A presidente Dilma Rousseff disse nesta segunda-feira não acreditar que haja um processo de "ruptura institucional" no Brasil e, além disso, criticou a intervenção russa na Síria. Ela rejeitou, no entanto, dialogar com o grupo extremista autodenominado "Estado Islâmico": "Eles cortam gargantas".
As declarações foram dadas durante pronunciamento conjunto de Dilma com o primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven.
Questionada por uma jornalista sueca se a turbulência política enfrentada por seu governo poderia colocar em risco o acordo entre o Brasil e a Suécia para a compra de 36 caças Gripen NG, adquiridos em outubro do ano passado por cerca de US$ 4,7 bilhões em valores atualizados (quase R$ 18 bilhões na cotação atual), Dilma disse que não existe risco de uma "crise política mais acentuada".
"Não acredito que a crise possa ter um impacto sobre os contratos dos Gripen. O problema do Brasil é uma crise conjuntural, que está sendo enfrentada. Asseguro que o Brasil está em busca de uma estabilidade política e não acredito que haja um processo de ruptura institucional", afirmou.
Dilma lembrou que tanto a Europa quanto os Estados Unidos passaram por uma "grave crise" em 2008 "de proporções bastante fortes e profundas".
"(Naquela ocasião), houve um processo de recuperação e todos os contratos foram mantidos. Não vejo nenhuma razão para que isso não ocorra no Brasil, que tem uma economia estruturalmente sólida", afirmou. "Somos uma democracia e temos um Legislativo, Judiciário e Executivo, independentes que funcionam com autonomia, mas também em harmonia. Não acreditamos que haja nenhum risco de crise política mais acentuada."
'Estado Islâmico'
Dilma também criticou a intervenção russa na Síria. A presidente voltou a cobrar uma solução diplomática para o conflito no país, mas rejeitou dialogar com o grupo autodenominado "Estado Islâmico". Ela e o premiê sueco discutiram a crise na Síria durante reunião a portas fechadas antes do pronunciamento.
"Acreditamos que certos conflitos têm de ser resolvidos de forma predominantemente diplomática. Mas não acho que (ao) invadir e bombardear um país, (tudo) estará resolvido. Este é o problema que cerca a intervenção russa, baseada no fato de estar se protegendo do 'Estado Islâmico'. Não acredito numa solução militar para o conflito sírio", disse.
"Não tem conversa com o 'Estado Islâmico'. O 'Estado Islâmico' não participa de negociação. Eles cortam gargantas. Aí, você tem de combater com armas."
Segundo Dilma, a solução para o conflito sírio passaria pelas "grandes potências" internacionais.
"Não é com o 'Estado Islâmico' que temos de conversar. É preciso uma solução via grandes potências. Não é necessariamente pura e simplesmente soltar bombas lá (Síria). O que estamos vendo são refugiados saindo e nenhuma solução chegando", afirmou. "Estados Unidos e Rússia têm de dar o primeiro passo."
Mercosul
Dilma falou ainda sobre o acordo comercial entre Mercosul e a União Europeia. Segundo a presidente, as trocas de ofertas serão apresentadas ainda neste ano, no final de novembro.
"Somos muito otimistas em relação a esse acordo. Achamos que, do ponto de vista do Mercosul, ele (acordo) está pronto para ser assinado. E acreditamos que do ponto de vista da União Europeia, os sinais são bem positivos".
O acordo entre o Mercosul e a União Europeia se arrasta há anos, em especial pela dificuldade de consenso entre os países-membros de ambos os blocos econômicos.
Dilma está em viagem oficial pela Suécia, aonde chegou no último sábado. Nesta tarde, ela visita a sede da fábrica da sueca Saab, fabricante dos caças Gripen, em Linköping, a 200 quilômetros da capital da Suécia, Estocolmo.
No início da noite, ela viaja à Finlândia onde na terça-feira se encontra com o presidente e o primeiro-ministro do país. A presidente retorna ao Brasil na noite de terça-feira.