Chegou, talvez, a hora de se fazer um outro levantamento nacional das obras públicas paralisadas no nosso País. Em 1995, o então senador Carlos Wilson Campos divulgou um relatório conclusivo revelando que elas eram, na época, 2.214. Não se sabe quantas foram concluídas. Feitos os cálculos dos prejuízos causados pelo abandono de trabalhos em execução, os membros da Comissão Temporária de Obras Inacabadas chegaram à espetacular cifra de R$ 15 bilhões. É um alto volume de dinheiro do contribuinte, desperdiçado por falta de continuidade governamental. Os congressistas tentaram computar os prejuízos advindos da deterioração do material estocado, inclusive pelo saque, e os reajustes contratuais pela demora. Mas a isso se pode acrescentar a redução drástica nas encomendas e, sobretudo, na oferta de emprego, direto e indireto. Com os sucessivos contingenciamentos dos repasses orçamentários, tanto no decorrer de todo o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso quanto nos sete primeiros meses de presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, tudo indica que os dados apontados no levantamento parlamentar de 1995 tenham se agravado, e o número de obras paradas crescido mais ainda. Bem que o atual governante máximo do País deseja melhorar tal situação, e para isso vem fazendo sucessivas reuniões com seus ministros. Existe até uma relação de “obras prioritárias e emergenciais”. Mas, do Planejamento, Guido Mantega, já avisou que, até o fim deste ano, não haverá novas liberações de verbas do Orçamento, além dos R$ 4,3 bilhões já autorizados, menos de um terço dos R$ 14,1 programados. A diferença, de mais de dez bilhões, deverá ajudar a compor o chamado superávit primário, para pagamento de juros da dívida pública. Do pouco que será utilizado ainda este ano, na área dos transportes, para citar um exemplo dos mais expressivos, o ministro Anderson Adauto fala em umas poucas rodovias e alguns portos considerados fundamentais para o setor exportador, como o de Santos, em São Paulo, Paranaguá, no Paraná, Itaqui, em Santa Catarina, e também Suape, em Pernambuco. O ministro Ciro Gomes, da Integração Nacional, acrescentou, porém, que havia obtido recursos imediatos, em sua pasta, para o Porto de Itaqui, no Ceará. Quanto a Suape, só acenou com a possibilidade de novas verbas, em sua pasta, para o próximo ano. Recente reportagem deste jornal ofereceu uma imagem realista dos efeitos negativos que a falta de recursos, somada a certas irregularidades contratuais detectadas pelo TCU, vem causando ao desenvolvimento econômico de Pernambuco. Depois da mais recente rodada de negociações do presidente Lula com seus ministros, para composição das obras urgentes, o titular da Integração Nacional citou também as barragens do Castanhão, no Ceará, e a de Jucazinho, em Pernambuco, como as próximas a serem beneficiadas. Esta última, que levará água de Surubim para Caruaru e daí para Gravatá e Bezerros, depende ainda de R$ 9,1 milhões da União. Como seria de esperar, parlamentares da oposição ao governo Federal criticam os cortes de verbas, que vem atrasando, entre outros, o prolongamento da BR-232, no trecho projetado de Caruaru a São Caetano, bem como a continuação de melhoramentos na BR-408. Lembram, também, a tão retardada Adutora do Oeste, que já tem concluído o seu eixo central de 157 km, mas vem deixando de atender 80 mil pessoas por falta de R$ 1,6 milhão, para construir duas subestações de energia elétrica, ainda que a obra já esteja levando água para 160 mil sertanejos. Felizmente, em meio a tantas dificuldades, a complementação do terminal de passageiro do Aeroporto dos Guararapes está garantida pela Infraero, dirigida coincidentemente pelo ex-senador Wilson Campos, o presidente daquela comissão que levantou o número de obras públicas paralisadas no Brasil.
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