O senador Delcídio do Amaral falou em delação premiada sobre a existência de um esquema de financiamento de campanhas eleitorais em troca de repasses do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Ele explicou ainda que Luciano Coutinho, presidente do principal instrumento do governo para investimentos na economia do país, sinalizava “de uma forma sutil” a aprovação de financiamento do banco de fomento obrigando grandes empresas a fazerem doações para campanhas eleitorais.
“Nas reuniões com Luciano Coutinho, este, de maneira muito sutil, muito elegante, afirma que estão tramitando os pedidos das empresas e aparece com outra conversa: nos ajudem, nos apoiem”, afirmou Delcídio em delação homologada nesta terça-feira (15).
Além disso, ele disse que Odebrecht, OAS e Andrade Guiterrez são pragmáticas, e, em função de seus interesses, “financiam pessoas que vão proporcionar as ações que vão de encontro aos seus planos de negócio”.
O senador, no entanto, afirma que não presenciou as conversas com Luciano Coutinho e não sabe “se houve alguma concretude”. Ele indicou ainda que "a república cai" se empreiteiras fizerem delação.
Filho de Bumlai acionou Delcídio para fazer lobby em favor dos Bertin
Em delação, senador diz que Mauricio Bumlai o procurou para perdoar dívida com a Aneel
Em seu termo de colaboração, o senador petista Delcídio do Amaral citou, sem dar detalhes, o papel do pecuarista José Carlos Bumlai na liberação de recursos do BNDES para empresas do setor de frigoríficos, como JBS Friboi, Marfrig e Bertin.
Essa questão das frigoríficas abriu espaço para que Delcídio descrevesse um episódio envolvendo os Bertin – esse, sim, no qual esteve diretamente envolvido. Segundo Delcídio, a atuação de Bumlai em favor dos Bertin extrapolava o campo de um simples facilitador de empréstimos. A empresa fundada por uma tradicional família de Lins, no interior de São Paulo, passou para o ramo de energia depois de vender seu braço frigorífico para a JBS. Os Bertin arremataram uma série de usinas termelétricas em leilões de energia realizados em 2008, mas não conseguiram concluir as obras no tempo previsto, o que acarretou multa de mais de R$ 6 bilhões com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Delcídio, que conhece a família Bumlai de longa data, por serem da mesma região sulmatogrossense, foi procurado pelo filho do pecuarista, Maurício Bumlai, para interceder em favor dos Bertin no perdão da dívida com a Aneel. Maurício ofereceu R$ 1 milhão pelos serviços do senador. Delcídio contou aos procuradores que não foi bem-sucedido. A Aneel divulgou nota na segunda-feira afirmando que as dívidas e atrasos dos Bertin resultaram em prejuízo de R$ 1,41 bilhão aos consumidores.
BNDES
Em nota enviada à imprensa, o BNDES esclarece que qualquer processo de concessão de crédito por parte do banco é baseado exclusivamente nas boas práticas bancárias, com critérios impessoais e técnicos.
"Todas as ações, tanto do banco quanto de seu presidente, sempre foram pautadas pela lisura e pelo estrito cumprimento pleno das disposições legais e regras da própria instituição", explicou o banco de fomento, acrescentando que rechaça insinuações de que tenha concedido vantagem ou sofrido influência indevida de quem quer que seja para conceder apoio financeiro a qualquer empresa.
"Os financiamentos do BNDES passam por dezenas de técnicos e órgãos colegiados, e não existem operações secretas no banco: todos os financiamentos, nacionais e internacionais, estão disponíveis para consulta pela internet por qualquer cidadão. Em consequência deste rigor, o BNDES tem a menor taxa de inadimplência do Sistema Financeiro Nacional, público ou privado".
Nota do BNDES sobre delação do senador
Em relação à delação do senador Delcidio do Amaral, disponibilizada hoje pela Justiça, o BNDES esclarece que qualquer processo de concessão de crédito por parte do Banco é baseado exclusivamente nas boas práticas bancárias, com critérios impessoais e técnicos.
Todas as ações, tanto do Banco quanto de seu presidente, sempre foram pautadas pela lisura e pelo estrito cumprimento pleno das disposições legais e regras da própria instituição.
O BNDES rechaça insinuações de que tenha concedido vantagem ou sofrido influência indevida de quem quer que seja para conceder apoio financeiro a qualquer empresa. Os financiamentos do BNDES passam por dezenas de técnicos e órgãos colegiados, e não existem operações secretas no Banco: todos os financiamentos, nacionais e internacionais, estão disponíveis para consulta pela internet por qualquer cidadão. Em consequência deste rigor, o BNDES tem a menor taxa de inadimplência do Sistema Financeiro Nacional, público ou privado.