A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) entrou no centro da crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos ao ler, neste sábado (12), no Acre, uma carta pública endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na mensagem, Michelle pede que o petista “baixe as armas da provocação” e adote um tom conciliador para tentar reverter a nova tarifa de 50% imposta pelo presidente americano Donald Trump sobre produtos brasileiros.
O gesto da presidente do PL Mulher difere do discurso mais beligerante de setores bolsonaristas, como o do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que culpou diretamente o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, pela sanção americana. Michelle optou por não mencionar a anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro nem o julgamento de Jair Bolsonaro, centrando sua fala em um apelo por diálogo.
"É hora de cessar os tambores de ofensas e hastear a bandeira do diálogo e da paz", afirmou a ex-primeira-dama, ao lado de lideranças locais do PL. No texto lido publicamente, ela lista sete críticas à condução do governo Lula na área internacional e alerta que as sanções econômicas "só foram aplicadas, até hoje, a países reconhecidos como ditaduras". Segundo Michelle, Lula está sendo guiado por "ideologias doentias" e deve parar de "transferir a responsabilidade dos seus atos".
Crise se intensifica
A crise foi deflagrada na quarta-feira (10), quando Donald Trump anunciou a tarifa como resposta ao que chamou de "caça às bruxas" contra Bolsonaro. O ex-presidente brasileiro é réu no Supremo por tentativa de golpe de Estado. Em uma carta publicada na rede Truth Social, Trump atacou diretamente o sistema judicial brasileiro, mencionando também uma suposta “censura” contra as Big Techs americanas como motivação para a medida.
Segundo o republicano, a sobretaxa — válida a partir de 1º de agosto — visa “proteger os direitos fundamentais dos americanos”, citando o que considera uma perseguição política a aliados ideológicos. Além do Brasil, a gestão Trump tem aplicado sanções a países aliados como Canadá, Coreia do Sul e membros da União Europeia.
Resposta do governo brasileiro
Em reação, o presidente Lula afirmou que criará um comitê com empresários brasileiros para repensar a relação comercial com os EUA. A ideia, segundo o governo, é negociar até o último minuto, mas já há medidas de retaliação em estudo, caso a tarifa seja de fato implementada.
Neste domingo (13), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) informou que será editado até terça-feira o decreto que regulamenta a chamada Lei da Reciprocidade, autorizando o Brasil a responder na mesma moeda à tarifa americana.
"Estamos trabalhando para reverter essa decisão, mas o Brasil também precisa estar preparado", declarou Alckmin.
Análise: escalada ideológica ou cálculo político?
Para o analista econômico internacional Eduardo Figueiredo, ouvido pela nossa equipe, o cenário atual reflete uma combinação explosiva de retórica ideológica e interesses eleitorais. “Trump está em campanha e sabe que acenar ao seu eleitorado mais nacionalista pode render votos. A taxação do Brasil é simbólica: atinge um país governado pela esquerda e um ex-aliado dele sendo julgado. Do lado brasileiro, Lula também caminha sobre um fio tênue, entre defender a soberania e evitar prejuízo comercial”, afirma Figueiredo.
Segundo ele, a tentativa de Michelle Bolsonaro de se posicionar como “voz do bom senso” faz parte de uma estratégia de construção de sua imagem política: “Ela tenta se diferenciar da ala mais radical bolsonarista, ocupando um espaço de moderação para o público feminino e evangélico, de olho em 2026”.
Ainda assim, o analista alerta que a tensão pode ter efeitos reais na balança comercial. “Os EUA são o segundo maior destino das exportações brasileiras. Uma sobretaxa de 50% em produtos-chave como aço, carne e soja pode ter impacto direto no PIB e no emprego, especialmente nos estados exportadores.”
“Tarifa-Moraes”: novo capítulo na retórica bolsonarista
Enquanto Michelle buscava o tom conciliador, Eduardo Bolsonaro voltou a mirar em Alexandre de Moraes. Em publicação recente, ele afirmou que Trump entendeu que “o establishment político e judicial brasileiro compactua com a escalada autoritária” e que a tarifa anunciada seria uma espécie de punição coletiva.
"A partir de 1º de agosto, empresas brasileiras que desejarem acessar o maior mercado consumidor do planeta estarão sujeitas à ‘Tarifa-Moraes’" declarou o deputado licenciado.
A declaração evidencia o quanto o embate entre Judiciário e bolsonarismo transbordou as fronteiras nacionais e agora começa a afetar diretamente as relações diplomáticas e comerciais.
Próximos passos
Com o prazo de implementação da tarifa se aproximando, os próximos dias serão decisivos para o governo brasileiro. Entre a retórica combativa e a diplomacia silenciosa, Lula terá que equilibrar pressões internas e externas para proteger a economia brasileira sem ampliar o conflito com os EUA — em um cenário de incertezas eleitorais, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
Carta no Íntegra
A SITUAÇÃO ATUAL DO BRASIL E AS SANÇÕES AMERICANAS
1. Presidente Lula, esse tipo de sanção, até hoje, só foi aplicada a países reconhecidos como ditaduras. O Brasil vive um período muito difícil com relação aos direitos fundamentais. Há uma ditadura disfarçada de democracia! Os ditadores agem como uma cobra traiçoeira que se enrola devagar e sufoca a sua vítima. Quando ela percebe, é tarde demais!
2. Lula, você precisa parar de se guiar por ideologias doentias e pelo desejo de vingança. É preciso governar para obter o que é melhor para o povo e para o Brasil. Chega de ódio e de irresponsabilidade.
3. Lula, pare com as suas provocações em seus atos e palavras. O Brasil não precisa de discursos cheios de raiva; o nosso povo precisa cuidado e de um governo responsável. Abandone as perseguições e comece a trabalhar pela unidade e pela verdadeira liberdade do nosso povo. Dá tempo!
4. Lula, você precisa parar de transferir a responsabilidade dos seus atos, apontando culpados para desviar a atenção das pessoas. É tempo de assumir os erros, de se arrepender, de pensar no povo e tentar salvar o que ainda é possível salvar para o bem do país inteiro.
5. Lula, chegou a hora de baixar as armas! Você precisa deixar o seu desejo de vingança de lado. Você precisa parar de se juntar aos movimentos terroristas e aos ditadores. A imagem de um Brasil pacífico e de progresso está destruída porque você está se juntando a essas pessoas e arrastando o Brasil para o buraco!
6. Presidente Lula, o senhor tem a oportunidade de evitar essas sanções! Não queira imitar Cuba e Venezuela. Veja como o povo desses países sofrem! Não queremos isso para o nosso amado Brasil.
7. Lula, pelo bem do Brasil e dos brasileiros, abandone essa tendência ditatorial e pense no bem do nosso amado povo, das nossas famílias. Comece, agora, a corrigir os graves erros do seu governo. Ainda é tempo!
8. O Brasil está assistindo e esperando um gesto de lucidez que realmente possa trazer paz ao nosso país. É hora de BAIXAR AS ARMAS DA PROVOCAÇÃO; CESSAR OS TAMBORES DE OFENSAS e HASTEAR A BANDEIRA DO DIÁLOGO E DA PAZ.
Todo poder vem de Deus, mas ai daquele que o usa para oprimir os inocentes!
Que Deus abençoe o amado povo brasileiro!
* Com informações de fontes:
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Jornal O Globo (edição de 13/07/2025)
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Truth Social / Donald J. Trump
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Análise exclusiva de Eduardo Figueiredo, economista internacional
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Declarações públicas de Michelle e Eduardo Bolsonaro
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Governo Federal (pronunciamento oficial de Geraldo Alckmin)