Um inquérito realizado em Israel advertiu a polícia do país pelo assassinato de 13 árabes, ocorrido há três anos, mas não recomendou nenhuma ação contra o então primeiro-ministro Ehud Barak. Os palestinos disseram que o inquérito gera impunidade.
O relatório divulgado pela chamada Comissão Or, nomeada pelo governo para investigar as mortes de outubro de 2000, cria uma nova crise entre árabes e judeus.
Os três membros da comissão, todos juízes da Suprema Corte, culparam líderes de ambos os lados pelos incidentes, mas não chegaram a pedir punições para ninguém. Isso abre caminho para a ressurreição política de Barak, derrotado nas urnas em 2001 pelo hoje primeiro-ministro Ariel Sharon.
"Lamentamos que a comissão tenha se deixado levar por considerações políticas", disse Shawki Khatib, presidente do comitê de monitoramento árabe-israelense.
A comissão apontou a existência de preconceito contra os árabes na polícia, recomendou a demissão de vários chefes policiais e sugeriu que outros sejam impedidos de ocupar cargos de destaque.
O relatório também considerou irresponsável o uso de munição verdadeira contra manifestantes palestinos que costumam fazer protestos jogando pedras.
Por outro lado, o texto acusa os líderes da minoria árabe do país de incitar ao conflito na região da Galiléia, no norte de Israel.
Segundo juristas, o relatório pode servir de base para ações civis. Indignadas, as famílias das vítimas prometem seguir adiante.
"Vejo isso como o primeiro estágio em um longo processo para trazer os responsáveis pelo assassinato de nossos filhos à Justiça", disse Hassan Asalla, cujo filho, Asil, foi morto pela polícia.
A comissão criticou o trabalhista Barak por ter feito comentários na época que teriam sido vistos como um sinal verde para que a polícia reprimisse as manifestações com violência. Naquela ocasião, Barak tentava salvar as negociações com os palestinos, o que não ocorreu.
"Na qualidade de primeiro-ministro, o sr. Barak não estava suficientemente atento e ciente do que estava acontecendo no setor árabe, o que criou a possibilidade de que tumultos generalizados surgissem", disse o relatório, sem no entanto recomendar qualquer sanção contra ele.
Por outro lado, o texto recomenda que o então ministro da Segurança Interna, Shlomo Ben-Ami, seja proibido de ocupar cargos importantes no futuro. Hoje, Ben-Ami dedica-se à carreira acadêmica.
"Barak saiu quase limpo. Ele deveria ter sido duramente censurado, pelo menos, e proibido de retornar à política", disse Asalla.
Alguns árabes tornaram-se cidadãos de Israel quando esse país foi criado, em 1948, num território até então sob controle britânico. Eles hoje formam 18 por cento da população e se dizem discriminados.
A comunidade árabe de Israel é solidária à causa palestina, mas normalmente não se envolve na violência. Os três anos da atual intifada (rebelião), porém, alimentaram a desconfiança entre judeus e árabes do país.
O ministro da Justiça, Yosef Lapid, disse à Rádio Israel que esperava que o inquérito fosse "encerrar esse capítulo, não abrir uma nova disputa".
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