e uma das principais da modalidade no país.
Pois bem, mergulhar o corpo no rio São Francisco é a meta dos “saltadores” profissionais. Tanto é que sempre que um dos membros da equipe consegue afundar na água, a adrenalina contamina os demais.
Festas
Paulo Afonso tem três grandes eventos anuais. Todos, de diferentes maneiras, são ligados às práticas esportivas.
Em maio acontece o Eco Esportes Radicais, que foi criado para divulgar o potencial da cidade. Desde 1996, os adeptos dos esportes de aventura se reúnem em Paulo Afonso para praticar modalidades como bungee jump, tirolesa, rapel, rope swing, base jump, canyonismo, supercross, pára-quedismo, trike, trekking e jet sky.
Em junho acontece o São João Radical. A idéia de associar a tradicional festa brasileira aos esportes de ação surgiu para diferenciar Paulo Afonso das demais cidades nordestinas e de suas típicas, e já consagradas, festas juninas, como Campina Grande (PB) e Caruaru (PE).
Atrações
Cânions - Em Paulo Afonso, paredões rochosos cercam as águas do rio São Francisco formando um vale, cuja profundidade varia de 30 a 170 metros. Por ter 65 km de comprimento, é considerado um dos maiores cânions navegáveis do mundo. As encostas parecem ter sido esculpidas à mão, tamanho o número de detalhes e relevos presentes na rocha -magmática e metamórfica, de granito, vermelha e cinza. Em volta deste cenário surpreendente e diante de tanta água, mesmo em tempos de seca, a caatinga predomina na região. Num simples passeio, avistam-se calangos e corujas, mas há muitas outras espécies de répteis, aves e insetos. Uma das melhores vistas do cânion de Paulo Afonso é a que se tem sobre a ponte metálica D. Pedro 2º, que liga Bahia e Alagoas por meio da BR-110. É neste local que se pratica o bungee-jump, um dos principais esportes de aventura disponíveis na cidade.
Bonde do Angiquinho - Usado antigamente para transportar os trabalhadores da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), o bondinho hoje tem outras funções em Paulo Afonso: é usado para o turismo e para a prática de rapel (descida em cordas).
Com capacidade para oito pessoas, o bonde liga Paulo Afonso, que fica na margem direita do rio São Francisco, a Delmiro Gouveia, em Alagoas. A 100 metros de altura, percorre 360 metros entre as duas cidades.
A visão aérea permite avistar belos pontos, como a cachoeira de Paulo Afonso, a ponte metálica, a furna do Morcego, onde Lampião se refugiava, e o Salto do Cruatá. O bondinho funciona diariamente das 8h às 17h.
Raso da Catarina - O Raso da Catarina, que está sob fiscalização do Ibama, é uma reserva ecológica que tem 6.400 quilômetros quadrados de extensão. A área é dividida entre reserva biológica e indígena, onde moram os pancararés.
Recoberto pela caatinga, o Raso da Catarina tem clima semelhante aos das áreas desérticas. A temperatura pode chegar a 40ºC durante o dia e a 10º C à noite. O cânion da baixa do Chico, com 12 km de extensão e vegetação nativa, é a região mais visitada. Entre as atrações estão as formações rochosas esculpidas pelo vento, que se assemelham a castelos, torres e bispos do tabuleiro de xadrez. Uma capela natural, onde há um nicho com uma imagem identificada como sendo de Santa Rita, foi esculpida pela erosão eólica. É neste local que se realiza, todos os anos, uma romaria. Os xique-xiques e mandacarus -sempre citados nas músicas que falam do Nordeste-, as coroas-de-frade, os facheiros, as palmatórias e as bromeláceas, como a macambira, e árvores, como o juazeiro, o umbuzeiro, o jatobá e o pereiro são plantas encontradas no local. Aves coloridas e pequenos animais, como o tatu, compõem a fauna.
Segundo a lenda nordestina, Lampião teria se refugiado no Raso da Catarina, onde escondia tesouros e armas.
Cachoeira de Paulo Afonso - As quedas d’água da cachoeira de Paulo Afonso caiam sobre degraus de rocha granítica e desciam mais de 80 metros. No entanto, após a construção das usinas, as quedas d’água que formam a cachoeira foram represadas, e agora a visão que se tem são as rochas polidas pela ação da água. A visitação a essa cachoeira só é permitida com o acompanhamento de guias.
Mirante da cachoeira - Jardins ornamentais de rosas, avencas e árvores ocupam uma área que tem cerca de 80 metros quadrados na Ilha do Urubu. A estátua de bronze do poeta Castro Alves e uma estrofe de seu poema em homenagem à cachoeira -”Espumas Flutuantes”- enfeitam um dos jardins. A visita de D. Pedro 2º, em 1859, também foi homenageada por meio de uma placa de bronze.
Estando no mirante é possível enxergar a “Angiquinho”, primeira usina hidrelétrica construída em 1913. A outra visão que se tem são as quedas d’água da cachoeira de Paulo Afonso, com seus 100 metros de altura, mas apenas em determinadas épocas do ano, quando as comportas da barragem são abertas. O cânion do rio São Francisco também pode ser avistado do mirante.
Prainha - Com dois quilômetros de extensão, a prainha tem areia grossa e clara. A vegetação de caatinga, do tipo arbórea, embeleza o local. É usada para banho e para prática de esportes náuticos. Ilhas com vegetação arbustiva estão no entorno do local.
Usina Piloto - Construída na década de 40 para fornecer energia para a Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), a usina tem vegetação arbustiva e rocha de granito.
Descendo uma escada de 180 degraus, que termina numa cachoeira, chega-se ao acesso da casa de máquina. No entanto, para visitar a usina é necessária autorização prévia da Chesf. A unidade gera 2.000 kw.
Usina Paulo Afonso 1, 2 e 3 - Para aproveitar o desnível do rio São Francisco, as usinas foram construídas na década de 40, mas começaram a ser exploradas comercialmente em 1971.
A cachoeira de Paulo Afonso fica neste local. A PA-1 tem três unidades que produzem 180 mil kw, a PA-2 tem seis unidades e pode gerar 480 mil kw, e a PA-3 tem quatro unidades, com capacidade para produzir 864 mil kw.
Grande parte da energia elétrica consumida no Nordeste vem das usinas de Paulo Afonso.
Usina Paulo Afonso 4 - Uma caverna com 210 metros de extensão, 24 metros de largura e 55 metros de altura pode ser vista na PA-4. Quando foi construída, nas margens do cânion do rio São Francisco, 83 milhões de metros cúbicos de rochas foram escavados.
Sua unidade geradora tem capacidade instalada de 410 mil Kw e 2.460 milhões Kw de potência total.
Usina Apolônio Sales - A Usina Apolônio Sales, chamada em princípio de “Usina Hidrelétrica de Moxotó”, foi construída na década de 70 para garantir o abastecimento de água necessário para manter em funcionamento as demais usinas, já que o consumo de energia elétrica no Nordeste cresceu. Tem potência de 440 mil kw.
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