Desemprego, um tema que infelizmente não sai de pauta. Ao longo de sua história, o Brasil tem enfrentado situações muito difíceis para seu povo, principalmente pela falta de garra de nossos governantes para defender nossos interesses, não se limitando a copiar modelos externos ditados pelos países que já se desenvolveram e vivem em outro mundo, de economia consolidada. Já desapareceram postos de trabalho em conseqüência da depressão iniciada em 1929 nos Estados Unidos. Mas a população do Brasil era então um quinto da atual. Também houve grande desemprego na chamada década perdida dos anos 80 do século passado. O que nunca vivemos foi uma conjuntura de falta de trabalho tão ampla, perversa, prolongada, como a que assola o País há uns dez anos, se agravando sempre mais.
A taxa nacional de desemprego atingiu 13%, superior às piores da Europa. Na Grande São Paulo, chega a quase 20% (ali, um quinto da população economicamente ativa está desempregada, índice assustador). E trata-se da região mais desenvolvida e próspera do País. Nordestinos que migraram para lá, fugindo da seca, da indústria da seca e da falta de trabalho decente nas grandes cidades, estão fazendo o caminho de volta. E o pior é que, quando chegam de volta à terra natal, a perspectiva é a mesma: desemprego, fechamento de indústrias e outros negócios. Praticamente, o único negócio que não sofre crise é a sólida e secular indústria da seca.
O mundo desenvolvido também sofre desemprego, o que o faz restringir drasticamente a imigração originária dos países pobres. Mas age mais rapidamente para combatê-lo e adota políticas eficazes de geração de empregos. A Alemanha e a França padecem desemprego e queda da produção desde os choques do petróleo dos anos 70. Na França, o índice de desemprego é de 9,3%, na Alemanha, de 10%. Mesmo nos EUA, símbolo da prosperidade capitalista e do progresso, o desemprego chega a 6% (antes dos atentados de 11.09.2001, a taxa era de 4%). Como lembra o diplomata Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e atualmente secretário-geral da Unctad (órgão das Nações Unidas para comércio e desenvolvimento), trata-se da maior contração do emprego no setor privado estadunidense desde a grande depressão causada pelo crash da Bolsa de Nova Iorque em 1929. Mas, como observamos, os países ricos são mais rápidos e competentes no combate a esse mal.
Os milhares de empregos prometidos pelos candidatos a presidente da República na campanha do ano passado (inclusive pelo vitorioso Luiz Inácio Lula da Silva) eram, ao que tudo indica, pura retórica, pois o desemprego só faz crescer desde janeiro. Continua em vigor a mesma política econômica praticada durante oito anos pelo governo passado, de freio ao desenvolvimento e de geração de superávits primários, uma política que fez com que a nossa produção industrial seja hoje igual ao que era dez anos atrás. Os otimistas acham que o controle da inflação, mais um tímido início de queda da taxa básica de juros do Banco Central, podem abrir as portas para um maior crescimento e sinalizar, finalmente, as mudanças substanciais prometidas, que o eleitorado ainda não viu.
Mas há também quem acredite (seriam pessimistas ou realistas?) que o Brasil só voltará a crescer daqui a quatro anos, e somente se adotar uma moratória negociada com o FMI e credores. Robert Brenner, da Universidade da Califórnia, e o internacionalmente respeitado Celso Furtado aconselham isso, como única possibilidade de superar uma crise que vem de longe. O americano considera “suicida” a política econômica de Lula e garante que, com moratória, nossas relações com o capital financeiro provavelmente se tornariam mais saudáveis. A idéia merece discussão.
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