Mais de dois milhões protestam contra Dilma no Brasil

 

Politica - 15/03/2015 - 22:55:20

 

Mais de dois milhões protestam contra Dilma no Brasil

 

Da Redação com AFP

Foto(s): Divulgação / Arquivo / Fotos Públicas

 

Em São Paulo, protesto ocorre na Avenida Paulista

Em São Paulo, protesto ocorre na Avenida Paulista

Mais de 2,3 milhões de brasileiros protestaram neste domingo de forma pacífica em todo o país contra a presidente Dilma Rousseff, que enfrenta um complexo coquetel de tensão social, polícia e econômica derivado de grandes escândalos de corrupção como a Petrobras.

O maior protesto foi registrado em São Paulo, que reuniu um milhão de pessoas, segundo a polícia, vestidas em sua maioria com as cores da bandeira brasileira.

As manifestações também congregaram outros quase um milhão de pessoas em 83 cidades, em protestos que igualaram em tamanho os realizados em junho de 2013, quando os brasileiros saíram espontaneamente às ruas para pedir o fim da corrupção e mais gastos com transportes, saúde e educação, no lugar de investimento do dinheiro público na Copa do Mundo.

Grande parte dos manifestantes exigiu, neste domingo, o "impeachment" da presidente, que começou seu mandato há menos de três meses depois de ser reeleita em outubro por uma pequena margem de 3% e com cerca de 1/3 dos votos totais.

Muitos também pedem a intervenção militar para acabar com mais de 12 anos de governo de esquerda do PT, um paradoxo em um dia em que se comemora, justamente, os 30 anos da volta da democracia ao Brasil após a longa ditadura iniciada em 1964.

 



Era praticamente impossível caminhar entre a multidão que lotou os 4 km da Avenida Paulista. Nesse primeiro grande encontro (poderão haver mais), quem foi para as ruas, diferentemente do último dia 13 quando a CUT, o MST e o PT articularam uma pequena manifestação, as pessoas confeccionaram seus próprio cartazes e, em muitos, podia-se ler "Eu vim de graça", em alusão aos valores pagos, os ônibus fretados e aos lanches distribuídos na sexta-feira.

"Hoje, somos milhares de pessoas que pedem o 'impeachment'. O governo está numa situação lamentável", declarou à AFP Rubens Nunes, assessor jurídico do Movimento Brasil Livre, um dos grupos que organizaram o protesto pelas redes sociais.

Os protestos também são muito maiores do que aqueles convocados na sexta-feira em apoio à Dilma e à Petrobras por sindicatos e movimentos sociais ligados ao PT. Segundo os organizadores, 175 mil pessoas foram às ruas na sexta, e 33 mil, de acordo com a polícia.

Entre 45 mil e 50 mil pessoas também marcharam até o Congresso, em Brasília, entre eles o empresário de construção civil Alessandro Braga, de 37 anos, acompanhado da mulher e do filho pequeno em um carrinho.

"Apoio a saída de Dilma. Os maiores escândalos de corrupção ocorreram durante seu governo, e ela não disse nada", argumentou.

O cansaço com a corrupção revelada parece ser o denominador comum dos manifestantes, embora as demandas variem, indo de um golpe militar até a proteção do Aquífero Guarani.

"O Brasil está sendo destruído. Apenas as Forças Armadas podem salvar o país", afirmou a fisioterapeuta Ana Paula do Valle, de 52 anos.

 



Já avenida Atlântica, em Copacabana, foi tomada por cerca de 30 mil pessoas - segundo a polícia - aos gritos de "Fora Dilma, fora PT!" e, assim como aconteceu em muitas cidades, os manifestantes cantaram o Hino Nacional.

A produtora de TV, Rita Souza, de 50 anos, exibia um cartaz com as palavras "Intervenção militar já".

"Não estou pedindo um novo golpe de Estado, e sim uma intervenção constitucional para convocar novas eleições limpas, sem urna eletrônica, sem manipulação do PT. Que vão todos para Cuba!", declarou.

A popularidade de Dilma caiu 19 pontos em fevereiro, ficando em 23%, e a presidente sabe que a situação é complicada. Rumores de uma nova pesquisa apontam para uma queda maior ainda neste último mês de março.

A economia cresceu muito pouco nos últimos quatro anos e está estagnada, há déficit de contas públicas, da balança comercial e inflação elevada (7,7%, em 12 meses), e o real se desvalorizou quase 30% em um ano.

O governo promove um ajuste fiscal para pôr a casa em ordem, mas isso não é aprovado por uma parte da esquerda.

Diversos analistas apontam para medidas erradas tomadas por Levy e que poderão mergulhar o país em uma crise nunca vista antes. "As medidas do ministro Levy são equivocadas e favorecem somente os bancos. A produção e o trabalho vão morrer neste rumo", diz o empresário e economista formado pela USP Lauro Martins.

