A França disse na segunda-feira que as famílias de 170 pessoas mortas em um atentado aéreo de 1989 estão perto de fechar um acordo de indenização com a Líbia, o que permitiria à ONU derrubar rapidamente as sanções que pesam contra o país da África.
O chanceler francês, Dominique de Villepin, disse que a assinatura do acordo é iminente e que, com ela, a França vai retirar a ameaça de vetar o fim das sanções à Líbia, impostas após outro atentado aéreo, o de 1988, contra um avião da Pan Am que sobrevoava a Escócia. "A base para um acordo foi encontrada, resta que seja finalizado, e é isso que vai acontecer nas próximas horas", disse Villepin à rádio RFI.
Ele não divulgou detalhes do acordo, mas afirmou que as indenizações serão pagas aos parentes de todas as vítimas que estavam a bordo do avião da empresa francesa UTA, que explodiu sobre o Níger.
Villepin disse que, firmado o acordo, seu país não vai se opor à proposta britânica de suspender as sanções à Líbia. "Sempre dissemos que apoiamos o princípio da suspensão das sanções."
Na noite de segunda-feira (à tarde, no Brasil), um representante das famílias disse que o acordo ainda não havia sido fechado, mas que ele permanecia confiante quanto à conclusão das negociações, que são feitas com uma fundação privada dirigida por Saif Al Islam, filho do líder líbio, Muammar Gaddafi.
"Ainda estamos em contato, falamos ao telefone com a fundação várias vezes hoje. Mas infelizmente o acordo não foi concluído", disse Guillaume Denoix de Saint Marc, por telefone. "Ainda restam alguns detalhes. Espero que não leve muito tempo."
A ONU já suspendeu provisoriamente as sanções à Líbia em 1999, de modo que a nova resolução não vai ter impacto prático, especialmente porque os Estados Unidos prometeram manter suas próprias sanções, que incluem a proibição da importação de petróleo líbio.
Já a Grã-Bretanha tomou a decisão de propor o fim definitivo das sanções em agosto, depois que Trípoli aceitou pagar 2,7 bilhões de dólares às famílias das 270 pessoas mortas no atentado de Lockerbie.
Há quatro anos, a Líbia pagou 34 milhões de dólares, depois que o tribunal de Paris condenou seis líbios pelo segundo atentado, inclusive um cunhado de Gaddafi. Todos eles foram julgados à revelia.
VALORES DIFERENTES
A França disse que vai impedir qualquer nova resolução da ONU até que os parentes das vítimas do atentado do Níger recebam uma soma mais elevada. Isso pode criar um novo confronto no Conselho de Segurança da ONU, onde a França já entrou em choque com os Estados Unidos neste ano, por causa da guerra no Iraque.
Uma fonte próxima ao governo líbio disse à Reuters que Trípoli ofereceu uma indenização extra de 300 mil dólares por família.
Falando a seu país no domingo, Gaddafi disse que o presidente francês, Jacques Chirac, havia telefonado a ele pedindo indenizações maiores aos parentes dos passageiros mortos no avião da UTA.
"Chirac me telefonou pedindo uma solução para o problema a respeito da indenização, dizendo que ele está constrangido pelas famílias das vítimas que lhe perguntaram por que as vítimas francesas receberam menos dinheiro que as norte-americanas [no caso Lockerbie]", disse Gaddafi.
"Compreendo a posição do presidente francês, que pediu uma solução humana e amistosa", afirmou ele, no aniversário do golpe de Estado que o levou ao poder, 34 anos atrás. "Estamos abrindo uma nova página nas nossas relações com o Ocidente."
Ele repetiu que a Líbia não teve nenhum envolvimento nos atentados da Escócia e do Níger, e afirmou que seu país foi responsabilizado por ambos os incidentes devido a disputas que mantinha nas décadas de 1970 e 80 com a França e os Estados Unidos.
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