Um promotor federal argentino pediu na quinta-feira a prisão de 38 militares acusados de violar os direitos humanos durante a ditadura que governou o país entre 1976 e 1983, disse na quinta-feira uma fonte da Justiça.
O pedido é a primeira ação decorrente da reabertura de processos, que foram retomados após a anulação no Congresso de leis de anistia que tinham deixado milhares de militares acusados de crimes contra a humanidade fora do alcance da Justiça.
O promotor Eduardo Freiler pediu a prisão do ex-general Guillermo Suárez Mason e dos agentes civis de inteligência Raúl Guglielminetti e Eduardo Ruffo, entre outros supostos ex-represores. O pedido foi feito devido a um processo que investiga o papel do Corpo I do Exército durante a chamada "guerra suja", durante a qual morreram até 30.000 pessoas que se opunham à ditadura.
A juíza federal María Romilda Servini de Cubría, responsável pelo processo, deve decidir agora se aceita ou não o pedido de prisão.
Os envolvidos haviam sido processados e foram amparados no final da década de 1980 por leis de perdão aprovadas pelo Congresso, que acabaram interrompendo os julgamentos de milhares de militares.
Mas há duas semanas essas leis foram anuladas, graças ao impulso dado pelo presidente Néstor Kirchner, que lançou uma campanha para que os culpados por esses crimes sejam julgados. Com a anulação, os processos foram reabertos.
Esta semana o ministro da Defesa, José Pampuro, estimou que se todas as causas arquivadas forem retomadas, "uns 2 mil militares, quase todos na reserva, podem ser julgados novamente, mas também poderia ser citado algum da ativa".
Durante a ditadura cerca de 30.000 pessoas -- algumas fontes militares afirmam que o número não supera os 9.000-- teriam sido sequestradas, torturadas e assassinadas pelas forças de segurança.
Os corpos de muitos foram jogados no rio da Prata ou enterrados em valas comuns por todo o país.
De acordo com a Justiça argentina, muitos opositores -- entre os quais haveria guerrilheiros, sindicalistas, estudantes, docentes e outros profissionais -- foram torturados com descarga elétrica e maltratados com métodos atrozes. Alguns setores da sociedade acreditam que o governo de Kirchner, que se propôs a punir os que violaram os direitos humanos, está fazendo ressurgir velhos antagonismos e conflitos que já estavam esquecidos na Argentina.
"Os familiares de desaparecidos e a sociedade continuam pedindo justiça. Não é remexer no passado, mas é o mesmo pedido de justiça que vem sendo feito há muitos anos", afirmou recentemente à Reuters Carolina Varsky, advogada do grupo de direitos humanos Centro de Estudos Legais e Sociais.
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