O que estava camuflado, agora, pode se tornar lei. O Senado Federal aprovou o projeto que permite diferenciar compras à vista de compras realizadas pelo cartão de crédito. Acredito que esta decisão contribui para o processo de transparência junto ao consumidor final, isto porque já é conhecido por todos que, ao realizar compras com dinheiro, cheques ou cartão de débito, por exemplo, é possível obter bons descontos e, quando se utiliza cartão de crédito, existe o repasse do custo dessa operação, taxas e juros embutidos diretamente no preço final do produto. Em um momento de retração do mercado, essa decisão só preocupa ainda mais o comércio de forma geral. Sem dúvida, quem paga essa conta é, mais uma vez, o consumidor final. Como educador e terapeuta financeiro, ressalto a importância dos consumidores investirem na reeducação financeira; é preciso aprender cada dia mais a utilização consciente do dinheiro ganho e gasto. Com essa mudança, ficou ainda mais evidente que, quem poupar para comprar à vista, pode, além de se beneficiar com preços sem taxas cobradas pelo cartão de crédito, ter a possibilidade de conseguir descontos e, com isso, poder poupar mais para realizar o que realmente importa: os sonhos. Isso é educação financeira, adquiri novos hábitos e costumes, que levem ao domínio das finanças, com o intuito de alcançar objetivos.
Contudo, também se terá uma melhor noção do que significa uma compra no cartão. É preciso, definitivamente, entender que, quando se compra pelo cartão de crédito, a pessoa está realizando uma compra a prazo, assim como comprar para pagamento por meio de boletos, carnês e crediários. Comprar a prazo e fazer prestações não é um problema, a preocupação, na verdade, é quando essa prática começa a ser descontrolada, fazendo com que o consumidor perca o controle e se endivide mais do que pode, chegando ao desequilíbrio e à inadimplência. Os maiores desafios, em caso de o projeto ser aprovado, serão: por parte do Governo, é estabelecer bem claramente as regras referentes ao tema, até mesmo as tributárias, para que não ocorram abusos por parte das empresas e também para que não ocorram erros de entendimento da população. Para as empresas, será fazer uma análise sobre o real retorno nas vendas da cobrança dessa taxa e, quando optarem pelas mesmas, os cálculos para que tenham o retorno, além da adequação dos preços para as compras à vista. Aos consumidores, os desafios são relacionados à educação financeira, aprender a realizar melhores compras e planejar melhor. Uma pessoa que cria o hábito de comprar sempre a prazo, acaba, ao longo de sua vida, gastando, em média, 30% a mais em tudo que adquire. Pense nisso e reveja seus hábitos e orçamento financeiro, pois a grande deficiência dos brasileiros está exatamente na ausência de consciência em relação à utilização do sagrado dinheiro ganho. Assim, como falei, o impacto ao consumidor será direto, com aumento nos preços nas compras realizadas com cartões de crédito. Mas é importante lembrar que o a população já paga anuidade e outras taxas referentes a essa ferramenta, sem contar que o rotativo é extremamente alto, ocasionando desequilíbrio financeiro. Para que possa entender o impacto no bolso do trabalhador: pagando 5% a mais de taxa em cada compra, a cada 20 compras do mesmo valor, é possível adquirir mais um produto de igual valor, isto é, se comprar 20 produtos de R$100,00 com o cartão de crédito, terá gasto a mais outros R$100,00. Assim, o interessante é, mais do que nunca, poupar e comprar à vista e ainda obter descontos. Isso mostra como é fundamental que se utilize essa possível alteração para que incentivemos ainda mais a busca pela educação financeira, pregando a utilização do consumo consciente. Para finalizar chamo a atenção sobre o parcelamento. Grande parte das pessoas optam por pagar suas compras em 2, 5, 10 ou até mais vezes. E essas prestações já se encontram com juros embutidos, afinal de contas, quem emprestaria dinheiro a uma pessoa desconhecida para que ela pagasse a prazo e sem juros? Ninguém, muito menos o banco, pois esse é justamente o negócio dele. Portanto, todo cuidado é pouco. Perguntas que o consumidor deve se fazer antes de qualquer compra - Eu realmente preciso desse produto?
- O que ele vai trazer de benefício para a minha vida?
- Se eu não comprar isso hoje, o que acontecerá?
- Estou comprando por necessidade real ou movido por outro sentimento, como carência ou baixa autoestima?
- Estou comprando por mim ou influenciado por outra pessoa ou por propaganda sedutora?
Se mesmo diante deste questionamento, a pessoa concluir que realmente precisa comprar o produto, seria prudente fazer mais algumas perguntas como: - De quanto eu disponho efetivamente para gastar?
- Tenho o dinheiro para comprar à vista?
- Precisarei comprar a prazo e pagar juros?
- Tenho o valor referente a uma parcela, mas o terei daqui a três, seis ou doze meses?
- Preciso do modelo mais sofisticado, ou um básico, mais em conta, atenderia perfeitamente à minha necessidade?
* Reinaldo Domingos é educador e terapeuta financeiro, presidente da DSOP Educação Financeira, Abefin e Editora DSOP, autor do best-seller Terapia Financeira, dos lançamentos Papo Empreendedor e Sabedoria Financeira, entre outras obras.
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