A isso tudo se soma ainda a tensão política e a incerteza causadas pelo enorme esquema de corrupção envolvendo a Petrobras. Dezenas de políticos - incluindo 22 deputados, 13 senadores e dois governadores - são investigados por suposto envolvimento. A maioria pertence ao PT, ao PMDB ou a partidos que integram a coalizão do governo.

Dilma defendeu o direito de manifestação livre em um vídeo postado em seu Facebook. Há alguns dias, ela lembrou que não é possível realizar um terceiro turno das eleições, pois isso representaria uma "ruptura democrática".

As manifestações para protestar contra a corrupção na Petrobras e o governo Dilma Rousseff ultrapassaram em tamanho os protestos de rua espontâneos de junho de 2013 para pedir o fim da corrupção na classe política e mais gastos em educação e saúde.

Pressionado, governo retoma promessa de pacote anticorrupção

Pressionado pelas manifestações em todo o País, o governo disse que vai apresentar nos próximos dias um pacote de medidas contra a corrupção e a impunidade, uma promessa de campanha da presidente Dilma Rousseff. Em entrevista coletiva, os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria Geral), manifestaram vontade do Palácio do Planalto em dialogar com toda a sociedade e negaram fragilidade no governo.

Na esteira do escândalo de corrupção na Petrobras, a presidente Dilma Rousseff anunciou durante sua campanha eleitoral um pacote de medidas, que previa a criminalização do caixa dois de campanha eleitoral, a punição de agentes públicos que não comprovam o aumento de patrimônio e a agilização de processos contra políticos com foro privilegiado.

Cardozo disse que a presidente Dilma Rousseff prometeu para seis meses o pacote anticorrupção em seu discurso de posse, já que o tema exige um estudo complexo da viabilidade jurídica das medidas. Mas, sem dar detalhes, sinalizou que vai apressar as medidas.

Em uma entrevista coletiva que durou quase uma hora, o ministro da Justiça reconheceu a legitimidade das manifestações deste domingo, que foram pacíficas, e se colocou à disposição de ouvir as vozes das ruas.

“Um país que demorou tantos anos para conquistar sua democracia e tem princípios claros em sua constituição, assegura, e continuará a assegurar a liberdade de manifestação e a liberdade de opinião. O Brasil está muito longe de golpismos”, disse.

Para ele, ficou claro que tanto simpatizantes do governo quanto críticos querem combater a corrupção e a impunidade. “Seja nas manifestações que ocorreram na ultima sexta-feira ou hoje, há um encontro de identidade. É o desejo de combate firme e rigoroso à corrupção e a impunidade”, disse. Mas, Cardozo, evitou tocar no maior grito que ocupou as ruas no domingo, o "Fora Dilma" e o "Fora PT".

Os auxiliares de Dilma deixaram claro que pretendem dialogar e levar em conta propostas de parlamentares oposicionistas. "Há um momento que temos de ser maiores que as nossas divergências. Há um momento que a sociedade clama contra a impunidade. Para isso, é necessário sentarmos com aliados e com a oposição", afirmou Cardozo.

Como vindo de outro planeta, sem qualquer conexão com o que ocorre na Terra, o responsável por fazer a interlocução do Palácio do Planalto com a sociedade civil, Miguel Rossetto voltou a abordar a tese do governo de que as manifestações de hoje vieram de pessoas “que não votaram” em Dilma, demonstrando que a sociedade civil que lhe interessa são somentes os representantes que falam pela "cartilha" do partido ou aos seus interesses. E, ainda, subiu o tom contra o que o Executivo tem considerado “terceiro turno”. “As manifestações são legitimas, o que não é legitimo e que deve ser condenado é o golpismo, a intolerância, o impeachment infundado que atinge a democracia”, disse.

Ayres Brito, ex-ministro e ex-presidente do STF, disse que as manifestações são legítimas e a liberdade de expressão também, porém, ao seu ver, ainda não há, nesses três meses de mandato de Dilma, algo que possa ser utilizado como base para o pedido de impeachement, mas não descartou a possibilidade de haver mais provas que virão à tona com as novas investigações. "Temos de aguardar o desenrolar das investigações para termos mais dados sobre o que aconteceu e que ainda estaria acontecendo e que poderia envolver a presidente durante esse novo mandato", disse Ayres.

Panelaços

Informados de que a entrevista era acompanhada por panelaços de cidadãos contrários ao governo Dilma, os ministros mantiveram o discurso do respeito aos protestos pacíficos. "Não é porque uma manifestação é contra ou crítica ao governo Dilma Rousseff que nós vamos desrespeitá-la. Nós temos que dialogar com todos, nosso governo é para 200 milhões de brasileiros. Isso é democracia, e nós temos um governo profundamente democrático", disse.

 

Fora Dilma - SP - 15/03/2015

 

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