Um político, que se acha “rei”, resolve usar seu “trono”, como se estivesse num vaso, como diria os mais antigos. Acontece que de dejetos, nossos dias andam cheios e os eleitores reagiram imediatamente e foram às ruas protestar por seus direitos e por abusos cometidos.
O maior problema dos discursos egocêntricos está justamente no fato de que são surdos e cegos, se a direção é diferente da que ele acredita e defende. E em como faz essa “defesa”. O misticismo que envolve a cadeira de político eleito é usado de acordo com a conveniência, mas ele mora justamente na entrega, no talento, no que está ali previamente.
Antes da vaidade, da arrogância e da ambição.
Quem é, não se proclama ser. Não precisa. O político que se coloca acima da lei que supostamente está defendendo perde muito com isso, a meu ver. Elimina a possibilidade de aprender e compartilhar, toda vez que tem o privilégio de estar eleito. Temos muito que fazer para melhorar essa relação. Somos democráticos, estamos a serviço da constituição.
A realeza está em se colocar humildemente como um servo do eleitor. Deixar que a democracia, nossa real rainha, nossa deusa, aja sobre nós. Sem misticismo tolo e mergulhados ao mesmo tempo de corpo e alma, nesse nobre ofício que é de representar um povo, uma nação.
Existe sim o glamour, o incenso, a idealização, a paparicação, mas o segredo óbvio é não acreditar ou deixar subir à cabeça. Esses lugares de confete são rodízios de momentos superficiais. Não que sejam todos falsos, mas são fumaça, fazem parte, mas não sustentam eleições ou reeleições, não nos dão a real consistência, para merecermos os votos, a vitória.
Nosso suor está nas campanhas, no discurso, nas viagens, na dedicação, no amor fiel ao que se defende, na bandeira de uma candidatura.
O discurso muitas vezes surtado, que podemos ouvir na rede, proferido depois nos bastidores dos corredores palacianos, foi gravado maldosamente por alguém próximo e dá até um mal-estar na alma. Esse ódio desmedido e improdutivo, que experimentamos hoje em dia, que não é bom nem para a direita, nem para a esquerda, não ajuda o presente, não contribui para o futuro, é só um exercício burro, de poder agressivo.
Não gira, não roda, paralisa o fluxo do pensar.
A certeza de que a plateia se renderia unânime mostra o autoritarismo de sua atitude e a falta de companheirismo com seus colegas de mandato.
Vejo a intolerância resvalando por onde menos se esperava. Aqueles que dizem que o ódio é destilado na direita, destilam ódio constante em comentários nas redes sociais ou em discursos sem nexo na defesa do indefensável. Muitas vezes ouço palavras de ordem e ódio, ele é rei, rei da maledicência, mas traído por suas próprias palavras, ficando acuado e procurando saídas ou jeitinhos de burlar a lei que defende ou já defendeu.
O fato é que sois rei apenas das próprias atitudes, são elas que reinam por todos nós, pobres mortais diante de reis que se endeusam ou se colocam como.
É chegado o momento de novos retratos das obtusas palavras queimadas pela inflexão do ódio e de falsos palanques. Quem sabe defender pensamentos não precisa sair vociferando, babando verde e botando o dedo na cara de quem escolhe outra direção pra olhar. E ser político não significa ser necessariamente transgressor, arrojado, conservador ou um deus, mas o momento é de sermos melhores e mais respeitosos com e como cidadãos. Afinal, nem todos carregam as mesmas bandeiras, mas todos choram e se arrepiam apenas por uma, o pendão nacional!
* Vicente Barone é analista político, editor chefe do Grupo @HORA de Comunicação, esteve à frente de diversas campanhas eleitorais como consultor político e de marketing, foi executivo de marketing em empresas nacionais e multinacionais, palestrante nacional e internacional para temas de marketing social, cultural, esportivo e de trasnporte coletivo, além de ministrar aulas como professor na área para 3º e 4º graus - www.barone.adm.br