Recessão. Palavra feia quando se trata de economia, desenvolvimento. Mas ela voltou com insistência ao nosso vocabulário econômico, às reportagens da mídia, a artigos e análises de especialistas. E não precisa ser economista para enxergá-la; ela é visível a olho nu. O consumidor comum a sente em sua vida. Vai ao shopping center só para passear; não tem coragem de entrar nas lojas para sair triste, sem condições de satisfazer seus impulsos de consumo, ou simples necessidades. Se ainda tem a sorte de estar empregado, sente um calafrio quando vê a queda do consumo, casas comerciais e indústrias fechando suas portas. Poderá ser a próxima vítima. Para a classe média financeiramente decadente fica mais distante o sonho da casa própria, do carro, de bons cursos para os filhos. A indústria automobilística, a grande locomotiva da industrialização e do desenvolvimento, nos anos 50, 60, do século passado, está demitindo centenas de operários. O desemprego subiu 2,5% no primeiro semestre deste ano. O País registra deflação pelo quarto mês consecutivo, sinal claro de que a recessão não é apenas retórica.
Diante desse quadro, os responsáveis pela produção, que são os empresários, vêm, através de seus líderes, cobrando do Governo medidas capazas de reaquecer a economia, relançar um processo de desenvolvimento que seja sustentável, e não sujeito a todo tipo de crise, seja asiática, russa, mexicana, ou brasileira mesmo. Os ortodoxos, fiéis à cartilha do FMI, tantas vezes desautorizada, sobretudo nas receitas que tem passado para os países da América Latina, ameaçam com a volta descontrolada da inflação caso se mude o rumo da economia prosseguido há mais de oito anos. Os que se opõem a essa camisa de força coercitiva, e agora abertamente recessiva, que tolhe o vôo do País para paragens mais altas, receitam em vão (pelo menos até o momento) queda substancial das taxas de juros, racionalização dos tributos, liberação de verbas contingenciadas pelo Govermo para que possam ser retomadas obras, que geram emprego, progresso, restituindo otimismo ao povo.
O Governo dá mostras de querer atender aos agentes do desenvolvimento e aos que pregam a imediata adoção de políticas de geração de emprego e renda, de fortalecimento da poupança e do consumo internos, única maneira de livrar-nos de uma dependência excessiva de investimentos e financiamentos externos que tolhem nossa autonomia. Até agora, nada feito. Continua ‘tudo como dantes no quartel de Abrantes’, com algumas conseqüências da política recessiva se agravando. O que o Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncia que fará, ninguém sabe quando, é a aceleração de projetos públicos de infra-estrutura, é a finalização de projetos abandonados, para criar postos de trabalho e perspectivas de crescimento dos setores produtivos privados. O BNDES, ilha de idéias desenvolvimentistas num governo comandado pela Fazenda, tem plano de investimentos de R$ 400 bilhões em quatro anos. Energia, habitação popular, saneamento, transporte, habitação popular, assentamentos rurais, seriam as áreas prioritárias do governo Lula.
A inclusão das duas últimas indica a preocupação oficial com a possibilidade de o País parar: nas cidades, com as invasões de imóveis e depredações; na zona rural, com ações orquestradas e destrutivas contra propriedades agropecuárias rentáveis e órgãos de pesquisa do Estado. Por enquanto, são nítidos os sintomas de recessão, em que o economista Paulo Nogueira Batista Jr., da Fundação Getúlio Vargas, vê risco de sério agravamento “se ficarmos na dependência da ortodoxia primitiva da Fazenda e do Banco Central”. Certo, evidente, é que o governo precisa tomar medidas imediatas para desengessar a produção, o progresso sustentável do Brasil.
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