Em meio à crise persistente que afeta o desempenho da economia brasileira, o setor agropecuário, e sobretudo a agricultura, se destacam quanto ao dinamismo na produção e na capacidade de exportar. Apesar do protecionismo da União Européia e dos Estados Unidos à agricultura deles, pesadamente subsidiada, o Brasil tem conseguido aumentar o volume e o valor de suas exportações nesse setor, pois também comercia com outras regiões do mundo. Por que o agronegócio avançou, enquanto outros setores da economia acionavam os freios, pressionados pelo custo do crédito, a verdadeira guerra fiscal contra a produção, entre outros fatores? Certamente uma explicação para isso está em que o ex-ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, conseguiu, nos três últimos anos do Governo FHC, vencer a área financeira comandada pelo ministro Pedro Malan (Fazenda), apesar de sua blindagem contra projetos desenvolvimentistas.
A mudança de Governo não provocou retrocesso no setor, pois o novo ministro da Agricultura, o agrônomo Roberto Rodrigues, sem alarde e sem nenhuma exposição na mídia, ao contrário do exagerado exibicionismo de boa parte do primeiro escalão do Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, consegue furar a blindagem da atual equipe econômica, que prossegue amarrando a produção e o consumo. Rodrigues é um técnico de reconhecida competência, respeitado, e mantém o agronegócio em ascensão sem precisar atritar-se com colegas do Governo Lula.
Ele obteve a anuência do Ministério da Fazenda para o seu Plano Agrícola e Pecuário 2003-2004, que dispõe de recursos de R$ 32,5 bilhões (contra R$ 27 bilhões da safra passada), com juros de 8,75% em suas linhas de crédito e melhora no seguro agrícola. Esse esforço concentrado inteligente teve como resultado que, após uma estagnação da produção em 80 milhões de toneladas, até o começo do segundo mandato de FHC, o setor pulou para 100 milhões de toneladas na safra 2000-2001, atingindo 115 milhões na última safra e equilibrando o comércio externo, como comemorava recentemente o deputado Delfim Netto, que foi ministro do Planejamento, da Fazenda e da Agricultura em tempos mais amenos para a economia brasileira.
Diante da competência e desempenho desses dois ministros, não se pode deixar de lembrar a nuvem que paira sobre o setor, com a crescente desordem promovida pelo MST e movimentos similares, que tentam, por todos os meios, deter o progresso da agropecuária nacional, através de contínuas provocações, invasões de propriedades produtivas, depredações que não poupam sequer órgãos de pesquisa do Governo. Eles já provaram que não querem reforma agrária, e sim eliminação da propriedade privada e volta a uma agricultura de subsistência que não tem mais sentido no estágio atual da economia rural.
É lamentável a complacência do Governo Lula com esses grupos anacrônicos, ao colocar no Ministério da Reforma Agrária e no Incra gente afinada com o programa anárquico dos sem-terra. Até agora, o avanço do agronegócio não foi afetado pela pretensão de transformar o Brasil num imenso Arraial de Canudos, sob a liderança do autoproclamado sucessor de Antônio Conselheiro, José Raínha. Mas isso pode mudar. Outro líder, João Pedro Stedile, já declarou guerra aos produtores rurais. Percebendo que tinha ido longe demais, culpou a imprensa... Um assentamento rural, mesmo tecnicamente organizado, só terá uma produção de subsistência, autoconsumo, sem relevância em termos de agronegócio, abastecimento das populações urbanas, que são a maioria, de exportação. Enquanto isso, a Embrapa está sendo sucateada por falta de verbas, e outros órgãos são alvo de investidas dos sem-terra.
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