Para analistas, baixo investimento ameaça crescimento robusto

 

Economia - 29/08/2003 - 22:13:06

 

Para analistas, baixo investimento ameaça crescimento robusto

 

Da Redação com Reuters

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

A economia brasileira mergulhou em recessão e parece ter atingido o fundo do poço no segundo trimestre. Embora apostem numa melhora, analistas se perguntam o quanto será possível crescer no médio e longo prazo com um nível tão baixo de investimentos. A formação bruta de capital fixo ou o investimento em máquinas e equipamentos e na construção civil --um elemento importante do crescimento-- despencou 9,0 por cento no segundo trimestre em relação a igual período de 2002, de acordo com os dados do PIB divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira. Economistas apostam numa retomada gradual da atividade com a injeção de ânimo dada pela redução dos juros a partir de junho, especialmente no final do ano. Num primeiro momento, para atender a um aumento da demanda doméstica, basta aproveitar a capacidade instalada já existente. Mas para que a retomada transforme-se em crescimento de fato e fôlego duradouro, só com mais investimentos produtivos. "Sem investimento, o crescimento fica limitado a algo perto de 3,0 por cento (ao ano) e abaixo de seu potencial", disse Armando Castelar Pinheiro, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Com as altas taxas de juros e a queda dramática do consumo, as indústrias não tiveram estímulo algum para investir em seus negócios e aumentar sua capacidade. De acordo com as estatísticas do PIB, a atividade industrial caiu 3,6 por cento no segundo trimestre na comparação com o mesmo período de 2002, o que explica a forte ociosidade da indústria. SUCESSIVAS CRISES Nos últimos anos, o Brasil foi abalado por seguidas crises que levaram a economia a entrar em um ritmo de "stop and go". Crescimento a taxas robustas, acima de 10 por cento, ocorreu pela última vez na década de 1970. A estimativa de economistas é que a economia se recupere gradativamente, encerrando o ano com um crescimento tímido, um pouco acima de 1,0 por cento, para no ano seguinte expandir-se em torno de 3,0 por cento. Em 2002, o desempenho da economia também foi pífio, de apenas 1,5 por cento. Taxa acima de 4,0 por cento só em 2000. Pinheiro disse que um pouco de crescimento será fundamental para convencer empresários a voltar a investir e gerar empregos. "O investimento também depende do crescimento, porque o empresário investe na perspectiva de expansão", explicou. Em julho, antes de o Banco Central promover o corte mais agressivo de juros em quatro anos, o empresariado mostrou-se avesso a investir. Numa sondagem da Fundação Getúlio Vargas (FGV) com 423 empresas que divulgaram planos de investimentos nos últimos anos, os valores previstos para investimento em 2003 eram praticamente idênticos aos de 2002, um ano de pouco dinamismo por causa da forte desvalorização do real em meio à tensão eleitoral. Os únicos setores que destoam deste quadro são os voltados para o mercado externo e que, portanto, já têm sua capacidade praticamente esgotada como papel e celulose e siderúrgico. Quem depende primordialmente do mercado interno está promovendo apenas investimentos essenciais. "Na atual situação de retração do mercado, os investimentos têm sido o mínimo para manutenção da operação e na área de marketing e produtos", disse Paulo Saab, presidente da Eletros, que reúne os fabricantes de eletroeletrônicos. "Com o mercado retomando, as empresas deverão voltar a olhar os investimentos com uma perspectiva mais positiva." Para Francisco Pessoa Faria, economista senior da LCA Consultores, o governo federal precisa fazer a sua parte para estimular a volta dos investimentos privados, adotando regras claras nos setores que dependem de regulação, recuperar a infra-estrutura para evitar novos racionamentos de energia e avançar nas reformas estruturais como a previdenciária e tributária. "O que ele pode fazer é demarcar melhor o marco regulatório... se por um lado, o governo está mostrando seriedade no combate à inflação e na preservação da estabilidade, por outro, está patinando na regulamentação", disse ele. Outro fator que favorece os investimentos é um ambiente macroeconômico estável. Para o diretor-geral da Klabin, principal empresa brasileira no setor de embalagens, a queda do risco-país para abaixo dos 700 pontos, por exemplo, "é muito importante", porque sinaliza uma melhora do sentimento em relação ao Brasil no exterior.

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