O acordo que libera os países pobres para importarem medicamentos genéricos contra a Aids e outras doenças não vai funcionar se esses países não melhorarem seus sistemas públicos de saúde, disse na segunda-feira o novo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Lee Jong-Wook elogiou o acordo anunciado no sábado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), mas fez ressalvas. "Se todo o dinheiro e todos os medicamentos estiverem disponíveis hoje, isso não vai resolver o problema, porque eles não poderão ser entregues", disse Lee em Johanesburgo, na abertura do encontro regional da OMS na África, o continente mais atingido pela Aids no mundo.
"Simplesmente não há médicos, enfermeiros e infra-estrutura suficientes. É muito enganador dizer que é a falta de medicamentos que está fazendo a crise se agravar."
Um porta-voz da OMS disse que o acordo sobre os genéricos não significa que automaticamente haverá remédios baratos para todos, mas Lee disse que a decisão é um passo correto.
"Quero ser otimista. Trata-se de uma notícia boa, positiva. Há muitas condições ligadas [ao acordo], mas podemos resolvê-las uma a uma", disse Lee à Reuters.
O acordo, muito criticado por ativistas da área, pode levar os países pobres a fazerem pesados investimentos em administração e medidas legais para poderem receber os medicamentos genéricos, que não pagam direitos de patente às indústrias.
Apesar disso, o acordo foi recebido com festa por países africanos, nos quais milhões de pessoas morrem por ano de Aids, malária e turbeculose.
Ainda na segunda-feira, a OMS pediu aos países-membros da OMC que coloquem o plano em prática rapidamente. A OMS afirmou que o impacto dessa medida só será sentido se os países puderem usar o mecanismo de forma efetiva.
"Dada a urgência das necessidades de saúde nos países mais pobres, o trabalho de implementar esse acordo deve começar o mais rápido possível", disse a OMS, órgão da ONU, em uma nota oficial.
O acordo tem cláusulas que garantem aos laboratórios que a exportação de genéricos não trará lucros para países que os fabricam, como o Brasil e a Índia.
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