A política de São Bernardo do Campo foi sacudida hoje por uma operação da Polícia Federal que culminou no afastamento do prefeito Marcelo Lima (Podemos). Batizada de "Estafeta", a ação, que investiga um sofisticado esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, trouxe à tona suspeitas que envolvem a cúpula da administração municipal e têm como ponto de partida a apreensão de uma fortuna em espécie no que a PF classificou como um "bunker de dinheiro".
A operação, que contou com cerca de 70 agentes, cumpriu 20 mandados de busca e apreensão e dois mandados de prisão preventiva em diversas cidades do Grande ABC, incluindo a própria sede da prefeitura. O prefeito Marcelo Lima, eleito em 2024, foi afastado do cargo por um ano e terá de usar tornozeleira eletrônica, além de estar proibido de frequentar o Paço Municipal.
O rastilho de pólvora que detonou a operação foi a apreensão de impressionantes R$ 14 milhões em espécie, entre reais e dólares, na residência de um servidor público municipal em julho deste ano. A partir daí, as investigações da Polícia Federal, em conjunto com o Ministério Público de São Paulo, se aprofundaram e apontaram para uma suposta organização criminosa que atuava dentro da prefeitura. Os indícios são de desvio de dinheiro público por meio de contratos em áreas sensíveis como obras, saúde e coleta de lixo. |
O valor total apreendido na operação de hoje, dia 14, foi de R$ 3.225.552,15 em reais, US$ 3.497,00 em dólares e 10.740 euros. A PF descreveu o servidor cujo imóvel era o "bunker" como um "agente central na arrecadação e distribuição de valores provenientes de diversas empresas que possuem contratos com a prefeitura de São Bernardo do Campo". Além do prefeito, outros nomes de destaque são investigados, incluindo o presidente da Câmara Municipal e dois vereadores, o que demonstra a amplitude do esquema.
Pagamentos eram registrados em planilhas manuscritas - Foto: Reprodução/processo judicial
A cidade de São Bernardo, um dos polos industriais mais importantes do país, se vê agora em meio a uma turbulência política sem precedentes. A gestão municipal emitiu uma nota informando que irá colaborar com as investigações e que os serviços da cidade não serão afetados, mas a crise se aprofunda e levanta sérias dúvidas sobre a transparência e a integridade da administração pública local.
Boleto e comprovante de pagamento de cartão de crédito do prefeito apreendido no 'bunker' - Foto: Reprodução/processo judicial
https://www.terra.com.br/noticias/brasil/politica/pf-achou-fortuna-e-elo-com-prefeito-de-sao-bernardo-em-bunker-de-operador-de-propinas,7be1c4c27629a7c871d02d10851171cfj0u1xlbn.html?utm_source=clipboard
A nova configuração de poder em São Bernardo
Com o afastamento do prefeito Marcelo Lima, a vice-prefeita, Jéssica Cormick, assume o comando do Executivo municipal. Sua posse interina marca uma mudança significativa na liderança da cidade, em um momento de extrema instabilidade. Cormick, que tem formação na Polícia Militar, herda um cenário desafiador, com a cidade sob a lente de uma das maiores operações da Polícia Federal na região.
Cargo
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Nome
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Partido
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Situação em 14/08/2025
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Prefeito
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Marcelo Lima
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Podemos
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Afastado por ordem judicial
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Vice-prefeita
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Jéssica Cormick
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Avante
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Assume o cargo de prefeita interina
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A semana em análise: Tendências, fatores e perspectivas
A semana de 14 de agosto de 2025 será lembrada como um marco na política de São Bernardo do Campo. O deflagrar da Operação "Estafeta" não foi apenas um evento isolado, mas o ápice de um trabalho de investigação que se arrastava há semanas e que agora revela as profundas fissuras na estrutura de poder da cidade. A tendência, neste momento, é de uma completa reconfiguração do cenário político local, com o novo Executivo tendo que lidar com a desconfiança da população e a necessidade urgente de demonstrar transparência.
O fator mais relevante para a crise atual foi a atuação da Polícia Federal e do Ministério Público, que, após a descoberta inicial dos R$ 14 milhões, agiram de forma decisiva para desarticular o que parece ser um complexo esquema de desvios. O uso de tornozeleira eletrônica e o afastamento cautelar do prefeito sinalizam a gravidade das acusações e a solidez das provas apresentadas à Justiça.
