Esperança ou medo?

 

Opinião - 17/02/2003 - 10:58:44

 

Esperança ou medo?

 

William Dib (*) .

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Na inflação e na guerra, a esperança ainda não venceu o medo. A frase, dita em tom de brincadeira pelo coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe, revela, senão a surpresa, ao menos a tensão com que foi recebida a variação de 2,19% do custo de vida na Grande São Paulo apurada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe/USP). Na mesma direção, o Índice do Custo de Vida (ICV), apurado mensalmente na mesma base territorial pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) registrou alta de 0,53 ponto percentual em relação ao resultado de dezembro de 2002 e uma elevação ainda maior ¾ de 1,86 ponto percentual ¾ sobre a variação de janeiro de 2002. A preocupação das autoridades econômicas é plenamente justificável. Depois de uma intensa pressão inflacionária vivida ao longo de 2002, de uma escalada de preços ¾ sobretudo nas tarifas públicas, serviços e alimentação ¾ nos primeiros dias de 2003, o País ainda aguarda com pessimismo os efeitos econômicos de um iminente conflito no Golfo Pérsico cuja consumação certamente pressionará o preço internacional do petróleo e, em conseqüência, afetará a nossa frágil estabilidade. Os efeitos de uma moeda instável são velhos conhecidos da sociedade brasileira: perda do poder de compra, insegurança monetária, falta de condições de planejamento e de crescimento, volta da ciranda financeira, recessão. Desnecessário dizer que tal ônus recai principalmente sobre a massa de trabalhadores assalariados que vê o desequilíbrio crescente entre o valor nominal e o valor real de seus proventos e sobre o pequeno e médio empresário, que não consegue planejar a médio e longo prazo suas estratégias de mercado. Sobre a administração pública municipal, asseguro que o efeito da inflação não é menos catastrófico. Um governo ágil e de resultados como o de São Bernardo não prescinde de uma rigorosa atividade planejadora. Grande parte das obras e programas sociais que executamos ao longo dos últimos seis anos foi sensivelmente favorecida pelo ambiente de estabilidade econômica que o País conquistou nos últimos anos. Numa explosão inflacionária há uma evidente pressão sobre os indexadores dos contratos, tanto os de prestação de serviços e execução de obras como os de rolagem de dívida. Muitas vezes o governo federal é obrigado a alterar o indexador. Na prática, esse expediente significa mudar os termos contratuais. Embora as autoridades do Tesouro ressaltem a intenção de não mudar os indexadores ¾ posição, aliás, bastante saudável ¾ o fato é que no descontrole dos preços, a opção do “salve-se quem puder” pode facilmente sepultar boas intenções dos técnicos da área econômica. A variação dos preços de insumos pode incompatibilizar a prestação de serviços e execução de obras com o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. Entre uma alternativa e outra, ficamos com a última. Diante da nossa impotência frente à crise, dificilmente a esperança vencerá o medo. (*) William Dib é prefeito em exercício de São Bernardo do Campo

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