As perspectivas para o futuro imediato são de instabilidade. A nova prefeita, Jéssica Cormick, enfrenta o desafio de pacificar o ambiente político, manter a máquina pública funcionando e, ao mesmo tempo, não comprometer as investigações. Sua falta de experiência política, somada ao seu passado na Polícia Militar, coloca-a em uma posição única e cheia de incertezas. A curto prazo, a cidade deve ver a reavaliação de contratos e uma auditoria interna para rastrear os possíveis focos de corrupção. A médio e longo prazo, o impacto da operação pode influenciar diretamente o pleito eleitoral de 2026, com uma forte demanda por candidatos com ficha limpa e histórico de probidade.
Quadro comparativo da ocorrência
Tópico |
Detalhes |
Posição da Justiça |
Operação |
Estafeta |
Ordem para cumprimento de mandados de busca e apreensão, prisões preventivas e medidas cautelares. |
Afastamento do Prefeito |
Marcelo Lima (Podemos) afastado por um ano |
Decisão judicial cautelar do Tribunal de Justiça de São Paulo para evitar interferência nas investigações. |
Medidas cautelares |
Uso de tornozeleira eletrônica e proibição de frequentar a prefeitura |
Determinadas pelo TJ-SP, visando monitorar o investigado e proteger a integridade do processo. |
Investigação |
Suspeita de organização criminosa, corrupção, lavagem de dinheiro |
Inquérito em andamento pela Polícia Federal, com apuração de desvios em contratos municipais. |
Prisões |
Dois mandados de prisão preventiva expedidos |
Um dos alvos, um operador financeiro, está foragido; não há informações sobre o cumprimento do segundo mandado. |
Valores apreendidos |
R$ 3.225.552,15 em reais, US$ 3.497,00 e 10.740 euros |
Valores apreendidos serão periciados e depositados em conta judicial, aguardando desdobramentos do processo. |
Quem é a sargento Jéssica Cormick?
A vice-prefeita tem 38 anos e é sargento da Polícia Militar de São Paulo desde 2005 • Reprodução/Instagram
Sargento reformada da Polícia Militar, Jéssica Cormick, de 47 anos, não é uma figura tradicional no meio político. Sua trajetória é marcada por 25 anos de serviço na corporação, com atuação em batalhões da região do Grande ABC e especialização em gestão de segurança pública. Formada em Direito, ela se elegeu vice-prefeita na chapa de Marcelo Lima com uma plataforma focada em segurança e ordem, defendendo a intensificação do patrulhamento e o uso de tecnologia no combate ao crime.
Apesar da sua pouca experiência política, Cormick conquistou o eleitorado com um discurso direto e combativo, prometendo "limpar a casa" e trazer a disciplina militar para a gestão pública. Sua ascensão à chefia do Executivo, em meio a uma crise sem precedentes, a coloca sob os holofotes e testa sua capacidade de liderança em um dos momentos mais turbulentos da história recente de São Bernardo. A prefeita interina já sinalizou que sua gestão será pautada pela "tolerância zero com a corrupção" e prometeu transparência total nas investigações em curso.
Mais detalhes adicionais sobre Jéssica Cormick
Jéssica Cormick é casada com Éder Munhoz, que também é sargento da Polícia Militar. Os dois se conheceram e trabalharam juntos no 6º Batalhão da corporação na cidade. A prefeita interina é mãe de uma filha, Rafaella, nascida em 2013. A família, incluindo o marido e a filha, acompanhou a entrega de honrarias como o título de "cidadã são-bernardense", evidenciando a proximidade de seu núcleo familiar com sua vida pública.
Natural de São Sebastião, no litoral paulista, ela se mudou para São Bernardo do Campo, onde construiu sua carreira na PM. Atualmente, Cormick busca aprimoramento na área de administração pública, cursando um MBA em Governança Pública. Sua entrada na política, em 2024, marcou seu primeiro cargo eletivo.
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* Com informações das fontes: Polícia Federal, Ministério Público de São Paulo, Tribunal de Justiça de São Paulo, Poder360, Estadão Conteúdo, Agência Brasil e CNN Brasil.
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